Levantamento também indica que os consumidores aderiram à tendência de trade-down como forma de reduzir gastos
Mais de 30% da renda dos brasileiros tem sido destinada ao pagamento de dívidas. Essa é a estratégia para quitar débitos usada por 44% dos entrevistados no Consumer Sentiment Brazil 2017, pesquisa realizada pelo BCG (The Boston Consulting Group) há quase uma década e que ouviu, nesta edição, 2.060 consumidores no país. Segundo o BCG, o resultado desse cenário é uma notável resistência dos brasileiros em continuar gastando no mesmo ritmo que antes da crise.
De acordo com a consultoria, os planos de cortar gastos discricionários atingiram os níveis históricos mais elevados, com 76% dos brasileiros determinados a gastar menos este ano. Além disso, 76% dos entrevistados também demonstraram intenção de cortar do orçamento itens desnecessários e 81% disseram que iriam prestar mais atenção a promoções. “O número de entrevistados que recorreram a mudanças em seus hábitos de compra como medida de economia tem aumentado consistentemente ao longo dos anos, atingindo um pico na pesquisa deste ano”, diz Daniel Azevedo, sócio do BCG e autor do levantamento, que reflete o sentimento público neste novo cenário e seus efeitos no consumo varejista nacional.
À medida em que os níveis de consumo continuam a cair drasticamente, a percepção de frequência de compras em lojas de varejo também parece estar sofrendo. Em comparação com o ano anterior, diz a pesquisa, consumidores comprando alimentos relataram visitar supermercados de desconto (hard discounters) mais frequentemente e comprar menos em hipermercados e supermercados tradicionais. “Nossa pesquisa aponta que 46% dos consumidores afirmam ter comprado mais itens promocionais em 2016 que em 2015, e 48% esperam comprar ainda mais desses itens este ano”, aponta Azevedo, ressaltando que promoções de vendas podem servir como principais alavancas de negócios para os varejistas.
Trade-down: o caminho para reduzir gastos
Segundo o levantamento, o atual cenário brasileiro manteve os níveis do fenômeno de trade-down tão altos quanto em 2015: 60% dos consumidores estão dispostos a realizar trade-down para alimentos, e 66% estão dispostos a fazer o mesmo para produtos não alimentícios. “A maior diferença observada desde a última pesquisa foi na região Norte/Centro-Oeste, onde o crescimento econômico, em grande parte devido ao setor de agronegócio de exportação, levou a região a reduzir significativamente o trade-down e aumentar o trade-up”, explica Azevedo. “Contrariamente, a região Sul agora lidera as taxas nacionais mais altas de trade-down e as mais baixas de trade-up.
A pesquisa indica que, no setor alimentício, produtos menos saudáveis têm sofrido forte trade-down por diversos anos, enquanto alimentos saudáveis parecem menos ameaçados. “A tendência de alimentação saudável está mais forte do que nunca: observamos um maior trade-up para alimentos frescos, naturais, orgânicos e os ‘superalimentos’, e forte trade-down para alimentação fora do lar, doces, petiscos e alimentos processados (ex. enlatados, congelados)”, afirma Daniel.
O desejo por bem-estar também aparece nas vendas de produtos não alimentícios. De acordo com o estudo, produtos de bem-estar intangíveis como viagens, férias, ou de cuidados pessoais e domiciliares (beleza, fitness e higiene) permanecem bem menos afetados por trade-down que os produtos tangíveis, como entretenimento (revistas, brinquedos e compras em viagens), e acessórios de beleza (produtos de luxo e acessórios de vestuário). “A conclusão a que chegamos é que, dado este significativo trade-down e a busca constante por maneiras de reduzir gastos, os consumidores se tornaram incrivelmente sensíveis a preços”, finaliza Azevedo.
O estudo completo está disponível no link: http://bit.ly/2Cjz5aR
Fonte: Segs