Cerca de 146 milhões de pessoas fazem alguma atividade não remunerada em 2017, 7 milhões a mais em um ano. Número de homens dedicados a afazeres domésticos cresceu mais que o de mulheres.
Enquanto o mercado de trabalho brasileiro atingiu os piores indicadores dos últimos anos em 2017, o país viu aumentar em 7 milhões o número de pessoas envolvidas em formas de trabalho não remunerado. É o que aponta uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
São quatro formas de trabalho não remunerado investigadas pelo instituto:
- produção para próprio consumo;
- cuidados de pessoas;
- afazeres domésticos;
- trabalho voluntário.
“Houve um aumento generalizado de todas essas outras formas de trabalho”, afirmou a analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Alessandra Brito.
A pesquisa mostra que, somadas as quatro formas de trabalho, em 2017 havia 146,3 milhões de pessoas se dedicando a pelo menos uma delas. No ano anterior este número era de 139,2 milhões. O aumento ocorreu em todas as grandes regiões do país.
O levantamento aponta que dentre as 7 milhões de pessoas que passaram a se dedicar ao trabalho não remunerado, 3,7 milhões tinham alguma ocupação no mercado, enquanto as outras 3,3 milhões estavam desocupadas. Além disso, revela que 4,4 milhões eram homens e 2,6 milhões mulheres.
Dentre as quatro formas de trabalho, a que mais registrou aumento na participação foi a de afazeres domésticos. Foram 6,8 milhões de pessoas a mais se dedicando a essas atividades, das quais 4,3 milhões eram homens e 2,5 milhões mulheres.
“As mulheres já faziam muito serviço doméstico. Nove entre cada dez mulheres já se dedicavam a algum afazer doméstico. Então, o grupo que tinha espaço para aumentar era o de homens, e efetivamente houve esse aumento”, explicou Alessandra.
A pesquisadora ponderou que a análise das outras formas de trabalho começou a ser feita pelo IBGE em 2016, por isso não há uma série histórica que ajude a compreender melhor as alterações ocorridas.
“Como a gente está comparando só dois anos, é um curto espaço de tempo para relacionar com alguma mudança estrutural relacionada à consciência dos homens [se passaram a colaborar mais com as mulheres em casa]. Também não podemos apontar que houve mudança conjuntural, já que a conjuntura [econômica] de 2016 para 2017 não ficou muito diferente”, destacou Alessandra.
Cai média de horas dedicadas ao trabalho no lar
A pesquisa do IBGE mostrou que, em 2017, caiu a média de horas dedicadas pelas pessoas aos afazeres domésticos e aos cuidados de pessoas, atividades que, segundo o instituto, “costumam ser realizadas concomitantemente”.
Em 2016, a média semanal de horas dedicadas às duas atividades era de 16,7 horas, e caiu para 16,5 horas em 2017. “É significativa a redução dessas horas”, afirmou a analista do IBGE Alessandra Brito.
Considerando as duas atividades, houve aumento de 7 milhões de pessoas que se dedicaram a elas, das quais 4,4 milhões de homens e 2,6 milhões de mulheres. Questionada, a pesquisadora Alessandra Brito disse ser “uma explicação possível” que o aumento da participação de homens nas duas atividades realizadas no domicílio tenha relação direta com a redução da média de horas semanais a elas dedicadas.
“Quando a gente olha a intensidade dessas horas, a gente vê que as mulheres ainda fazem mais [trabalho doméstico] que os homens”, ressaltou Alessandra.
A pesquisa mostrou que as mulheres continuaram dedicando quase o dobro de horas a mais que os homens aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas – a média semanal deles foi de 10,8 horas, enquanto a delas foi de 20,9 horas.
Maior dedicação aos cuidados de crianças
Considerando somente o cuidado de pessoas, o IBGE identificou que 8,2 milhões de pessoas se dedicaram a cuidar de algum morador do próprio domicílio ou de parentes não moradores em 2017. Dentre as pessoas que receberam cuidados, o maior aumento foi observado entre o grupo com idade entre 6 e 14 anos.
“É possível que, por causa da crise, as pessoas possam ter passado a cuidar mais dos filhos em casa, ao invés de contratar alguém para isso”, avaliou a pesquisadora Alessandra Brito.
Mais desocupados produzindo para consumo próprio
Dentre as quatro formas de trabalho não remunerado investigadas, somente a de produção para o próprio consumo registrou maior aumento da participação de pessoas não ocupadas. Havia no país, em 2017, 12,4 milhões de pessoas dedicadas a este tipo de atividade – 1,9 milhão a mais que no ano anterior. Deste contingente, 1,1 milhão estava sem ocupação no mercado de trabalho.
O IBGE considera a produção para o próprio consumo como sendo as atividades de produção voltadas ao uso exclusivo dos moradores do domicílio ou de parentes não moradores. Assim, não se enquadra neste tipo de atividade uma pessoa que, por exemplo, utiliza parte da produção de uma horta doméstica para consumo da família, mas vende a outra parte.
A pesquisadora Alessandra Brito ponderou que ao analisar o aumento na dedicação ao próprio consumo por grupos etários, observa-se que o crescimento ocorreu mais no grupo acima de 50 anos. Por isso, segundo ela, não se pode apontar relação com o desemprego.
“Essas pessoas [com mais de 50 anos que passaram a fazer produção para o próprio consumo] podem estar mais fora da força de trabalho [aposentadas, por exemplo], que desocupadas e procurando emprego”, avaliou.
O IBGE considera quatro atividades de produção para o próprio consumo. Aquelas relacionadas à alimentação são as que têm o maior número de pessoas envolvidas no país. O instituto pondera que produzir para o próprio consumo não caracteriza subsistência. Esta seria caracterizada somente se a família não tivesse nenhum meio de consumo distinto da própria produção, condição que a pesquisa não é capaz de analisar.
Fonte: G1