Indicador de operações em atraso é o menor desde 2015 para o banco
O Banco do Brasil (BB) atingiu no fim do segundo trimestre o menor patamar de inadimplência desde 2015, e já prevê que o pico dos calotes ficará para o ano que vem. O indicador de operações com atraso superior a 90 dias recuou para 1,86% em junho, de 1,95% em março e 2,84% na metade de 2020.
A instituição financeira adotou um programa mais estendido de prorrogações de crédito na pandemia que os concorrentes privados. Ana Paula Sousa, vice-presidente de gestão de riscos do BB, disse que a inadimplência deve subir um pouco no segundo semestre, acompanhando o crescimento da carteira, mas não chegará à máxima histórica, que foi de 4,1%. Concessões de melhor qualidade e as prorrogações têm ajudado a manter os atrasos sob controle.
O vice-presidente de gestão financeira do BB, José Forni, afirmou que as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) constituídas para lidar com a inadimplência que se esperava com a pandemia foram mais que suficientes e agora deve haver uma “normalização no fluxo” desses volumes. As provisões são reservas que os bancos fazem para absorver o impacto de clientes inadimplentes sobre o balanço.
Os gastos do BB para reforçar esse colchão foram de R$ 5,4 bilhões no primeiro semestre, ante R$ 11,3 bilhões no mesmo período do ano passado. Para 2021 como um todo, o banco revisou suas projeções e agora espera que as despesas com PDD entre R$ 13 bilhões e R$ 15 bilhões. Anteriormente, previa um intervalo de R$ 14 bilhões a R$ 17 bilhões. “Prevemos uma despesa de PDD no segundo semestre um pouco superior ao primeiro, mas não é um agravamento de risco, é uma normalização”, afirmou Forni.
O banco também revisou para cima a estimativa para o lucro líquido neste ano, que agora deve ficar entre R$ 17 bilhões e R$ 20 bilhões. A projeção anterior ia de R$ 16 bilhões a R$ 19 bilhões. Na primeira metade de 2021, o banco lucrou R$ 10 bilhões. Apesar disso, segundo Forni, o BB está olhando o segundo semestre de forma conservadora.
“Estamos olhando o segundo semestre de maneira conservadora”, disse Forni. Segundo ele, apesar da visão otimista para o desempenho da economia na segunda metade do ano, o banco espera que o desempenho das provisões fique mais próximo do período anterior à pandemia. “O custo do crédito será superior ao do primeiro semestre. Não é pessimismo, mas é desafiador. Temos de olhar a realidade de normalização da carteira.”
Daniel Maria, diretor de relações com investidores do BB, afirmou que em 2019 o fluxo trimestral de PDD foi de R$ 2,7 bilhões em média. Em 2020, com a pandemia, isso subiu para R$ 5,5 bilhões. No primeiro semestre deste ano, caiu para R$ 2,6 bilhões. O ponto médio do guidance para o fechado deste ano é de R$ 14 bilhões. Como no primeiro semestre a PDD somou R$ 5,4 bilhões, isso sugere que ela seria de R$ 8,6 bilhões no segundo semestre, ou uma média de R$ 4,3 bilhões no terceiro e quarto trimestres. “É uma média menor do que o ano passado, mas maior do que o fluxo normalizado. É a nossa melhor proxy neste momento”, disse.
Maria reforçou que a inadimplência do BB segue em queda, ao contrário dos principais pares privados, que estão entre e estabilização e leve aumento. Entretanto, analistas apontaram que a safra de crédito 2021 para pessoa física está com a pior inadimplência de pelo menos os últimos nove anos, e para pequenas e médias empresas (PMEs) também pior até do que o observado na recessão de 2016.
O executivo argumentou que nesse aspecto o BB tem um nível de abertura de dados maior que outros bancos e que alguns dados não são comparáveis. “As safras estão mais pressionadas pela própria conjuntura, mas a safra 2021 ainda é muito nova, o que importa é a trajetória que vai ter. Estamos acompanhando o pulso e nosso processo de provisões, que usa modelos analíticos, identifica a resiliência das empresas e em pessoas físicas alguns sinais que são bandeiras amarelas. Mas é muito cedo para fazer inferências.”
Forni explicou que a inflação e a Selic mais alta trazem desafios de recomposição das margens, já que o ritmo de elevação do juro básico é superior aos cenários projetados ao fim do ano passado. “A reprecificação da carteira acontece em contexto de bastante competitividade.”
O presidente do BB, Fausto Ribeiro, afirmou que o plano de desinvestimentos do grupo continua o mesmo, ou seja, o que não for considerado “core” para a estratégia pode ser vendido ou ter a entrada de um parceiro estratégico. Isso inclui a BB DTVM. Já sobre o BV, que é controlado em conjunto com a família Ermírio de Moraes, Ribeiro lembrou que a instituição tentou realizar um IPO em abril, mas acabou desistindo em função da volatilidade do mercado. No mês passado surgiram rumores de que a PagSeguro poderia comprar o BV, mas na ocasião o banco e seus controladores negaram a notícia. Hoje, perguntando se a venda do BV seria uma opção, Ribeiro disse que sim. “Se surgirem eventuais compradores para o BV estamos dispostos a conversar, desde que seja interessante do ponto de vista financeiro. Se surgir uma nova janela para IPO, vamos voltar a estudar novamente.
Fonte: Valor Econômico