Mercado deve evoluir para além do crédito tradicional e abarcar outras operações em atraso
Se, por um lado, o desenvolvimento do mercado de créditos vencidos tem atraído novos vendedores dessas carteiras, por outro também estimula novos compradores. Com uma classe de ativos que gera retornos entre 20% e 25%, ter créditos “podres” na carteira pode ser uma boa alternativa para investidores qualificados que buscam diversificação.
A Jive, especializada em ativos alternativos, é uma das maiores gestoras independentes do mercado de créditos vencidos (NPL, do inglês “non-performing loans”). O fundador Guilherme Ferreira conta que o mercado de créditos de pessoa jurídica começou a ganhar mais força em 2015, com a recessão e a Lava-Jato, que levaram muitas empresas a não conseguir honrar dívidas. “A gente viu que estava surgindo essa oportunidade e se posicionou para comprar esse tipo de carteira. Para o investidor, é uma classe de ativos diferente do resto que está disponível, e que historicamente tem dado resultados muito bons.”
Em riscos individuais, a Jive já investiu R$ 264,8 milhões neste ano e analisa outras operações com valor estimado de R$ 1,882 bilhão. Em carteiras massificadas de empresas, investiu R$ 69,8 milhões e analisa outras 46 operações.
Maxiuel Cerizza atua há 20 anos na área e por volta de 2015 identificou uma carência do mercado para carteiras de menor porte. Ele então criou o Portal Cessão de Crédito, que já conta com mais de 250 investidores cadastrados. “Cerca de 90% das carteiras que colocamos na plataforma nós conseguimos vender. Hoje mais ou menos 70% são créditos de bancos e financeiras, mas temos também fintechs, varejistas, crédito educacional”, conta, acrescentando que as carteiras giram em torno de R$ 5 milhões a R$ 15 milhões.
Já a NPL Brasil, uma cisão do escritório RZ Advogados, ajuda na intermediação de operações de compra e venda de créditos vencidos e presta serviços para os donos das carteiras. “Atuávamos como advogados para os principais players desse mercado, acompanhamos o nascimento das grandes plataformas de hoje. Assim, acabamos desenvolvendo toda a tecnologia dentro do escritório e percebemos que havia a oportunidade de criar nossa própria gestora”, conta o CEO, Christian Ramos.
Grandes gestores globais que atuam nesse mercado, como Apollo, Cerberus, Oaktree, CarVal, BlackStone e LoneStar, ainda atuam de forma muito restrita no Brasil e, para Ramos, o desenvolvimento do mercado, incluindo com o surgimento de prestadores de serviços, pode ajudar a impulsionar os volumes. Alguns dos motivos para a dificuldade dos estrangeiros de entrar com vigor no mercado local são a questão cambial e os tíquetes muito baixos. “Os NPLs são uma classe de ativos que cabe em qualquer portfólio. Eles geram yields relevantes, de 25% ou mais. Mas é preciso dar mais acesso, para que gestoras, multi-family offices e grandes plataformas se desenvolvem, permitindo que o investidor tenha chance de se posicionar.”
Ramos afirma que a NPL Brasil participou recentemente de uma das primeiras operações de securitização de crédito vencidos de fora do setor financeiro no país. Uma carteira de contas a receber da Bunge Alimentos, com valor de face de quase R$ 300 milhões, foi transformada em um CRA de R$ 33 milhões. “Tivemos uma receptividade muito grande dos investidores, o mercado está sedento para interagir com boas casas.”.
O CEO do EdanBank, Eduardo Silva, conta que a instituição estruturou recentemente a operação para a venda de ativos estressados, avaliados em R$ 159 milhões, marcando sua entrada nesse mercado. Não se tratava de uma linha de crédito, mas de uma comissão não paga de uma operação de compra de uma empresa. “Estamos avaliando ativos que somam cerca de R$ 1 bilhão, fazendo o processo de due diligence, para depois levar a mercado. Esse mercado vai evoluir muito, não ficará só focado em crédito, mas também garantias, comissões, outros tipos de ativos”.
Fonte: Valor Econômico