A demanda pelas debêntures incentivadas cresceu à medida que rareou a oferta de Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), papéis que também asseguram o benefício fiscal para a pessoa física. Foi sob essa ótica que casas como XP Gestão, Brasil Plural, RB Capital e Fator Administração de Recursos (FAR) criaram fundos sob o guarda-chuva da Lei nº 12.431.
Em novembro do ano passado, a Fator lançou o seu portfólio, mas para deixar a carteira mais conservadora e atrair o varejo de alta renda, adotou como referencial o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), o juro que baliza as transações no interbancário, conta Bergamo.
“A ideia era ter a menor volatilidade do mercado comparativamente a outros fundos [de debêntures incentivadas], porque o investidor pessoa física do private olha tudo versus o CDI”, diz.
O fundo da Fator está 75% aplicado e tem um patrimônio de R$ 91,3 milhões distribuído entre 360 cotistas. No ano, apresenta retorno equivalente a 106% do CDI, já líquido de taxas. Até pelo perfil mais conservador, a gestão prefere emissões maiores, de nomes mais tradicionais no mercado, afirma Bergamo. Na carteira há, por exemplo, as debêntures da Comgás, que quando foram a mercado pagaram prêmio abaixo do risco soberano. Projetos de mais curta duração como a hidrelétrica Ferreira Gomes ou de rodovias caem bem ao portfólio por causa do referencial do CDI.
Foi graças ao aprendizado obtido com a ampla oferta de LCI e LCA nos últimos anos, que passaram a ter prazo de 90 dias, que o investidor se habituou à carência para reaver o capital investido quando faz o pedido de resgate.
O dinheiro aplicado no novo fundo da Brasil Plural levará 45 dias para ser creditado ao investidor, enquanto no primeiro portfólio era de 30 dias. Na carteira da AZ Quest, o prazo para o pagamento dos resgates será de 23 dias úteis contados da data do pedido, conforme consta na lâmina do fundo disponível na CVM. A gestora não dispôs de um porta-voz para comentar a estratégia. Na XP e na Fator, o resgate se dá em 31 dias.
Fausto Filho, da XP Gestão, conta que mesmo nos piores momentos de performance viu um investidor resiliente por entender se tratar de projetos de longo prazo, com uma série de garantias e com o suporte do BNDES financiando junto os empreendimentos. Na carteira, há mais de 40 debêntures de 15 emissores, principalmente de concessões rodoviárias e do setor elétrico.
Em meio à exaustão do modelo de financiamento por meio do BNDES para novos projetos, a oferta de debêntures de infraestrutura tende a acelerar nos próximos meses, espera Breder, da Brasil Plural. O gestor não vê risco de o governo rever o incentivo dado a títulos que financiam investimentos de longo prazo em meio a críticas de que o benefício fiscal tirou a atratividade desses ativos para o investidor institucional.
Conforme quantifica, os programas de investimentos de logística e do setor elétrico têm necessidades de investimentos de R$ 350 bilhões. Se o BNDES financiar cerca de 30% disso, ainda sobraria um volume enorme para captar via mercado, seja por meio de ofertas de ações, investimento direto ou debêntures incentivadas.
Os novos fundos, assim como aqueles há mais tempo distribuídos, cobram taxas de administração e de performance.
Fonte: Valor econômico