Buscando reduzir o risco de crédito e se antecipar à inadimplência, a Caixa Econômica Federal (CEF) criou uma diretoria com foco exclusivo na renegociação, repactuação e reestruturação de operações. O banco também informa que está próximo de fechar um entendimento com o Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a venda de carteiras de créditos, que no momento está suspensa. A previsão é de venda de até R$ 10 bilhões de créditos em 2016.
A Caixa ainda trabalha com o cenário de acelerar operações de crédito imobiliário no segundo semestre. O orçamento para o período de julho a dezembro é de R$ 54 bilhões, considerando recursos do FGTS e funding de mercado. De janeiro a junho, esses empréstimos somaram R$ 39 bilhões.
“Funding para FGTS não está faltando e não faltará. Estamos construindo as soluções para o mercado. Estamos construindo o funding. Acreditando que, com a redução das taxas de juros, teremos uma condição melhor para o retorno da poupança”, disse o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, em entrevista ao Valor, antecipada na tarde de ontem pelo serviço de informações em tempo real Valor PRO.
Occhi disse que além de adotar medidas que possam minimizar risco de calotes, a nova diretoria também pensa em formas de alavancar novos negócios. “Trabalhando inclusive para ajudar o mercado”, disse.
O presidente do banco revelou que, mesmo com apenas duas semanas em funcionamento, a nova estrutura já apresenta resultados. O presidente explicou que foram tomadas iniciativas para lidar com o risco de crédito do mercado imobiliário. Segundo explicou, o distrato é o maior risco do setor, pois atrapalha o fluxo de caixa da obra e gera custo para a construtora que tem de devolver recursos aos compradores. “Como somos o maior agente imobiliário, olhamos o problema e aumentamos o limite de financiamento durante a fase da obra, que é algo que atenua o distrato. A criação da diretoria é ter uma visão do que está acontecendo no mercado para poder trabalhar esses temas”, disse.
Conhecida como Direm, a nova estrutura trabalha em diversos eixos, como crédito corporativo, habitação e operações de infraestrutura, que envolvem governos, empresas e Parcerias Público Privadas (PPPs).
Sobre a contenda com o TCU, Occhi disse que há reuniões diárias entre a Caixa e o TCU, que segue apurando as operações. “Ou vamos convencer o TCU das ações ou o TCU vai determinar mudanças ou melhora de tais procedimentos”, disse o executivo. A previsão é de venda de até R$ 10 bilhões de créditos em 2016. “Acreditamos que estamos próximos a um entendimento comum. ”
O ponto ressaltado pelo presidente é que o TCU não questiona as vendas de carteira em si, que são um procedimento comum em todo o mercado, mas a forma como algumas operações foram feitas. Nesta semana, por exemplo, o Itaú Unibanco informou a venda R$ 5 bilhões em créditos baixados a prejuízo para a Recovery.
Em decisão cautelar, proferida no fim de junho, o ministro Raimundo Carrero determinou a suspensão de novas operações de venda de carteiras inadimplentes enquanto o órgão conclui a averiguação sobre indícios de irregularidades nas cessões feitas entre 2014 e 2015. Nos últimos dois anos, a Caixa vendeu carteiras baixadas a prejuízo com valor de face de R$ 24,1 bilhões e obteve R$ 2,2 bilhões com essas operações, o que implica em um deságio de 91%.
O banco, diz o presidente, não precisa de injeção de capital neste ano para manter suas operações e capacidade de concessão de crédito. Ele voltou a apontar que a Caixa já está tomando medidas para não precisar de aporte do Tesouro Nacional. Entre elas, cita a redução no pagamento de dividendos a 25%, que é o mínimo legal. “O que está acertado é 25%”, disse. Ao reter lucros também faz composição de capital para cumprir com as exigências regulatórias de Basileia. Na mesma linha, estão as iniciativas de venda de ativos, como abertura de capital da área de seguros.
Dentro desse contexto também se encaixa a autorização dada pelo Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para converter R$ 10 bilhões da dívida que o banco tem junto ao fundo em capital. Em tese, com mais capital o banco pode emprestar mais. No entanto, a operação ainda não foi efetivada e os R$ 10 bilhões não viram capital de uma única vez, mas em tranches.
Occhi disse ainda que o banco está avaliando um pedido do Estado do Rio de Janeiro para alterar um contrato de financiamento, redirecionando recursos ainda não utilizados, para permitir a finalização de trecho das obras da Linha 4 de Metrô. O Estado já tem um crédito aprovado no banco de R$ 400 milhões para obras de infraestrutura e o que o governo do Rio de Janeiro quer destinar esse montante para concluir trecho de expansão da linha até a Gávea. A Caixa já está fazendo a análise técnica do pedido, mas a mudança depende também de aval do Ministério das Cidades.
Fonte: Blog Televendas