BRASÍLIA – O diretor de Fiscalização do Banco Central (BC), Anthero Meirelles, afirmou que, se a situação econômica não se alterar, poderá haver novo aumento da inadimplência. Segundo ele, é o que mostram os testes de estresse reproduzidos pelo Relatório de Estabilidade Financeira (REF).
“Se a recessão se prolongar a tendência natural é de menor receita, menor fluxo de caixa para empresas e, claro eventual dificuldade de honrar dívidas. Mas isso ocorre em um sistema financeiro muito bem provisionado e capitalizado”, disse.
Segundo Meirelles, o sistema financeiro é parte importante neste momento desafiador da economia e também será um pilar importante no momento de retomada.
Crédito renegociado
Meirelles afirmou que o aumento nas renegociações e reestruturação de dívidas no semestre não mascara a inadimplência. Segundo o diretor, essas operações são comuns em ciclos de recessão e só seriam um risco se o BC não acompanhasse e mensurasse sua importância. Ele destacou que, na condução dos testes de estresse, o BC considera a inadimplência somada às reestruturações e renegociações.
O diretor também disse que, na média, cerca de 30% das operações que são reestruturadas acabam caindo na inadimplência.
Meirelles afirmou, ainda, que as instituições financeiras têm aumentado o colchão de provisão junto com a piora de cenário econômico, não apenas pelo aumento da inadimplência. “Mas para fazer frente a perdas esperadas e em linha com aumento do risco de crédito que é um fato”, destaca.
Cenário desafiador
O diretor da autoridade monetária apontou também que houve alguma reversão da inadimplência no fim do primeiro semestre, mas ainda é cedo para falar se já se chegou a um ponto de inflexão na tendência de alta.
“No Brasil, o cenário continuou desafiador no semestre, com retração da atividade. Isso se traduziu em pressão na qualidade do crédito e maior inadimplência”, afirmou. “Tivemos alguma reversão da inadimplência no fim do semestre. Mas, associada às reestruturações [de dívidas], não dá para dizer que tem uma inflexão.
”segundo ele, o desempenho da economia real se traduziu em cautela tanto de fornecedores quanto de tomadores de crédito e as reestruturações permaneceram em patamar elevado. No entanto, isso foi acompanhado de aumento das provisões, o que pesou na rentabilidade dos bancos. O diretor do BC observou que as instituições financeiras procuraram compensar o impacto da alta nas provisões por meio da redução de custos e de outras receitas.
No front externo, Meirelles afirmou que o cenário permaneceu desafiador para a estabilidade, lembrando que as taxas de juros negativas vigentes em grandes economias impõem desafios ao sistema financeiro internacional.
A despeito disso, destacou o diretor do BC, o sistema financeiro permaneceu estável, solvente e com nível de capital elevado. Os testes de estresse das instituições financeiras, acrescentou, mostraram adequada capacidade do sistema em suportar choques.
De acordo com o diretor do BC, há sinais de retomada da confiança, que parou de piorar, e isso se reflete na queda da taxa de câmbio e nos juros de longo prazo. “Alguns dados de atividade, indústria e investimento estão mostrando potencial de retomada. ”
Fonte: Valor Econômico