O Banco Internacional de Compensações (BIS) coloca o Brasil no radar das preocupações em razão do endividamento, no qual a instituição vê risco de fragilidade financeira em um horizonte de três anos. O mecanismo de alerta do banco avalia que a relação entre o serviço da dívida, que tenta capturar o pagamento de principal e juros, e a renda parece estar em níveis administráveis na maioria dos países, com as taxas de juros atuais, mas “aponta para potenciais preocupações no Brasil, China, Canadá e Turquia”.
Segundo cálculo do BIS, o Brasil é o que sofreria maior impacto no caso de uma elevação de juro de 2,5 pontos percentuais. O indicador para o país passaria de 7,4 para 9,2, quando 6,0 já aponta risco. A China vem em segundo, com 8,7, e a Turquia em terceiro, com 7,3.
O potencial de risco no Brasil, no entanto, diminuiu em outro indicador importante que tenta medir um sobreaquecimento financeiro e sinais de crises de crédito no médio prazo. Na diferença entre a relação crédito/Produto Interno Bruto (PIB) e sua tendência de longo prazo, no mês passado o indicador do BIS para o Brasil estava em 8,5, relativamente próximo da linha de 10, que aponta risco. Agora, o indicador aponta queda para 4,6, mais confortável para o país, mas ainda exigindo atenção. O banco não explica como houve uma queda tão repentina.
A China é o país que mais traz preocupação em relação ao risco de crise bancária e seu impacto global. A diferença entre a relação crédito/PIB e a tendência de longo prazo na segunda maior economia do mundo passou de 29,7 no começo do ano para 30,1 agora, segundo o BIS. O índice é três vezes maior que o nível de 10 que já apontaria tensões bancárias. A inquietação com endividamento das companhias chinesas tem aumentado.
Em meio a essas vulnerabilidades, o estoque de crédito em dólar para mercados emergentes, uma medida chave das condições da liquidez global, caiu para US$ 3,2 trilhões no fim de março, com baixa de US$ 137 bilhões em relação ao mesmo período de 2015.
Essa situação, no entanto, foi revertida nos últimos meses, com o aumento das emissões de títulos de dívida pelos emergentes e uma retomada dos fluxos de capitais para esses mercados, de acordo com o banco dos bancos centrais.
No caso do Brasil, os créditos bancários externos sofreram forte queda de US$ 14 bilhões entre janeiro e março deste ano. Desde o começo de 2015, o país sofreu uma redução de US$ 38,09 bilhões dos financiamentos externos, conforme o relatório trimestral sobre a atividade bancária internacional.
A situação, no entanto, melhorou no segundo trimestre deste ano após a volta de emissões de dívidas no mercado externo, com US$ 4,15 bilhões de emissões em termos líquidos. Ainda assim, o acumulado é de emissões líquidas negativas em US$ 27,9 bilhões desde o primeiro trimestre de 2015, significando que empresas e bancos brasileiros pagaram bem mais do que captaram no período.
O banco publica também estudo sobre emissões de títulos de dívida por empresas de mercados emergentes no exterior. Companhias da América Latina emitiram US$ 639 bilhões de bons no exterior entre 2000-15.
A Petrobras é a segunda empresa a mais ter colocado bonds no exterior nesse período, captando US$ 62,2 bilhões com 47 emissões. Só é superada pela Pemex, companhia de petróleo do México, que captou US$ 118,1 bilhões com 136 emissões. Em comparação, a suíça Nestlé emitiu 101 títulos, obtendo um total de US$ 31,1 bilhões.
Conforme o estudo, o “aparente triunfo” com a captação de recursos mais baratos no exterior “tem seu lado obscuro”. De acordo com o documento, boa parte dos créditos obtidos foi colocado por empresas emergentes em ativos financeiros no mercado doméstico, elevando preocupações sobre estabilidade financeira. Um aumento do volume desses investimentos pode colocar riscos de súbitas reversões e amplificar ciclos financeiros, segundo a análise.
Fonte: Valor Econômico