Em uma tentativa de acompanhar as inovações das fintechs (start-ups do setor financeiro), os bancos estão importando produtos, serviços e a forma de comunicação dessas empresas para dentro de suas operações.
Mas com as amarras da estrutura bancária tradicional, as grandes instituições ainda tropeçam em atender à demanda de uma parcela de consumidores que espera resolver qualquer tipo de problema por aplicativo no celular, sem falar com ninguém.
As iniciativas vão de produtos que imitam o rival da empresa iniciante à maior oferta de serviços digitais.
Há ainda casos mais ousados, como o do Bradesco, que planeja criar um novo banco digital do zero, a exemplo do que fizeram algumas instituições europeias. O banco não se pronuncia sobre o andamento do projeto, que deve sair nos próximos meses.
O Bradesco, juntamente com o Banco do Brasil, também está por trás do Digio, um cartão de crédito moldado para concorrer com o da fintech Nubank, no mercado há dois anos.
Os dois cartões não têm anuidade nem tarifas. O pedido é feito por aplicativos no celular, após preenchimento de um cadastro simples, envio de fotos de documentos e selfies. O controle de gastos também é pelo telefone, e a fatura mensal vai por e-mail –pelo correio, só o cartão.
O Digio não oferece crédito rotativo, cujas taxas de juros de mais de 400% ao ano têm contribuído para o desgaste dos bancos. A experiência de um cartão sem essa linha de crédito será compartilhada entre Bradesco e Banco do Brasil, disse uma fonte ouvida pela Folha.
CONTA DIGITAL
O Itaú lançou há algumas semanas um aplicativo para abertura de conta-corrente pelo celular. O abreconta usa sistema semelhante de cadastro dos cartões, mas os serviços que podem ser contratados são analógicos: ficou de fora a conta digital iConta, que tem apelo com o público que não quer usar a agência nem pagar tarifa.
Questionado, o Itaú disse que o objetivo do banco hoje “é adaptar o que o cliente tem à disposição na agência para o aplicativo” e que ainda está realizando pesquisas para decidir se irá permitir abrir a iConta na plataforma.
Em março, o banco Original lançou sua conta digital, aberta e controlada pelo celular. Não existem agências, e os saques são feitos nos caixas da Rede 24h. Mas a leveza da estrutura não significa tarifa zero –elas chegam a R$ 30 por mês.
“A gente sempre tenta ser um pouco mais barato do que a concorrência e 100% transparente com o que oferece”, diz Fernando Miranda, diretor de varejo do banco.
Para Guilherme Horn, diretor-executivo da consultoria do setor financeiro Accenture, por mais que uma empresa consolidada tente, a velocidade das mudanças será menor que numa fintech.
“Os bancos estão reagindo e conscientes do que precisa ser feito, mas a velocidade vai ser lenta porque eles têm processos muito arraigados”, afirma Horn.
A resposta de uma fintech à dificuldade de usar banco no celular sem custo veio do banco Neon, que abre as primeiras 5.000 contas.
Pedro Conrade, presidente do Neon, antes tentou a Contro.ly, que oferecia serviços financeiros através de cartões pré-pagos. “Percebi que as pessoas não conseguiam abrir mão do banco só com o cartão pré-pago”, diz.
PROBLEMAS
Os serviços oferecidos pelas fintechs tendem a ser mais básicos que os trazidos pelos grandes bancos. O Neon, por exemplo, não oferece crédito.
Já o primeiro serviço extra do Nubank é o programa de pontos, que custará R$ 190 por ano, valor próximo da anuidade de um cartão.
Antes desse lançamento, a fintech enfrentou críticas por ter subido a taxa de juros do rotativo –foi de até 7,5% para até 14%, próxima da praticada pelos bancos.
Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, defende que o aumento ocorreu para que a empresa pudesse aceitar mais clientes e elevar o limite de crédito dos usuários.
“Nosso custo para ter dinheiro aumentou. Para a maioria a taxa de juros subiu, mas para alguns foi para 2,75%”, defende.
Fonte: Blog Televendas