Queda na taxa de juros gera economia de R$ 4,7 bilhões na dívida

Cálculo considera valor que deixará de ser desembolsado em 12 meses

A redução de 0,25 ponto na taxa básica de juros representará, imediatamente, uma economia de R$ 4,7 bilhões aos cofres públicos nos próximos 12 meses. Segundo cálculo do economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, é esse o montante que deixará de ser pago de juros da dívida diretamente indexado à Taxa Selic, cujo estoque, hoje, está em R$ 1,8 trilhão. Considerando o efeito indireto da redução de juros sobre o estoque total da dívida pública, de R$ 4,05 trilhões, o impacto do corte poderia chegar a R$ 10 bilhões no mesmo período.

Apesar do alívio, o analista defendia uma redução maior, que geraria o dobro de economia no mesmo período. Para o economista, o Copom perdeu a oportunidade de ajudar na estabilização da trajetória da dívida pública, que tem crescido nos últimos anos.

Antes da divulgação dos resultados, ele destacou que considerava correta uma redução de 0,5 ponto, mas já esperava uma postura mais cautelosa do BC.

“É uma coisa notória na curva de juros que vamos ter mais cortes pela frente. A dúvida era a intensidade desse corte. Se é uma coisa definitivamente acertada, que a taxa de juros vai cair mais à frente, por que esperar mais, se isso deixaria de dar aos detentores da dívida pública R$ 4,7 bilhões?”, argumenta o economista.

Para Carlos Thadeu, o BC optou por “acertar em cheio” a meta de inflação, sem considerar outros fatores:

“A inflação já está no gol, qual é a importância de acertar em cheio na meta em 4,5% no ano que vem, tendo em conta que a economia está numa recessão brutal. Acho que o corte foi certo, mas perdeu-se a oportunidade de fazer um maior.”

Um dos principais termômetros da saúde fiscal do país, a proporção entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou consecutivamente nos últimos meses. Segundo dados de agosto do BC, está em 70,1%, contra 64% exatamente um ano antes.

Para Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria, a decisão de começar o alívio monetário de forma mais moderada foi a mais correta e não deve ser prejudicial para a trajetória da dívida. Isso porque, destaca a analista, o custo de financiamento já começou a cair nos últimos meses, principalmente por causa da melhora das expectativas com reformas apresentadas pela equipe econômica do novo governo. Segundo os dados mais recentes do BC, o volume de juros da dívida pago em agosto recuou para R$ 418 bilhões, após ter alcançado R$ 539 bilhões em janeiro.

“Essa queda tem a ver com a mudança de governo. Claro que tem um percentual da dívida indexado à Selic. Mas ele só vai reduzir a Selic se conseguir entregar a inflação na meta. Tem que priorizar inflação. É essa aposta do governo que está fazendo a taxa cair – destaca Alessandra, que estava na ponta mais conservadora, com previsão de manutenção da Selic em 14,25% ao ano.”

Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o impacto sobre a dívida pública é importante, mas não deve ser a questão central a ser tratada pelo BC.

– A questão central é a inflação. O fiscal não pode ser a questão do BC, a decisão focando em inflação. Não é porque o fiscal está ruim agora que ele faria isso. Não é do perfil desse Banco Central fazer isso – afirma o analista, que já esperava corte de 0,25 ponto.

Fonte: Época Negócios