Com a perspectiva de recuperação ainda tímida da economia, os grandes bancos brasileiros pretendem manter o pé no freio do crédito neste ano. No melhor cenário, Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco projetam um crescimento médio de 4,3% no saldo de financiamentos. Ou seja, em termos reais – descontada a inflação – a expansão do crédito será próxima de zero em 2017. Mesmo emprestando pouco, no entanto, as instituições devem lucrar mais, graças à expectativa de queda nas despesas para cobrir perdas com a inadimplência.
É essa perspectiva que tem levado os investidores a recuperarem o ânimo com as ações de bancos. “Com a normalização dos fundamentos macro e do mercado de crédito no Brasil, acreditamos que a rentabilidade dos bancos têm espaço para crescer novamente enquanto a percepção de risco deve manter a tendência de queda, representando uma poderosa combinação para o valor dos bancos”, afirmam os analistas do BTG Pactual.
O mais otimista entre os grandes bancos, o Itaú prevê que terá despesas entre R$ 14,5 bilhões e R$ 17 bilhões com provisão para calotes e perdas com títulos de crédito no ano. Se ficar no ponto médio desse intervalo, esses gastos serão 34% menores do que os ocorridos no ano passado. “A notícia boa é que a gente termina o ano com uma inadimplência bem mais baixa”, disse Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco, na semana passada durante divulgação de resultados do banco. Para ele, a continuidade dessa queda é uma tendência bastante sólida.
O Bradesco, conforme as próprias palavras de seu presidente, Luiz Carlos Trabuco Cappi, é mais conservador nas perspectivas, mas prevê que suas despesas com provisão possam cair até 13% neste ano. O banco já tem percebido que as “safras” mais recentes de crédito possuem uma inadimplência menor. No Banco do Brasil, a redução das despesas com crédito de má qualidade pode alcançar até 24%.
Apesar de não divulgar projeções, o Santander também prevê dias melhores. Em entrevista a jornalistas, Sérgio Rial, presidente do Santander Brasil, disse já ver um cenário melhor para a saúde das empresas em 2017.
Do lado da margem financeira, os bancos devem exibir números mais acanhados. A combinação de queda da taxa básica de juros mais uma pressão nos spreads – diferença entre as taxas de captação e o valor cobrado nos empréstimos – levou os bancos a prever desde uma queda de 4% nesta linha a até uma expansão de 4%. “Estou cautelosamente otimista com spreads em 2017″, disse Rial, em teleconferência com analistas.
É a partir da redução dos calotes neste ano que os bancos esperam se recuperar dos resultados mais fracos de 2016. O lucro líquido combinado de Itaú, BB, Bradesco e Santander caiu 18,8% em 2016, para R$ 50,3 bilhões. Em termos ajustados, sem eventos extraordinários, o lucro líquido sofreu um pouco menos. O resultado geral teve queda de 10,2% no ano passado, para R$ 53,8 bilhões.
Números compilados pelo Valor mostram uma escalada dos gastos para cobrir perdas com créditos de liquidação duvidosa no ano passado. Essas despesas foram de R$ 83,4 bilhões, valor 26,5% maior que em relação a 2015. O índice médio de inadimplência acima de 90 dias dos quatro grandes fechou dezembro em 3,90%, o que representou uma alta de 0,7 ponto percentual ante igual período do ano anterior.
Esses números não englobam perdas que os quatro bancos também tiveram com empréstimos dados via títulos, como debêntures. Itaú, BB, Bradesco e Santander fizeram baixas contábeis para títulos emitidos por empresas cuja capacidade de pagamento ficou comprometida. Só os três bancos privados fizeram baixas que somaram R$ 3,8 bilhões em 2016.
Com o risco de crédito mais acentuado, os bancos também reduziram os desembolsos para consumidores e empresas no ano passado. O estoque de empréstimos dos quatro maiores bancos teve queda de 5,8% em um ano, fechando dezembro em R$ 2,11 trilhões. Só o Bradesco, a partir da incorporação do HSBC Brasil, é que conseguiu engordar sua carteira de crédito em 2016.
Para compensar o encolhimento do crédito, os bancos reforçaram outras frentes de receita. As receitas de serviços cresceram acima da inflação nas quatro instituições. Somados, os valores faturados pelos bancos com tarifas, seguros, cartões e outros produtos ficaram em R$ 96,7 bilhões, em alta de 9,3% na comparação com 2015.
Fonte: Blog televendas