Volatilidade dos preços de ativos pede cautela; renda variável pode trazer oportunidades, mas exige conhecimento
Da última quarta-feira para cá, o cenário brasileiro mudou da água para o vinho, deixando uma grande incógnita no mercado financeiro. A crise envolvendo as delações da JBS e o presidente Michel Temer deixou o mercado em ebulição. Na quinta-feira, a Bolsa travou as negociações por meia hora, o que não acontecia desde 2008 – recuando mais de 8%.
Na sexta-feira, porém, recuperou parte das perdas e fechou em leve alta. Com o dólar, como de costume, o movimento foi o inverso. Em meio à volatilidade e ao sobe e desce de preço, especialistas orientam que o investidor tenha cautela e sangue frio para manter investimentos até segunda ordem – mesmo na renda fixa.
Diante de eventos que causam apreensão e incerteza no mercado, a tendência é de que os preços fiquem instáveis em um primeiro momento e depois sigam determinada direção. Caso o investidor liquide suas aplicações de imediato, pode amargar a subida dos preços logo em seguida.
“É preciso manter a calma, pois a experiência já mostrou que tomar decisão nesse momento de calor traz prejuízo”, diz Sandra Blanco, consultora de investimentos da corretora Órama. “Neste momento, não temos por que mudar as recomendações, principalmente na renda fixa.”
A orientação dos especialistas, sobretudo para pequenos investidores, continua ser apostar na renda fixa, pelo fato de o País ter o maior juro real do mundo. Os títulos indexados à Selic e ao CDI, indicados para a reserva de emergência e objetivos de curto prazo por sua liquidez, não devem sofrer impacto imediato da instabilidade política, pois acompanham a taxa básica de juros, que é definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
Quem tiver investimentos em fundos de renda fixa compostos por papéis prefixados ou indexados à inflação vai sentir neste mês uma rentabilidade menor, porque os títulos sofrem a chamada “marcação a mercado” – que pode tentar os investidores a resgatar o título e sair perdendo.
“O mercado futuro é nervoso, formado por expectativas. Quando há uma indefinição, imediatamente no mercado futuro as taxas sobem”, explica a professora da Fundação Getúlio Vargas, Myrian Lund, especialista em finanças. “Mas, mesmo que haja volatilidade, a orientação é carregar o título até o final, para que o investidor ganhe todo o juro contratado.”
Já para quem quer entrar agora na renda fixa, adquirir papéis prefixados ou atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA+, é uma boa opção. “Os títulos públicos aumentaram a taxa de juros. Os prefixados, que estavam abaixo de 10%, na sexta-feira estavam em torno de 11,5%”, diz Myrian. “Está no momento de comprar, porque tudo na economia é cíclico.”
Renda variável. Com o tombo da Bolsa na última semana, muita gente viu oportunidade de seguir a forte máxima de “comprar na baixa” e prospectar ganhos altos mais para frente. Vale lembrar, no entanto, que o cenário, por ainda ser muito imprevisível, exige cautela e muito conhecimento. Assim, especialistas desaconselham o pontapé em ações neste momento para o pequeno investidor.
“Depende muito do perfil. Quem conhece bem a dinâmica, porém, sabe que pode ser um momento interessante de entrar, mas de forma gradual”, diz Sandra, da Órama. “Para os investimentos de maior risco, tem de ter disciplina, para não se deixar levar pelo movimento de manada.”
Caio Sasaki, analista técnico Portal do Trader, destaca que é preciso estar atento a quais ações escolher. “Alguns papéis se deram bem com solavancos, como Fibria, Embraer, a própria Vale e outras empresas que exportam”, diz. “Num eventual cenário em que juros não caiam tanto, bancos são instituições mais sólidas e devem conseguir um bom desempenho. Já as estatais, como Petrobrás e Banco do Brasil, num cenário indefinido, são as que mais podem sofrer.”
Para Myrian, da FGV, quem não tem muito conhecimento ou capital suficiente para se diversificar a ponto de pulverizar o risco pode aproveitar o momento para procurar bons fundos de ações. “Hoje há gestores independentes que são excelentes. O importante é analisar bem o desempenho do fundo, que, para valer a pena, deve ter rentabilidade sempre acima do Ibovespa.”
Os fundos multimercado, que misturam em um mesmo pacote renda fixa, ações ou moedas, podem ser uma boa opção para diversificar – desde que entreguem boa rentabilidade. “O fundo só vale a pena se, historicamente, render acima de 130% do CDI. Abaixo disso, você consegue com a renda fixa, que tem risco muito mais baixo.”
Já o fundo imobiliário, segundo a professora, é indicado para o longo prazo. “Pode funcionar como uma Previdência, por render um aluguel todo mês. Se as cotas estão baixas, é hora de comprar.”
Fonte: Estadão