Bancos detentores de R$ 1,57 bilhão em dívidas sem garantias da fabricante de produtos de cobre Paranapanema venderam com desconto uma parcela desses créditos a fundos de investimentos e instituições financeiras, apurou o Valor.
Bradesco, Itaú Unibanco, Banco do Brasil (BB) e ING estão entre os vendedores de pelo menos R$ 160 milhões em créditos ao Bank of America Merrill Lynch e à gestora de fundos de crédito Jive, segundo fontes a par do assunto.
A Paranapanema não é um caso único. Estão na mesa operações que envolvem a venda de cerca de R$ 10 bilhões em valor de face de créditos dos bancos com diversas companhias de grande porte, como a concessionária Triunfo, a incorporadora Rossi, a varejista Leader e construtoras ligadas à Operação Lava-Jato. Também há estudos relacionados ao grupo J&F, dos irmãos Batista, dizem fontes.
Para reduzir riscos, os bancos têm considerado a venda de créditos ativos – ou seja, que estão no balanço – de empresas que estão em dificuldades financeiras ou que representam uma exposição maior que a desejada. São operações não vencidas, renegociadas ou que estão com pagamentos suspensos (“standstill”, no jargão do mercado).
Vender com desconto uma operação com pagamentos em dia ou mesmo com atraso pequeno implica uma perda para os bancos. No entanto, a depender do cenário que se vislumbra para a empresa, manter o crédito no balanço pode representar um prejuízo ainda maior à frente.
Esse tipo de operação era quase inexistente até o fim do ano passado e continua representando uma fração diminuta do estoque de crédito a pessoa jurídica no país, que somava R$ 1,482 trilhão em junho, segundo o Banco Central (BC). Porém, algumas fontes veem uma mudança de comportamento, já que os bancos sempre relutaram em vender operações do balanço e o mercado secundário de dívida no Brasil é quase inexistente.
A crise atual, que arrastou grandes companhias, levou as instituições a rever essa estratégia. Nos últimos dois anos, os bancos viram crescer a inadimplência nesse segmento e tiveram de reforçar as provisões para fazer frente aos calotes. Soma-se a isso a implantação das regras de Basileia 3, que exigirão mais capital para lastrear os empréstimos.
As operações têm sido tocadas pelas áreas de renegociação montadas pelos bancos na crise. Gestoras como Farallon, Jive e Blackwood são potenciais compradores. O BTG Pactual, que reduziu drasticamente seu balanço desde o fim de 2015, também tem adquirido pontualmente créditos de companhias às quais tem exposição em situações nas quais vê bom potencial de recuperação.
As vendas envolvem principalmente ativos sem garantia – que entram no fim da fila em caso de recuperação judicial – e créditos cujo custo de gestão é considerado alto diante das perspectivas.
Também há casos envolvendo empresas de médio porte. Conforme publicou o Valor na semana passada, a recém-criada Quasar Asset Management, gestora voltada a crédito corporativo, obteve parte de seus mandatos por indicação de bancos interessados em vender ou reduzir exposição a determinados clientes e setores.
Atribuir preço aos ativos ainda é uma dificuldade, já que os empréstimos não costumam ser marcados a mercado nos balanços. De acordo com gestores, são raras as operações em que os bancos concordam em vender ativos com descontos de mais de 50% sobre o valor de face.
A título de comparação, as vendas de créditos podres ou vencidos há anos, que os bancos já faziam, costumam ser fechadas a centavos do valor de face. Em boa parte dos casos, como são operações já baixadas a prejuízo, sequer há impacto no resultado.
No entanto, segundo fontes próximas a gestoras, as conversas têm melhorado. Os preços dos bônus das companhias negociados no exterior e a própria classificação do BC para provisionamento conforme os riscos das operações têm servido de referência.
As negociações em geral são feitas individualmente e de forma não estruturada. Operações como a da Paranapanema, em que os bancos venderam créditos em conjunto, são raras. Nesse caso, os compradores se alinharam ao processo de reestruturação que envolveu um compromisso de aporte da Glencore e a prorrogação do acordo de “standstill”. A dívida bruta da empresa supera R$ 2,5 bilhões.
Procurados, Bradesco, Itaú, Banco do Brasil, BofA e Jive não se manifestaram. Representantes do ING não foram localizados para comentar o assunto.
Fonte: Blog Televendas