O mercado de crédito deu um primeiro sinal de reação no fim do primeiro semestre de 2017, depois de meses de firme contração. Os dados de junho, compilados pelo Banco Central (BC), apontaram aumento no estoque de empréstimos e financiamentos, firme crescimento nas concessões e queda nas taxas de juros e na inadimplência. “Esperamos um segundo semestre melhor que o primeiro e tivemos, em junho, uma informação favorável”, diz o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Fernando Rocha.
No ano e em 12 meses, no entanto, a situação ainda é de retração do mercado, de 0,9% e 1,6%, respectivamente, e mesmo para atingir a magra projeção de crescimento nominal de 1% feita pelo Banco Central (BC), uma expressiva melhora será necessária. Dificilmente o mercado terá crescimento real, ou seja, acima da inflação em 2017, completando o terceiro ano de retração.
O destaque no mês ficou no crédito à pessoa jurídica, que apresentou a primeira variação positiva desde janeiro de 2016, um alta de 0,3% sobre maio, e um salto de 14,6% nas concessões.
De acordo com Rocha, a categoria que puxou essa melhora foi o desconto de duplicatas, com alta de 16% no mês. Esse tipo de crédito é ligado à atividade e se mostrou alinhado ao maior saldo de empréstimo ao comércio vista no mês, que subiu 2,1%.
O aumento de desembolsos nessa linha reflete tanto a estratégia dos bancos de se concentrarem em linhas com mais garantias, como a demanda das empresas por linhas de curto prazo para atender o fluxo de caixa, uma vez que os investimentos continuam baixos. “Se elas entrarem em uma dinâmica de expansão, podem demandar mais linhas de longo prazo”, afirma o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicolas Tingas.
O crescimento das concessões em capital de giro, de 25%, principalmente nas operações acima de 360 dias, já pode indicar, segundo Rocha, uma recuperação da demanda por financiamento para operações não necessariamente rotineiras das empresas.
No crédito direcionado às pessoas jurídicas, Rocha chama atenção para o crédito rural, com alta de 3,4% na margem.
De outro lado, no entanto, houve uma contração dos empréstimos com recursos do BNDES. As concessões de crédito com recursos do banco de fomento apresentaram queda de 14,3% em junho frente a maio, acumulando retração de 31,6% em 12 meses. “Essa queda é reflexo de uma demanda mais limitada e provavelmente reflete uma mudança saudável das condições de crédito do BNDES”, diz o diretor de pesquisas econômicas do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos.
Para Ramos, essa recuperação da carteira de pessoa jurídica ainda não reflete uma retomada das operações para esse segmento, uma vez que os investimentos seguem baixos, com as empresas ainda com grande capacidade ociosa, além da incerteza política, que afeta a confiança na economia. “A perspectiva de crescimento da demanda final é limitada”, diz.
No caso das pessoas físicas houve uma diminuição nas concessões, de 3,4%, mas segundo Rocha isso reflete o efeito comparação com o mês de maio, quando as vendas do Dias das Mães elevaram, notadamente, as concessões via cartão de crédito à vista.
De forma geral, o Goldman Sachs espera que as condições de crédito continuem a melhorar gradualmente, apoiadas pelos sinais de estabilização econômica e pelo ciclo de afrouxamento monetário.
O saldo das operações de crédito do sistema financeiro mostrou crescimento de 0,4% em junho ante a maio. O avanço tem sido liderado mais pelos bancos privados do que pelos públicos, que têm reduzido sua atuação, após período de forte expansão dos empréstimos.
A carteira de crédito dos bancos públicos encerrou o primeiro semestre com uma queda de 0,6% e uma contração de 3% em 12 meses, somando R$ 1,719 trilhão, ou 55,8% do mercado. E quem puxa a retração é o BNDES. Descontando a carteira do banco de fomento do conjunto dos bancos públicos, se observa um crescimento de 1,2% no semestre e de 0,7% nos 12 meses findos em junho.
No lado da inadimplência, depois de uma breve alta em maio, a taxa caiu de 4% para 3,7%, voltando ao patamar de janeiro. A retração foi puxada pelas empresas, justamente o segmento que mais vinha ampliando o percentual de calotes. A taxa recuou de 4% para 3,6%. No caso das famílias, a inadimplência recuou de 4,1% para 3,9%. Com recursos livres, a queda foi de 5,9% em maio para 5,6% no mês passado, igualando a taxa de fevereiro. Segundo Rocha, do BC, além da queda no mês, o indicador antecedente de inadimplência, que são os atrasos de 15 a 90 dias, sugerem estabilidade no calote das companhias e uma nova queda para as famílias.
Fonte: BlogTelevendas