Invenção brasileira da década de 1990, operação surgiu para substituir os cheques pré-datados e caiu no gosto de consumidores e lojistas
BRASÍLIA – Uma invenção brasileira criada na década de 1990 já é responsável por mais da metade das compras feitas no cartão de crédito. Criado para substituir os cheques pré-datados, o parcelamento no cartão caiu no gosto de clientes e lojistas brasileiros e a operação responde por mais da metade do valor faturado pela indústria de cartões de crédito no Brasil.
Pesquisa anual do Banco Central revela que, em 50,7% das compras feitas no último trimestre de 2016, clientes optaram por parcelar em pelo menos duas vezes no cartão. Do caixa de supermercado ao site da companhia aérea, a opção de dividir a compra supera os pagamentos feitos em uma única vez, ou 49,3% das transações.
O parcelamento no cartão é uma operação de crédito oferecida pelo lojista e que é apenas gerida pela instituição financeira. O varejista recebe da operadora conforme o calendário de parcelas dado ao consumidor.
“Essa operação é uma jabuticaba que nasceu para substituir outra jabuticaba. O parcelamento nasceu como opção ao cheque pré-datado”, diz o diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito (Abecs), Ricardo Vieira. Na época, a economia brasileira tinha menor oferta de crédito e maior informalidade. Diante desse cenário, operações como cheque pré-datado e parcelamento no cartão nasceram como alternativa de financiamento menos complicado.
O tempo passou, mas muitos desses problemas ainda dificultam o acesso ao crédito tradicional. Um exemplo está no número 636 da Rua Conselheiro Nébias, no centro de São Paulo. Especializada na revenda de táxis usados, a Rosane Automóveis sempre viu dificuldade em fechar negócio porque alguns taxistas não conseguem comprovar renda para o crédito tradicional. Para contornar a situação, a loja permite até comprar um carro parcelado no cartão.
“Começamos a oferecer essa opção há uns três anos. O objetivo é tentar facilitar a compra para quem não consegue, seja por falta de dinheiro para a entrada ou acesso ao financiamento”, diz o gerente da loja Wagner Santos. “Analisamos caso a caso porque o custo da operação é nosso e o cliente precisa ter esse limite, mas é possível parcelar 100% do valor do carro no cartão.”
“Nas operações sem juros, o custo desse financiamento acaba sendo do lojista, que precisa administrar esse fluxo de caixa futuro”, diz o diretor da Abecs. “Mas o risco de inadimplência da transação é totalmente do banco.”
Segundo Santos, no cheque e no boleto, o calote médio na loja fica entre 20% e 30%. “No cartão, é zero. O problema é que nem sempre o cliente tem limite disponível.”
Fonte: Estadão