As empresas listadas no Ibovespa devem pagar cerca de R$ 80 bilhões em dividendos relativos aos lucros de 2017. Pelos cálculos do Itaú BBA, isso representa um aumento de 33,8% em relação à distribuição do ano anterior. A alta é fruto de resultados melhores, apesar de algumas companhias, pontualmente, terem anunciado a intenção de elevar a parcela do lucro destinada aos acionistas.
Levantamento da empresa de informações financeiras Economatica mostra que os dividendos do exercício de 2016 alcançaram R$ 61 bilhões, se consideradas 56 das 60 companhias do índice presentes na bolsa desde 2010, ano que marca o início do estudo. A expectativa do Itaú BBA é que para 2017 o montante chegue a R$ 81,2 bilhões. Esse número pode ser ainda maior se consideradas todas as empresas do Ibovespa e a divulgação de lucros acima das projeções pelas companhias que ainda não publicaram resultado.
Luiz Cherman, estrategista de renda variável para o Brasil do Itaú BBA, afirma que o aumento estimado não vem de uma mudança na política de distribuição de dividendos das empresas, já que o “payout” – parcela dos lucros destinada aos acionistas – se mantém. “A mediana do payout nos últimos anos tem estado sempre na casa dos 40%. Nossa expectativa é que ela seja de 44% em 2017”, afirma. Do resultado de 2016, aponta levantamento do Itaú BBA, a parcela distribuída foi de 47%.
O aumento dos dividendos, portanto, vem do crescimento de lucro das companhias. Cherman afirma que ainda não há indícios que mostrem que as empresas tendem a aumentar a parcela que vai para o bolso do acionista. “Após a recessão, muitas companhias querem usar parte dos lucros para fazer novos investimentos”, diz. Ele afirma que, além do cenário de recuperação econômica – com impacto positivo sobre os resultados das empresas -, a Selic mais baixa viabiliza projetos que antes eram difíceis de sair do papel.
“Depois de quatro anos consecutivos de queda, 2018 deve ser o primeiro ano de investimento em alta. Existem muitos projetos para colocar na rua”, afirma.
Guto Leite, gestor de carteiras da Western Asset, também espera um aumento significativo no montante de dividendos distribuídos. Assim como Cherman, ele atribui o aumento aos resultados positivos das companhias e aos níveis mais baixos de juros.
Embora destaque que existam exceções, como é o caso do próprio Itaú Unibanco, que aprovou a distribuição de dividendos equivalente a 70,6% do lucro anual, a recuperação da economia influenciou no aumento dos proventos. “Na grande maioria dos casos temos uma recuperação dos lucros, endividamento menor e taxa de juros menor, que fazem os dividendos aumentarem. Imagina uma empresa que tem R$ 1 bilhão de dívida. Quando a Selic sai de 14% para 6,75%, a gente consegue ver que o serviço da dívida caiu mais da metade”, afirma.
Para Marco Saravalle, analista da XP Investimentos, há fortes indícios de que os dividendos distribuídos em relação ao exercício de 2017 fiquem na casa dos R$ 80 bilhões. Ele não vê uma tendência de aumento do payout, mas pondera que os recursos também não devem ser destinados a investimentos novos.
“A crise deu uma lição de que quem tinha caixa ou situação financeira mais confortável sobreviveu melhor. Nenhuma empresa que volta a ter lucro pensa em distribuir porque acionistas estão precisando”, afirma. Para ele, o cenário incerto e a alta capacidade ociosa deixada pela recessão também pesam para que as empresas adiem investimentos. “Existem casos particulares, mas de forma geral, não acho que as companhias farão investimentos de expansão tão cedo”, afirma.
Na avaliação de Luiz Otávio Laydner, sócio da Vinci Partners, embora ainda não seja perceptível um aumento na parcela de lucro que vai para o acionista, a tendência é que isso ocorra em breve, já que os investimentos dependem de um cenário mais claro.
“A decisão de investir envolve expectativa, as empresas investem porque acham que vão vender mais seus serviços e produtos no futuro. Mas estamos em um período incerto”, diz. Em setores mais maduros, como é o caso do financeiro, afirma Laydner, é “natural” esperar uma maior distribuição de dividendos.
O setor financeiro é um dos que devem pagar proventos altos para seus acionistas nos próximos anos. A estimativa de Cherman, do Itaú, é que o montante distribuído pelas empresas do segmento aumente 13% em 2018. Segundo o executivo, o setor responde por 40% do total dos dividendos pagos.
Para Leite, da Western, essas empresas têm “previsibilidade financeira” e, por isso, conseguem determinar de antemão quanto do lucro precisarão reter e quanto poderão distribuir. “Se a carteira de crédito [dessas empresas] não cresce tanto, como é o momento que bancos vivem, a empresa tem uma previsibilidade do quanto precisa de capital. O Itaú olhou as perspectivas, o comportamento das margens e viu que poderia elevar o payout”, afirma.
Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economatica, diz que embora ainda não dê para fazer uma análise completa, já que muitas empresas listadas ainda não divulgaram seus resultados de 2017, existe uma tendência positiva no pagamento de dividendos feito pelos bancos. “Se pegarmos o ano de 2008 em diante, o Bradesco saiu de R$ 2,9 bilhões para R$ 6,3 bilhões referentes ao ano de 2016. O Itaú saiu dos mesmos R$ 2,9 bilhões para mais de R$ 10 bilhões e o Santander, de R$ 1,5 bilhões para R$ 5,9 bilhões. O crescimento é muito expressivo nos últimos anos”, afirma.
Fonte: Valor Economico