Deficiência na formação profissional básica é apontada como principal entrave para a contratação por empresas entrevistadas pela Fundação Dom Cabral
Um efeito positivo da saída do país da pior recessão econômica da história é um alívio no mercado de trabalho. A taxa de desemprego caiu de 13,7% no começo do ano para 12,2% no trimestre encerrado em outubro e a criação de vagas formais mostra sinais de reação há sete meses. A qualidade da retomada, no entanto, se sustenta em bases frágeis. O principal catalisador da redução do desemprego tem sido a ocupação informal, de trabalhadores sem carteira assinada e por conta própria. Usualmente, têm escolaridade menor. Numa situação assim, volta a nos assombrar um problema antigo: o grande contingente de brasileiros com baixa qualificação.
Uma pesquisa inédita da fundação Dom Cabral (FDC) mostra que a deficiência na formação básica dos profissionais é o principal entrave na hora de contratar. No total, 48% das empresas citaram essa variável como o maior problema. Em seguida, aparecem a falta de experiência na função (41%) e só em terceiro lugar a discordância salarial entre o que a empresa quer oferecer e o que o candidato quer receber (23%). O levantamento foi feito com 201 empresas de grande porte no país, distribuídas em todas as regiões. Juntas, elas empregam 936 mil funcionários em tempo integral.
De acordo com a pesquisa, as áreas que mais enfrentam dificuldades para contratação são as de logística (22%), produção (30%) e comercial (23%). No caso de logística, diante das inovações tecnológicas constantes no setor, as profissões de “motorista” e “técnico” (manutenção) são as com maior dificuldade de contratação. Os principais motivos são a carência de profissionais capacitados e falta de experiência na função. “Devido à dificuldade de encontrar profissionais plenamente preparados para desempenhar suas funções, as empresas procuram trabalhadores cujo perfil mais se enquadra na função e realiza treinamentos”, diz o estudo.
Na área comercial, os principais obstáculos são atender à pretensão salarial dos candidatos e a falta de experiência na função. Já em produção, o principal problema é a baixa qualidade na formação básica e uma formação superior dissociada da realidade da empresa.
A combinação entre desemprego ainda alto e escassez de mão de obra qualificada dificulta uma recuperação célere do mercado de trabalho, com impactos para a economia. Para o ex-ministro do Trabalho Paulo Paiva, professor da FDC, a alternativa óbvia para equacionar o problema é investir em educação. “É o que melhora o nosso capital humano. Negligenciamos isso por muitos anos”, diz. “Fica mais assustador quando nos confrontamos com mudanças tecnológicas constantes. O grande desafio brasileiro no longo prazo é como melhoramos a produtividade do trabalho, que tem a ver com formação, e também a competitividade do país como um todo.”
Fonte: Época Economia