O e-commerce no Brasil representa de 2% a 3% do varejo total – nos Estados Unidos, o índice chega a 10%
Parcelamento do boleto bancário, pagamento de compras online em dinheiro em bancas de jornal, rastreamento de QR Codes com a câmera do celular. Essas são algumas tecnologias que o varejo está testando para integrar o mundo físico dos varejistas ao digital e melhorar a experiência de compra do consumidor.
“Todo o universo do varejo está direcionando esforços para promover uma experiência única entre os mundos físico e digital”, afirmou o Chief Experience Officer (CXO) da VTEX, empresa que integra o comércio eletrônico à nuvem, Alessandro Gil. “Não importa se você compra numa loja física e manda entregar na sua casa ou se compra no e-commerce e retira na loja física, a questão é promover facilidade e comodidade”.
Mesmo com os esforços do setor, as lojas físicas continuam a ser as favoritas dos brasileiros, segundo Gil. “O e-commerce no país representa 2% ou 3% do varejo total. Nos Estados Unidos, o índice chega a 10%. Isso significa que o varejo online americano movimenta 450 bilhões de dólares, enquanto o brasileiro transaciona 50 bilhões de reais. Nosso mercado é cerca de 30 vezes menor”.
Entretanto, de acordo com ele, é inevitável que as pessoas tornem-se mais digitais. “Há um estudo que diz que você desbloqueia seu celular mais de 110 vezes por dia. No horário da novela das 21h, a Netflix tem mais audiência que a Globo”, disse ele. “No Brasil, estávamos acostumados a olhar no olho do vendedor e comprar. Agora, a nova geração nasceu conectada, só que não quer mais conta em banco ou cartão de crédito”.
Tanto não quer conta em banco nem cartão de crédito que o setor abriu os olhos para essa fatia de consumidores e está criando tecnologias que não limitam a compra online pela falta de opções de pagamento. Entre as novidades está a possibilidade de pagamento em dinheiro de contas online, por link ou parcelamento do boleto.
Entre os que usam smartphones, 78% das pessoas preferem comprar por aplicativo, segundo pesquisa da Worldpay, que analisou o comportamento de consumo dos brasileiros. O índice é acima da média global, de 71%.
Para Gil, em geral, o varejo brasileiro ainda vê com timidez a digitalização das operações, mas “a transformação é inevitável”.
A realidade virtual e aumentada são outras tecnologias que estarão presentes no cotidiano do consumidor. “Já começamos a ver aplicações da realidade aumentada. A câmera de celulares da última geração, como o iPhone X, já captam dimensões tridimensionais. Na prática, ele consegue medir exatamente o tamanho de sua sala. Imagina que você queira mobiliar uma sala. É só tirar foto do local e a câmera consegue dizer o espaço que você tem. Isso permite que lojas de móveis consigam dimensionar perfeitamente como vai ficar um sofá na sua sala”, afirmou Gil.
No Brasil, a Via Varejo, dona das marcas Pontofrio, Extra e Casas Bahia, faz uso da tecnologia. “Reinventamos nosso processo de venda online, fazendo a integração entre o mundo físico e online por meio da realidade virtual e aumentada. O consumidor consegue ver os móveis no ambiente da loja e depois como eles ficam na casa dele por meio da realidade virtual”, afirmou Paulo Naliato, diretor executivo de vendas da Via Varejo.
Segundo Gil, a realidade virtual vai demorar cerca de dois ou três anos para chegar ao Brasil. “Isso porque a tecnologia depende da adoção de dispositivos. Não basta ter o celular, tenho que ter outro device para fazer meu celular conectar-se ao mundo virtual. Não podemos achar que isso não vai acontecer, mas vamos ter que esperar alguns anos”.
“A loja física não vai morrer”, afirmou o CEO da ISEE E-Content Solutions, Flávio Salomão. “Não importa como você vai vender e sim fazer a venda. Uma das vantagens da compra online é que o cliente está com a carteira na mão”, disse. A ISEE é uma empresa especializada na gestão de conteúdo de produtos para o varejo digital. “O e-commerce ainda vai evoluir muito. Atualmente, a interação do consumidor com o produto é rudimentar”, contou o CEO.
Salomão participou do desenvolvimento do primeiro varejo digital nos anos 90. “Começamos de forma conservadora. O primeiro piloto foi o das Americanas, vendíamos 2.000 produtos só em Curitiba. Queríamos entender como os consumidores iam aceitar o formato. Lá fora funcionava bem, mas não sabíamos como o Brasil ia reagir”.
Segundo ele, a desconfiança foi o maior desafio do setor. “O uso da internet no Brasil era para o meio social, não tinha transações. Precisávamos conquistar o consumidor que não estava habituado a dar o número de cartão pela internet e era uma época onde a fraude de cartões era mundialmente reconhecida”.
Confira outras tecnologias do setor do varejo, apresentadas na VTEX Day, maior evento da América Latina do segmento de vendas multicanal:
Pagamento de compras online com dinheiro (sem boleto)
A PinCash lançou um sistema que permite o pagamento em dinheiro de compras online. Ao fazer uma compra, o consumidor escolhe a forma de pagamento PinCash e vai receber um código no smartphone. Com o número, é possível pagar a conta em bancas de jornais, farmácias, postos de gasolina – qualquer local que também faça recarga de celular. A PinCash fez parceria com as operadoras para que seu sistema pudesse registrar o pagamento nas maquininhas de recarga.
“No Brasil, 40% da população não tem conta bancária. Estimamos que 65% não têm cartão de crédito”, disse o CEO e co-fundador da PinCash, Greg Descamps. “E quem tem cartão de crédito pode ter o saldo comprometido pelas compras parceladas.”
Os consumidores que temem ser vítimas de fraudes do cartão de crédito também são beneficiados com a plataforma, segundo ele. “É uma solução para fazer pagamento em dinheiro na esquina da rua”.
Até o momento, 330.000 pontos no país estão habilitados a receber a PinCash. A expectativa é que o número chegue a 650.000 no final do ano. A PinCash também indica ao consumidor qual o ponto de pagamento mais próximo de sua residência, ou de sua localização atual. “O pagamento pode ser parcelado, mas quem decide as condições de pagamento são as lojas”, afirmou Descamps. Após o pagamento, a compra é liberada em tempo real.
Segundo o CEO da empresa, a meta é que a PinCash responda por 15% das transações do e-commerce daqui a quatro anos.
Compras parceladas no boleto
A plataforma da KOIN permite que o cliente faça compras parceladas pela internet sem cartão de crédito e fornecimento de dados financeiros. A solução oferece aos consumidores compras parceladas por meio do boleto bancário.
Para o serviço, a KOIN realiza parcerias com lojas virtuais, como a Melissa, Grendene, Multilaser e Vizcaya. Ao todo, são 120 e-commerces. Até o final do ano, a KOIN quer dobrar esse número.
O cliente só efetua o pagamento após recebimento do produto. No momento da compra, o usuário não precisa cadastrar-se na KOIN – a empresa virtual repassa os dados necessários. Na primeira compra, a KOIN disponibiliza um limite de crédito segundo análises internas.
Retire a compra onde quiser
A Jadlog permite que o consumidor busque produtos comprados online em pontos comerciais espalhados pelo Brasil. O cliente escolhe o ponto mais próximo de sua residência ou trabalho e pode retirar a compra em qualquer dia da semana.
Em todo o Brasil, a empresa possui uma rede com 8.000 pontos – no máximo 10 minutos a pé de 90% dos consumidores, segundo a empresa. A Jadlog informa o consumidor sobre a chegada da mercadoria aos locais com uma mensagem SMS.
A empresa tem parcerias com as lojas virtuais Mercado Livre, Wine, Netshoes, Saraiva, Ri Toys e outras.
Robôs ajudam a fazer compra
A Hi Platform quer automatizar o atendimento das empresas online por meio de chatbots (robôs que aprendem com a experiência). “Identificamos que 60% das dúvidas de atendimento são básicas, como o status do pedido. Elas não necessariamente precisam de um atendente”, explicou o head de vendas da Hi Platform, Fabio Miranda.
“Com isso, você pode otimizar a conversa. As pessoas não querem mais entrar no site ou ligar para tirar uma dúvida. Na Netshoes, por exemplo, um professor de educação física pode atender os consumidores com mais expertise”, disse Miranda.
No futuro, a tecnologia será ainda mais aperfeiçoada. “Se é aniversário da Camila, por exemplo, e ela torce para o São Paulo, o próprio chatbot pode indicar um produto para o perfil dela”, afirmou ele.
Segundo Miranda, o consumidor não precisa entrar em contato com o robô para que o contato aconteça.
Em outro cenário, o consumidor poderia tirar foto de um produto, encaminhar para o robô e o chatbot indicaria o preço. Assim, o usuário não precisa nem acessar a loja virtual.
Segundo ele, não há risco do chatbot aprender uma linguagem inadequada porque existe um humano por trás da plataforma, que realiza um filtro de aprendizado.
Pagamento por link
Com o pagamento por link, a Cielo propõe uma solução que permite ao vendedor o envio de links para que o consumidor faça o pagamento online. O link pode ser repassado pelas redes sociais, como o Facebook, SMS e e-mail.
“O pagamento por link segue a lógica da conveniência para o consumidor. O link é um atalho, que deixa o consumidor mais próximo da compra”, disse o diretor de novos mercados, Eduardo Neubern. “Um bom sensor de conversão de compra é quanto tempo o usuário demora para preencher os dados. Quanto menos cliques, é maior a chance de concluir a compra”.
A Cielo também lançou o pagamento via QR Code. O cliente escaneia o código com a câmera do celular, recebe um SMS e é redirecionado a página de pagamento.
Para os lojistas, a empresa criou a LIO, maquininha que integra várias formas de pagamento em um só. Assim, não é necessário ter mais de uma máquina de cartões para diferentes operações.
“Há mais comodidade, a máquina tem sistema Android. Com ela, o lojista pode até gerenciar estoque”, afirmou Neubern. “Do mesmo jeito que os smartphones substituíram os celulares, a LIO vai substituir as maquininhas. Isso é inevitável, a questão agora é saber quando”.
Rastreamento de produtos
A Mandaê lançou o Rastreaê, serviço que otimiza a notificação dos usuários sobre o acompanhamento do transporte de encomendas.
Segundo o head de produtos da startup, Douglas Cunha, a logística atual do Brasil é cara e ineficiente, resultando no preço alto do frete para o consumidor. “O barateamento do custo de logística vai chegar ao bolso do consumidor. Afinal, o preço do frete é fator impeditivo para a compra”.
De acordo com ele, a Mandaê promove até 35% de economia para as lojas virtuais. “Com nosso modelo de negócio, agregamos muito volume [de produtos], pegamos todas as encomendas de uma vez e conseguimos negociar um preço melhor com a transportadora”, disse Cunha.
A Mandaê é uma plataforma de tecnologia que conecta a encomenda a transportadora, motorista e consumidor.
Fonte: veja