A paralisação dos caminhoneiros ainda não afetou a concessão de crédito, mas, dependendo dos desdobramentos, pode se tornar um obstáculo adicional para as operações com pessoa jurídica. Esse foi o panorama traçado nos últimos dias pelos presidentes de três dos maiores bancos do país.
“Por enquanto, não temos sentido nenhum tipo de alteração no desembolso do crédito”, disse ontem o presidente do Banco do Brasil (BB), Paulo Caffarelli, a jornalistas. “As operações têm se mostrado dentro da nossa perspectiva.”
Dois fatores contribuem para que a concessão de crédito esteja dentro do normal, segundo o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari. Um deles é que 90% das transações bancárias são feitas por meio dos canais digitais e não das agências físicas. O outro é que a maior demanda tem sido por linhas de consignado, financiamento de veículos e crédito imobiliário, que não têm relação com o movimento dos caminhoneiros. “Nossa produção de crédito não diminuiu nos últimos dias”, afirmou.
Na segunda-feira, o presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, afirmou ao Valor que a greve dos caminhoneiros ainda não havia causado impacto significativo nas operações do banco.
Os executivos, no entanto, manifestaram preocupação com o impacto da paralisação na produção econômica. Para o presidente do Bradesco, a economia brasileira estava subindo uma montanha e, agora, será necessário pegar tração novamente. “Escorregamos e voltamos para trás. Agora vai demorar um pouquinho porque temos que pegar tração na subida”, disse, em apresentação no Brasil Investment Forum.
Segundo Lazari, a greve poderia ter efeito negativo sobre o crédito à pessoa jurídica. No entanto, ele ressaltou que a demanda das empresas por recursos já estava baixa mesmo antes disso, o que minimiza o impacto potencial. A expectativa do executivo é que o movimento não afete o desempenho do banco no crédito no segundo trimestre. “Voltando os combustíveis nos postos, voltando o abastecimento nos supermercados, essa memória se apaga rapidamente”, observou.
Caffarelli, por sua vez, disse que ainda é cedo para saber se haverá impacto nos números do segundo trimestre. “Não tem como afirmar isso neste momento”, ressaltou. O presidente do BB afirmou que há companhias que enfrentam dificuldades porque foram forçadas a suspender a produção. De acordo com ele, o banco poderá analisar a possibilidade de alongamento de pagamentos nesses casos. “Mas é muito cedo para falar. Tem que esperar para ver a extensão.”
Bracher, do Itaú, disse na segunda-feira que esperava o fim da paralisação, mas ponderou que uma eventual continuidade gerava o risco de contaminação de outros setores e desorganização da produção.
Fonte: Valor Economico