Bancos pequenos e médios vão competir na emissão de boletos

O serviço de emissão de boletos de pagamento pode deixar de ser um negócio dominado pelos grandes bancos. A falta de uma rede de agências, principal barreira para a entrada de instituições de pequeno e médio porte nesse mercado, começou a ser derrubada com a nova plataforma de cobrança, que permitirá o pagamento de boletos em toda a rede bancária mesmo após a data de vencimento.

O volume de boletos liquidados é da ordem de 4 bilhões por ano, de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). As instituições financeiras cobram uma tarifa por título emitido, que varia conforme o relacionamento com o cliente, mas que costuma variar entre R$ 1,50 e R$ 5,50. É de olho no potencial desse mercado que os bancos menores e empresas de meios de pagamento se movimentam.

O estímulo à concorrência foi uma espécie de “efeito colateral” da nova plataforma de cobrança. “Era algo esperado e até bem vindo, mas não o principal objetivo do projeto”, diz um executivo que acompanha o assunto. O sistema foi criado para coibir fraudes na emissão de boletos.

Sem o registro, o banco só toma conhecimento da emissão do boleto quando o documento bate na compensação, o que facilita a ação dos criminosos. As perdas com fraudes em boletos bancários somaram R$ 383 milhões em 2016, alta de 2,5% em relação ao ano anterior, de acordo com o último dado disponível da Febraban.

Com o novo sistema, que está em fase de implantação, todos os boletos passarão a ser registrados em uma única plataforma. No momento em que o cliente fizer pagamento da cobrança, os dados do código de barras serão comparados com os do sistema. Se as informações não baterem, existem duas possibilidades: ou o boleto foi fraudado ou não foi registrado. O registro não é obrigatório, mas as cobranças que não estiverem na base só poderão ser pagas no banco que emitiu o boleto.

A previsão inicial era que o sistema estivesse plenamente em operação no fim do ano passado, mas o projeto vem sofrendo constantes adiamentos. Atualmente, apenas os boletos com valor acima de R$ 800 precisam ser registrados. A expectativa da Febraban agora é que todas as cobranças, inclusive as de cartão de crédito e de doações, estejam na plataforma a partir do dia 10 de novembro.

Antes do sistema de registro, as instituições financeiras sem uma rede de agências precisavam contratar os serviços de emissão de boletos de um grande banco para fazer suas cobranças ou em nome de clientes. Isso porque, após a data de vencimento, o pagamento só podia ser feito na instituição que emitiu o título, o que dificultava o recebimento.

“Agora, qualquer um pode emitir cobranças e fazer recebimentos nas mesmas condições dos grandes bancos”, afirmou o diretor de uma instituição que atua no financiamento ao varejo e emite pouco mais de 1 milhão de boletos por mês.

Com a nova plataforma, o banco já tomou a decisão de emitir os próprios boletos e já está fazendo os primeiros testes, segundo o executivo, que pediu para não ser identificado. Além de economizar na tarifa que hoje paga aos grandes bancos, o diretor não descarta a possibilidade de prestar serviços de emissão de boletos a terceiros.

A novidade também deve beneficiar as novas empresas de tecnologia financeira (fintechs). A Pinbank, que oferece conta digital e serviços de pagamentos para pessoas jurídicas, já emite 80% dos boletos dentro de casa. Antes do sistema que permite o pagamento de títulos vencidos em qualquer instituição, todos os boletos da fintech eram emitidos por grandes bancos.

A fintech emite hoje 50 mil boletos por mês. “É um número ainda pequeno, mas que esperamos alavancar com o boleto eletrônico”, diz Ricardo Barletti, diretor da Pinbank.

Outra novidade deve favorecer as instituições menores interessadas em atuar no ramo: o chamado “open banking”, segundo Almir Carrion, diretor de marketing e produtos da C&M Software, que presta serviços para bancos. Com a tecnologia que permite a terceiros acessar recursos de contas, desde que com autorização, os boletos podem ser gerados diretamente pelo cliente da instituição financeira.

Mesmo perdendo uma parte da receita, os grandes bancos manterão a remuneração pelo serviço de recebimento dos boletos. Para cada título de outra instituição pago em sua rede de agências ou pelos canais digitais, os bancos cobram até R$ 1,08, segundo um profissional.

A emissão de boletos ajuda a engordar as receitas com prestação de serviços, que ganharam importância no resultado dos bancos com o desempenho fraco do crédito nos últimos anos. No primeiro trimestre, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa Econômica registraram um ganho de R$ 33,4 bilhões com a cobrança de tarifas, alta de 7,1% em relação ao mesmo período do ano passado.

Fonte: Blog Televendas