O volume de recursos movimentados por cartões pré-pagos no país atingiu R$ 2,2 bilhões no primeiro trimestre deste ano, um salto de 63% em relação ao mesmo período do ano passado (R$ 1,35 bilhão). O serviço é muito usado, por exemplo, por pessoas sem conta em banco, endividados com o nome sujo ou pais que querem controlar a mesada dos filhos. Os dados são da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços).
O valor ainda é pouco se comparado com os tradicionais cartões de débito e crédito, que somaram operações de R$ 353,2 bilhões no período. Mas cresce bem mais rápido do que eles: as movimentações por débito subiram 12,6% e, por crédito, 14,6%.
A opção do pré-pago ficou mais conhecida por suas versões de nicho, que vieram primeiro, como os vale-presentes de lojas e os cartões de recarga para viagens internacionais. “Mas agora estão virando meio de pagamento também”, disse Ricardo Vieira, diretor-executivo da Abecs.
“A pessoa adquire o cartão, coloca R$ 1.000 de crédito e pode gastar os R$ 1.000. No Brasil, onde a presença do telefone pré-pago é muito forte, ele se disseminou muito rápido, com crescimento na menor renda e nos não bancarizados.”
Opção para conta em banco e cartão de crédito
O uso dos cartões pré-pago é relativamente simples. Basta abrir uma conta na empresa emissora, que pode ser um banco ou não, depositar o valor desejado e sair usando.
Como eles possuem bandeira como qualquer outro cartão de débito ou crédito, são aceitos nos mesmos estabelecimentos que eles, inclusive em outros países (embora, para as compras fora, também estejam sujeitos à cobrança de 6,38% de IOF).
Suas particularidades estão no fato de não exigir conta corrente em banco (como cartão de débito) ou aprovação de crédito e renda mínima (como cartão de crédito).
“É um pouco dos dois”, diz Vieira. “Funciona como um cartão de crédito [é a opção que deve ser selecionada nas maquininhas e sites na hora do pagamento], mas, na prática, é como um débito, porque está tirando o dinheiro de uma conta, só não é uma conta corrente, mas uma conta pré-paga.”
Podem ser pedidos pela internet ou comprados e recarregados em lojas e supermercados parceiros.
As opções de recarga também variam: pode ser nas lojas parceiras, por transferência ou boleto bancário. Quem não tem conta pode pagar em dinheiro no caixa dos bancos como uma conta de cobrança qualquer.
É por isso que um dos principais públicos dos pré-pagos são pessoas que não têm conta em banco –um universo de 50 milhões de brasileiros, ou cerca da metade da população adulta do país. Inclui uma boa parte das famílias de baixa renda, profissionais autônomos, donas de casa e pessoas que vivem afastadas dos grandes centros e sem acesso fácil a agências bancárias.
Como são aceitos também para compras pela internet, o que muitas vezes não é possível com um cartão de débito convencional, viraram opção ainda para aqueles que não têm cartão de crédito (embora não permita parcelamento das compras).
Controle de gastos e mesada digital
Outro grande púbico potencial do cartão pré-pago são os endividados. Não só porque, na maior parte das opções, não há exigência de análise de crédito ou restrições a nome sujo, mas também porque funciona, por natureza, como uma ferramenta de controle de gastos.
“O cartão pré-pago tem um forte caráter de disciplina financeira”, disse Ione Amorim, economista do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor). “Ele só permite gastar o saldo que está disponível, o que impede o endividamento e aumenta o controle.”
Esqueça, então, opções como limite, cheque especial, empréstimo ou parcelamentos na conta pré-paga: quando o saldo depositado acaba, as compras passam a ser recusadas no pagamento, exatamente como as ligações em um celular pré-pago quando acabam os créditos.
Ione menciona também que a natureza de educação financeira acabou criando um outro mercado que cresce para os pré-pagos: as mesadas. “É uma ferramenta interessante para dar dinheiro para os filhos, que muitas vezes ainda não têm conta bancária.”
Algumas empresas de cartão pré-pago possuem soluções específicas para pais e filhos, que permitem ao jovem acompanhar os gastos pelo celular e, ao pai, controlar as transferências e saldos.
Maior cobrança de taxas exige atenção
A economista do Idec diz que é preciso prestar atenção às taxas dos cartões pré-pagos. Dependendo do uso, podem sair mais caras do que manter uma conta corrente com cartão convencional no banco e exigem atenção.
“Não é uma opção para substituir o cartão de quem já tem conta; há taxas por movimentação e não faz muito sentido”, afirma. “A pessoa deve pesquisar bem que pacote de serviços irá contratar”.
Os cartões pré-pagos não costumam ter anuidade, mas cobram valores por serviço e por movimentação. Saques, transferências, emissão, pedidos de segunda via e recargas são alguns dos itens com cobrança à parte, o que varia de instituição a instituição.
Alguns dos principais bancos já possuem cartões pré-pagos para compras dentro do país, em geral como opção adicional de pagamento e de controle para os correntistas e seus dependentes. Há também opções oferecidas por empresas especializadas em pagamentos, que dispensam o relacionamento bancário para a emissão.
Fonte: Blog Televendas