São poucas as instituições médias, atualmente, que não fizeram pelo menos algum estudo sobre o assunto
O movimento crescente de abertura de plataformas digitais de investimento por bancos médios deve acirrar a competição com as corretoras pelas pessoas físicas. Além de aderir à irreversível tendência da desbancarização por meio de novas ferramentas tecnológicas, essas instituições trazem para casa um investidor que provou ser, nos últimos anos, uma eficiente fonte de captação de recursos. Ao lado da proteção proporcionada ao investidor pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), é indiscutível a tranquilidade que as plataformas de investimento das corretoras, puxada pela XP, trouxeram as necessidades de captação de recursos dos bancos médios.
O banco ABC Brasil, por exemplo, historicamente focado na prestação de crédito e serviços para empresas, entra no terreno das pessoas físicas, por meio do lançamento, semana que vem, de sua própria plataforma de investimento. Para tatear o novo mercado, a instituição vai distribuir inicialmente seus próprios produtos, mas não descarta abrir sua plataforma futuramente seguindo o movimento da indústria.
São poucas as instituições médias, atualmente, que não fizeram pelo menos algum estudo sobre o assunto. Uma das questões ainda presentes, entretanto, são as vantagens e desvantagens de se manter uma estrutura aberta, trazendo o risco de atrair investidores, ou funding, para seus concorrentes. Isso pode ocorrer em casos nos quais os produtos dos “vizinhos”, como certificados de crédito bancário (CDBs) e letras financeiras (Lfs), eventualmente proporcionem uma melhor opção de investimento.
“Há conflito natural para balizar produtos, dada a possibilidade de o banco trazer um problema para o papel de sua própria instituição. Isso é muito discutido no mercado atualmente”, diz Jean Lopes, analista sênior de bancos estaduais e instituições financeiras não bancárias. Segundo ele, alguns bancos ainda resistem em abrir suas plataformas para não criar concorrência com seus próprios produtos.
A manutenção de plataformas fechadas é vista na própria indústria, porém, como uma questão de tempo, já que a oferta de opções de investimento digitais para as pessoas físicas cresce vertiginosamente também por meio das fintechs. Paralelamente, existe a percepção de que as plataformas das corretoras continuarão sendo necessárias.
“As corretoras agregam valor aos produtos dos bancos médios e pequenos, à medida que trazem um volume grande de funding para as instituições e de forma pulverizada”, observou Helena Lopes Caldeira, Superintendente de Relação com Investidores e Planejamento Financeiro do Banco Inter. Ela pontua ainda que, para ter sua própria plataforma é necessário massa crítica, ou seja, uma capilaridade para captação junto as pessoas físicas capaz suficiente para sustentar as operações do banco. “Ter plataforma própria vale a pena se o custo de captação é inferior ao da aberta, o que exige escala”, comenta.
O Inter tem os dois tipos de plataforma, fechada no banco e aberta em sua distribuidora de títulos. Contando com 535 mil contas digitais, Helena diz que o banco tem captação suficiente para crédito, enquanto o excedente é alocado em produtos da plataforma aberta. “Temos capacidade de captar funding tão grande que podemos distribuir papéis de outros bancos e outros tipos de investimento por meio da plataforma aberta”, conta.
O Sofisa, que mantém sua plataforma fechada desde 2011, não prevê sua abertura no curto prazo. “Não descartamos, mas não consideramos, dentro de nossa estratégia, que seja este o momento”, disse João Ceneviva, responsável pela Tesouraria do Sofisa. Segundo ele, o banco trabalha nesse momento para agregar serviços à sua plataforma digital, atendendo as necessidades de seus clientes. “Se houver demanda, faremos”, completou. Ceneviva afirma ainda que, a fatia de funding vinda da plataforma de terceiros é, para a instituição pouco relevante.
Fonte: Estadão