O crédito para as pessoas físicas voltou a crescer, mas há um lado sombrio nessa expansão. Fazer dívida para pagar dívida ou parcelar os gastos do dia a dia tem sido um comportamento que se consolida entre pessoas físicas, diante da pífia recuperação do emprego e da renda. “Três motivações têm ficado mais fortes para a tomada de recursos: tentativa de limpar o nome, refinanciar ou até liquidar dívidas mais caras e tentar ganhar fôlego no orçamento”, afirma o professor de economia do Insper, Otto Nogami.
Os números do Banco Central (BC) sobre crédito bancário mostram que a taxa de endividamento das famílias, excluído o financiamento habitacional, caiu ao longo de 2017. A partir de janeiro deste ano, porém, voltou a crescer todo mês e, em maio – último dado conhecido -, atingiu 23,3% da renda acumulada em 12 meses, maior patamar em 14 meses.
O comprometimento da renda das famílias com o serviço de dívidas, sem financiamento habitacional, apresentou comportamento semelhante. O índice de 17,77% em maio é o maior em oito meses, embora algo confortável, em relação à máxima histórica de 21,34%, de novembro de 2011.
Esse avanço, porém, revela-se concentrado em itens do dia a dia. Gastos com supermercados, alimentos e bebidas, por exemplo, representaram o maior peso desse crescimento, com subidas de 15,4%, em março, 0,1%, em abril, e 8%, em maio. Bens de consumo duráveis, como móveis e eletrodomésticos, que em geral acompanham a melhora da renda e da economia, patinaram no período.
Pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) feita em julho indica que quase metade (46%) das pessoas que usaram cheque especial, uma das linhas de crédito mais caras, utilizaram os recursos para quitar dívidas, cobrir gastos de emergência e amenizar o descontrole das contas. Outro levantamento do SPC revela que 20% dos usuários enxergam o cartão de crédito como extensão da própria renda.
Fonte: Valor Economica