Até junho, 38,4 mil vagas com carteira assinada foram encerradas na região; sem essas demissões, a geração de emprego no País teria sido 21% maior
RIO E SÃO PAULO – Em meio à ressaca dos Jogos Olímpicos e a uma grave crise fiscal, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro é a campeã brasileira no fechamento de vagas com carteira assinada, considerando números absolutos. Ao todo, 38,4 mil pessoas foram demitidas nos últimos 12 meses encerrados em junho.
Se a Região Metropolitana do Rio não tivesse registrado demissões no período analisado, o resultado da criação de vagas no País teria sido quase 21% maior (de 185,6 mil postos para 224 mil). A análise foi feita pelo economista Tiago Barreira, do Ibre/FGV, a partir de dados Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
“Em agosto de 2017, houve os primeiros sinais de retomada no Brasil. Mas, desde então, o Rio, que é a segunda maior economia do País, não conseguiu virar o jogo”, diz o economista William Figueiredo, da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). “A paralisação do Rio limita a recuperação brasileira.”
Impulsionado pelas obras de infraestrutura para a Olimpíada, realizada em 2016, o Rio tinha um nível de desemprego abaixo da média brasileira até o evento esportivo, o que se reverteu depois, explica Barreira. O setor da construção foi justamente o que mais demitiu nos últimos 12 meses, com 11,5 mil vagas fechadas.
Como resultado, o Estado do Rio tem a sexta maior taxa de desemprego do País, conforme apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No segundo trimestre, a taxa ficou em 15,4%, ante 13,6% em São Paulo.
O trabalhador Jefferson da Silva Teixeira dos Santos, de 25 anos, por exemplo, está sem emprego formal há dois anos. Ele atuava na construção desde 2011 e sua última obra foi no bairro do Recreio, na zona oeste, perto do Parque Olímpico. Hoje, vive das diárias que consegue como guardião de piscinas em condomínios de classe alta do Rio. Sua mulher passou a reforçar o orçamento familiar como auxiliar em uma creche. “O dinheiro da minha diária e o salário dela não chegam à renda que eu ganhava na construção civil como servente de obra”, conta. “Estou perdendo a esperança. Já gastei muito dinheiro distribuindo currículo.”
Na lanterna. A tendência para o mercado de trabalho da região é negativa pelo menos até o fim deste ano, afirma o economista Cosmo Donato, da LCA. “O ajuste no mercado brasileiro já foi feito, mas, no Rio, ainda não terminou.” Segundo ele, as vagas com carteira assinada da Região Metropolitana do Rio correspondem a 6,4% do total do País. “Em 30 meses, houve queda de 0,5 ponto porcentual. É um número expressivo para um universo de 38 milhões de brasileiros.”
Para o economista Thiago Xavier, da Tendências, a crise fiscal do Estado afeta a expectativa do empresariado, reduzindo a possibilidade de contratações. A equipe econômica da Firjan estima que o Produto Interno Bruto (PIB) regional do Rio teve queda de 1,1% no ano passado (o dado do IBGE é divulgado com dois anos de defasagem), enquanto no País a atividade econômica avançou 1,0% – ou seja, no Rio, a recessão durou mais tempo.
Além de ter atingido o consumo das famílias, por causa dos atrasos nos pagamentos dos salários de servidores públicos da ativa, aposentados e pensionistas – os atrasos começaram no início de 2016, e os pagamentos só voltaram a ficar regulares no início deste ano –, a crise fiscal também contribuiu para piorar os indicadores de segurança pública, afetando o movimento no comércio e no turismo.
Parte do problema fiscal se deveu à crise da Petrobrás, atingida pelas investigações da Operação Lava Jato e por problemas financeiros. Cortes nos investimentos da estatal atingiram em cheio a economia do Rio, maior produtor nacional de petróleo./ COLABOROU VINICIUS NEDER
Fonte: Estadão