Entrevista com o vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2017 aponta como os jovens têm dificuldade para resistir à tentação de gastar no momento presente
As pessoas não são totalmente racionais e nem sempre tomam a decisão que faz mais sentido – longe disso. Mas, apesar da tese parecer óbvia, a economia clássica sempre tratou os seres humanos como 100% racionais. Isso começou a mudar com os estudos de economia comportamental, que tem entre os seus “pais” o economista Richard Thaler, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2017.
Apesar dos momentos de irracionalidade, Thaler aponta que, felizmente, há maneiras de fazer com que as pessoas fiquem inclinadas a tomar uma decisão mais lógica. Isso acontece por meio de um nudge (empurrãozinho/cutucão): quando essas opções são oferecidas de forma a tornar a pessoa mais propensa a escolher o que mais a beneficia.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, ele falou sobre a relação dos jovens com o dinheiro. Entre as estratégias para tomar decisões melhores estão automatização de processos, orçamento planejado e sobretudo, dar valor à educação.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Quais são as ciladas mais comuns que os jovens costumam enfrentar nas finanças pessoais?
Jovens são propensos a cair em todas as armadilhas, já que a maioria é inexperiente e tem pouco treinamento formal. Eles têm tendência a serem impacientes, então podem ter dificuldades para resistir à tentação de gastar no momento presente. Para alguém de 20 anos, ter 40 anos é inimaginável; então, é difícil pensar em metas de longo prazo. O primeiro passo é aprender como viver com um orçamento. Pais podem ajudar ao dar uma pequena mesada para as crianças – aos oito anos, digamos – para elas se acostumarem a economizar.
O que os jovens podem fazer para dar “empurrões” que os façam economizar?
A melhor estratégia é tornar as coisas automáticas. Assim que alguém conseguir um emprego com alguma renda, essa pessoa deve abrir uma conta poupança para a qual o dinheiro é transferido. Esse é um bom caminho em direção à economia para aposentadoria.
O que o sr. acha que os jovens estão fazendo de errado?
O maior erro é sair da escola cedo demais. A educação é a melhor rota para o bem-estar financeiro. E nunca é tarde demais para remediar escolhas ruins. Mas, antes de escolher, pergunte-se que tipo de empregos os formados na área conseguem – e pense se você gostaria de ter esse emprego. A vida já é dura o suficiente. Tente conseguir um trabalho de que você goste e que te dê algum orgulho.
Há casos em que o mercado, via propaganda e afins, dá empurrões que fazem as pessoas tomarem decisões das quais provavelmente se arrependerão?
Sim. Sempre peço às pessoas para darem “empurrões para o bem”, mas empresas também podem dar empurrões por lucro. Chamo isso de sludge. Parte do papel dos governos deveria ser regular isso.
Quais são as melhores formas de se proteger?
É preciso aprender a ler pelo menos um pouco das letras miúdas. Faça perguntas como: o que acontece se eu quiser mudar de ideia? Posso cancelar a assinatura pela internet?
Existem bons empurrões que os governos podem dar?
Bom, posso dizer algo que infelizmente não funcionou muito bem, que é educação financeira. Ensinar juros compostos no ensino médio é louvável, mas não muito eficiente. O melhor treinamento é “na hora”: antes de comprar o primeiro carro, por exemplo, uma lição sobre financiamento versus leasing seria útil.
A educação financeira é ensinada da forma errada ou os assuntos errados são ensinados?
O problema com cursos de educação financeira é que eles vêm antes de os alunos enfrentarem decisões complicadas, como comprar uma casa ou carro ou fazer um cartão de crédito. Os cursos não são ruins, o mundo é que é difícil e nós não nos lembramos muito do que aprendemos no ensino médio. O que você ainda lembra de trigonometria? As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Exame.com