Para sobreviver, sindicatos incluem contribuição em negociações

Segundo a Fipe, cláusulas com contribuições feitas aos sindicatos dos trabalhadores, inclusive o velho imposto sindical, estiveram presentes  em 40,7% dos acordos concluídos este ano

Com o fim da obrigatoriedade da cobrança imposto sindical determinado pela reforma trabalhista, os sindicatos de trabalhadores incluíram essa cláusula na mesa de negociação com os patrões. De 16.133 convenções e acordos fechados de janeiro e agosto deste ano, o antigo imposto sindical esteve presente em 5,9% das negociações, revela o projeto Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Segundo o economista Hélio Zylberstajn, coordenador do projeto, os sindicatos estão dando um “jeitinho” de incluir esse quesito nas negociações para garantir a sua sobrevivência. Somando todas as contribuições feitas aos sindicatos  dos trabalhadores – não apenas o velho imposto sindical – essa foi a terceira cláusula mais negociada até agora. As contribuições associativa, confederativa, negocial, de serviços e o imposto sindical entre outras estiveram presentes  em 40,7% dos acordos e convenções concluídas este ano. Também foram terceira cláusula mais importante discutida nos acordos, perdendo apenas para os reajustes (53,4%) e o piso salarial (48,9%).

Até julho, o Salariômetro acompanhava  apenas três variáveis nas negociações salariais: o reajuste, o piso salarial e a PLR (Participação nos Lucros e Resultados). A partir de agora são 40 variáveis extraídas de dados públicos do Ministério do Trabalho, baseados na Cadastro geral de Empregados e Desempregados (Caged). Desta forma, observa Zylberstajn, será possível traçar um panorama mais fiel do mercado de trabalho, inclusive com dados regionais e segmentados por categoria profissional.

Reajuste zero

Um dado que chama atenção nos resultados de agosto é que, pelo segundo mês seguido, as negociações salariais tiveram reajuste real zero. Isto é, o aumento mediano dos salários  foi 3,5%, exatamente a inflação acumulada em 12 meses até agosto pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E é o indexador mais usados nas negociações salariais.

Zylberstajn explica que os ganhos reais de salários nas negociações ficaram mais difíceis porque houve uma aceleração na inflação acumulada em 12 meses em julho e agosto. De janeiro a junho, o movimento era exatamente no sentido oposto: a inflação em 12 meses era menor a cada mês e os sindicatos tinham mais facilidade para conseguir ganhos de salário acima da inflação.

Um ponto de destaque da nova pesquisa de negociações salariais é que a cláusula de recompensa por produtividade é a menos importante nos acordos  e convenções. Ela esteve presente em apenas 0,1% das negociações concluídas neste ano. “Não se premia a produtividade e isso espelha o assistencialismo nas negociações”, diz o economista.

Fonte: Estadão