Entenda melhor o movimento dos juros no rotativo do cartão de crédito

Esta semana, o Banco Central divulgou a média dos juros cobrados pelos bancos, em agosto, nas principais linhas de crédito. Destaque especial foi dado à elevação dos juros cobrados no rotativo do cartão de crédito, que passaram de 271,4% ao ano, ou 11,55% ao mês, em julho, para 274,0% ao ano, ou 11,62% ao mês, em agosto. Não propriamente pela variação, de 2,6 pontos porcentuais na base anual, mas pela inversão no movimento dessas taxas, que vinha sendo de queda nos quatro meses anteriores.

Esses dados nem sempre retratam com exatidão o que o consumidor encontrará pela frente, e de concreto, ao entrar no rotativo do cartão de crédito, e por três fatores.

Primeiro porque são taxas de agosto e já estamos no fim de setembro. Segundo porque se trata de uma média dos juros cobrados por todos os bancos autorizados pelo Banco Central a operar – dependendo da linha de crédito, a média é tirada pelos juros de 30, 40 ou mais de 50 instituições financeiras. E terceiro porque nessa média são considerados os juros dos três tipos de financiamento do cartão: rotativo regular, rotativo não regular e parcelado.

Com lupa

Ao fazer um recorte na evolução das taxas cobradas pelos cinco maiores bancos do País – Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander, em agosto, é possível chegar um pouco mais próximo da realidade. Essa média ficou em 233,5% ao ano, ou 10,56% ao mês, portanto, níveis abaixo da média divulgada pelo BC, de 274,0% ao ano.

Há que se supor, com isso, que outras instituições possam ter puxado essa média para cima. De fato, vale dizer que a Pernambucanas Financeira, por exemplo, cobra no rotativo um juro de 17% ao mês ou 559% ao ano, a Dacasa Financeira, de 18% ao mês ou 630% ao ano, o Banco Triângulo, de 18,5% ao mês ou 664% ao ano e a Lecca, de 21% ao mês ou 851% ao ano.

Ao mesmo tempo, outros bancos puxaram a média do rotativo para baixo, como o BMG que tem uma taxa de 3,7% ao mês, ou 56% ao ano, na mesma linha de crédito; o Caruana, de 4,3% ao mês, ou 66% ao ano; o Daycoval, de 4,5% ao mês ou 70% ao ano; e o Olá Bonsucesso de 5,1% ao mês ou 81,94% ao ano.

Como se vê, a diferença é estrondosa entre a média e os dois extremos de níveis das taxas. Não se trata apenas de números ou estatísticas, isso tem um efeito concreto e pode fazer maior ou menor estrago em qualquer orçamento. Mais transparência na divulgação dessas taxas poderia ajudar o consumidor a optar por condições que lhe são mais favoráveis, evitando que seu bolso seja esfolado.

Concentração bancária

Ainda considerando os juros do rotativo cobrados pelos cinco grandes bancos do mercado, é possível mostrar o custo do dinheiro para a maioria dos brasileiros. Afinal, juntos, eles respondem por algo superior a 80% das operações de crédito no País. A excessiva concentração bancária é também um dos fatores responsáveis pela permanência dos juros do crédito nas alturas, em detrimento da taxa básica da economia que está no nível mais baixo da história.

Média do rotativo – ao ano

Banco                            Agosto (*)                  Setembro (**)

BB                                        192,9%                           195,2%

Itaú                                      218,2%                           218,3%

Santander                           247,4%                            249,3%

Caixa                                    247,8%                            249,3%

Bradesco                             266,2%                            258,6%

(*) de 1 a 30 de agosto

(**) de 1 a 13 de setembro

Diferenças entre rotativos

Mesmo observando o comportamento dos juros em cada banco, mais uma vez, convém usar a lupa, porque dentro dessa média do rotativo estão o regular, o não regular e o parcelado, esse último em volume bem menor que os dois primeiros.

No rotativo regular, quando há o pagamento mínimo do saldo devedor, houve queda: pelos dados do BC, na média, os juros caíram de 252,1% para 250,3% ao ano (11% ao mês), de julho para agosto.

Com os cálculos feitos a partir de dados do BC, banco a banco, é possível notar que só os juros do Bradesco estão acima da média de mercado; que os juros do rotativo regular são mais baixos que os do não regular, puxando a média geral do rotativo para baixo; só o Bradesco tem os juros mais altos no regular em comparação com o não regular.                        

                                  Média do rotativo regular

Banco                       Agosto (*)                  Setembro (**)

BB                                  172,2%                           167,8%

Itaú                                217,1%                           218,1%

Caixa                             243,1%                            244,5%

Santander                    245,8%                            247,8%

Bradesco                      308,5%                            292,0%

(*) de 1 a 30 de agosto

(**) de 1 a 13 de setembro

Já no rotativo não regular, quando não há o pagamento mínimo, de acordo com o BC, as taxas subiram de 285,2% para 291,3% ao ano (12% ao mês). Na comparação entre as tabelas, fica mais fácil compreender que os juros do não regular é que puxaram para cima a média do rotativo em agosto, e agora estão mostrando uma certa estabilidade em setembro.

                              Média do rotativo não regular

Banco                      Agosto (*)                  Setembro (**)

BB                                  212,4%                           213,9%

Itaú                                218,4%                           218,4%

Caixa                             250,6%                            252,8%

Bradesco                      253,0%                            251,8%

Santander                    272,5%                            272,2%

(*) de 1 a 30 de agosto

(**) de 1 a 13 de setembro

Tudo para mostrar que a média das taxas divulgada pelo BC pode ser um parâmetro de mercado, mas nem sempre vai refletir a prática, e para dizer que o consumidor deve evitar ao máximo cair no rotativo do cartão, porque não há bolso que resista ao crescimento da dívida de 10 a 12% ao mês só por conta dos juros. Ao perceber que não vai conseguir fazer o pagamento integral da fatura, não é preciso pensar duas vezes em tentar conseguir um dinheiro mais barato, pelo crédito pessoal ou pelo consignado.

Fonte: Estadão