SÃO PAULO – O Bradesco obteve lucro líquido recorrente de R$ 5,471 bilhões no terceiro trimestre, aumento de 13,7% na comparação com o resultado obtido no mesmo período de 2017. O resultado superou as estimativas de analistas consultados pelo Valor, que projetavam ganho médio de R$ 5,26 bilhões para o banco.
O lucro líquido contábil subiu 73,7%, para R$ 5,009 bilhões. Porém, no terceiro trimestre de 2017, o resultado foi influenciado por despesas não recorrentes com um programa de demissões voluntárias.
A margem financeira total do Bradesco alcançou R$ 15,749 bilhões entre julho e setembro, com alta de 4,4% em relação aos três meses antecedentes deste ano e de 2,5% frente ao mesmo intervalo de 2017.
As despesas com provisões para perdas no crédito, incluindo baixas contábeis de títulos financeiros, recuaram 23,3% na comparação com um ano antes, ficando em R$ 3,512 bilhões. Houve aumento de 2,2% em relação ao segundo trimestre, refletindo a aceleração no crédito. As receitas de prestação de serviços totalizaram R$ 8,072 bilhões no trimestre, avanço de 3,2% ante julho e setembro do calendário anterior. No entanto, caíram 0,6% frente aos meses de abril a junho deste ano. Os prêmios emitidos de seguros, contribuição previdenciária e receitas de capitalização somaram R$ 17,588 bilhões de julho a setembro, o que representa queda de 5,6% frente ao terceiro trimestre de 2017. Em relação ao segundo trimestre de 2018, o recuo foi de 3,5%.
Inadimplência O Bradesco registrou ainda inadimplência em queda. A taxa de operações com atraso superior a 90 dias era de 3,63% no fim de setembro, ante 3,92% em junho e 4,8% em setembro de 2017.
Foi o sexto trimestre consecutivo de redução do indicador de calotes. A inadimplência melhorou em todos os segmentos de atuação do banco. Em pessoas físicas, a taxa de calotes baixou para 4,66% do estoque de crédito desse grupo. O indicador diminuiu 0,15 ponto percentual em três meses e 1,14 ponto em um ano.
Na carteira de grandes empresas, a inadimplência cedeu para 1,47 no fim do terceiro trimestre, de 1,68% em junho e 1,8% em setembro do calendário anterior. A inadimplência de micro, pequenas e médias empresas fechou setembro em 4,46%, decréscimo de 0,54 ponto percentual no trimestre e de 2,14 pontos em 12 meses.
De acordo com o Bradesco, a queda da inadimplência reflete a melhor qualidade das novas safras de empréstimos e financiamentos e os ajustes feitos nos processos de concessão e recuperação de crédito.
“Todos os segmentos apresentaram melhora no índice desde o início de 2018, com destaque para os segmentos de micro, pequenas e médias empresas e de pessoas físicas, que foi beneficiado também, pela alteração do mix da carteira realizado ao longo dos períodos. Desde o pico da inadimplência em março de 2017 , o índice total apresenta redução de 2 pontos percentuais”, ressaltou o Bradesco no relatório que acompanha as demonstrações financeiras.
Carteira A carteira de crédito expandida do Bradesco, que inclui avais, fianças e títulos, chegou ao fim de setembro em R$ 523,431 bilhões. O volume representa aumento de 1,5% em relação a junho e de 7,5% na comparação com o término do terceiro trimestre do ano anterior.
Se excluída a variação cambial dos três meses encerrados em setembro, que afeta sobretudo operações com grandes empresas, o crescimento teria sido de 1,2% e 5,6%, respectivamente. O banco obteve desempenho positivo tanto no segmento de pessoas físicas quanto no de empresas.
A carteira de pessoas físicas somava R$ 186,159 bilhões no encerramento do terceiro trimestre, o que representa aumento de 1,8% em três meses e de 8,1% em um ano. As carteiras de consignado, crédito pessoal e financiamento imobiliário foram destaques positivos.
O portfólio de pessoas jurídicas cresceu 1,3% em relação a junho e 7,2% na comparação com um ano antes, chegando a R$ 337,272 bilhões no fim do terceiro trimestre de 2018. Financiamento à exportação e operações no exterior, influenciadas pela variação cambial, foram as linhas de maior crescimento nos dois intervalos. Operações que envolvem emissões de títulos também cresceram na comparação anual. Modalidades como financiamento imobiliário e repasses do BNDES ainda mostraram queda.
Rentabilidade O Bradesco obteve, no terceiro trimestre deste ano, sua melhor rentabilidade em quase três anos — momentos em que a crise econômica começou a mostrar impacto no crédito. O retorno sobre o patrimônio líquido médio anualizado (ROAE, na sigla em inglês) do banco foi de 19% entre os meses de julho e setembro. Foi o melhor patamar alcançado pela instituição desde os 20,5% entregues no quarto trimestre de 2015.
O desempenho coloca o banco novamente no páreo para disputar o status de segunda melhor rentabilidade entre as grandes instituições, posição perdida para o Santander nos três últimos meses de 2017. No período de julho a setembro deste ano, a unidade brasileira do banco espanhol gerou retorno de 19,5% em termos ajustados. No Itaú Unibanco, o indicador ficou em 21,3%.
Há espaço para crescer mais, disse o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, em teleconferências com jornalistas e analistas nesta quinta-feira (1º de novembro). O executivo afirmou que uma faixa de retorno entre 18% e 21% é possível para o banco agora que o cenário econômico está melhorando. Em estimativa anterior, ele havia apontado 20% como teto.
Agora, Lazari disse que o patamar de 20% “não é linha de chegada, mas ponto de partida”. Nos dois últimos anos, o Bradesco oscilou entre 17% e 19%.
Retomada dos investimentos
A grande razão para a melhora é a perspectiva de um crescimento mais forte do crédito, com a possibilidade de retomada dos investimentos das empresas. Soma-se a esse cenário a redução da volatilidade e do risco de calotes. “Tudo isso nos faz crer que a carteira de crédito deve andar, e andar bem”, ressaltou Lazari.
Apesar da tendência de queda nos spreads, os bancos têm priorizado o crédito a pessoas físicas e pequenas empresas — clientes que, no geral, pagam taxas mais elevadas — e também linhas com melhores garantias. Com essa estratégia e um aumento do volume de operações, as margens começam a reagir positivamente.
“Em um cenário em que o PIB do Brasil tende a se recuperar, nós acreditamos que o retorno sobre o patrimônio líquido do Bradesco tem espaço para se expandir e recuperar a distância para o principal competidor, o Itaú Unibanco, e também para recuperar o lugar nesse quesito, perdido recentemente para o Santander”, afirmaram analistas do BTG Pactual em relatório a clientes.