Ainda incipiente entre as grandes seguradoras, as redes de blockchain começam a ganhar adeptos com a promessa de diminuir custos e aumentar a precisão na avaliação de riscos. A tecnologia permite o registro e o acompanhamento das transações de forma digital aumentando a transparência entre segurador e segurado, reduzindo a burocracia e o tempo necessário entre o sinistro e o pagamento do prêmio.
A plataforma garante maior segurança e transparência na troca de informações com os clientes, além de facilitar o controle dos corretores. “O blockchain está para a indústria seguradora assim como o streaming de dados está para a indústria da música”, afirma o CEO da 88i, Rodrigo Ventura.
A rede é adequada ao mercado de seguros pois envolve múltiplos agentes, compartilhamento de decisões e o registro histórico das transações, documentadas segundo uma regra de consenso.
A criação de padrões e regras únicas em uma base de dados pública permite a validação das informações entre os participantes, incluindo seguradoras, resseguradoras, corretores e prestadores de serviço, explica Pedro Birindelli, gerente sênior da Cosin Consulting.
A Seguros Sura adotou a tecnologia no processo de gravação e envio de apólices, endossos e boletos por meio de contratos inteligentes (os chamados “smart contracts”). A tecnologia blockchain não permite que as informações sejam alteradas ao longo do tempo e a validação se torna pública com data e hora da transação, tornando o processo transparente de ponta a ponta, explica Eduardo Guedes, vice-presidente de tecnologia e operações da Sura.
A empresa adotou a plataforma Ethereum, de código aberto, que executa aplicações descentralizadas. Os contratos são protocolos computacionais que garantem a execução de determinadas ações com regras fixas, e as partes permanecem anônimas. Se as condições que estão no código forem alcançadas, os acordos são fechados automaticamente. Esses eventos são registrados em blocos imutáveis de dados em diversos servidores, excluindo a possibilidade de fraude ou de interferência de terceiro, dando confiabilidade e consenso às informações.
A Sura começou a usar o blockchain em 2017 para a validação de documentos e assegurar as confirmações de entrega, leitura e clique nas mensagens. Além de dar assinatura legal a esses contratos, permite ao cliente e corretor visualizar todo o processo, dando mais confiança em um caso de sinistro.
A tecnologia permitiu uma redução de mais de 20% na inadimplência em todas as linhas de produtos da Sura, e diminuição de 32% no índice de reemissão de documentos de cobrança, apólices, boletos e endosso, diminuindo o retrabalho e correção dos contratos, destaca Guedes.
O corretor tem a garantia que a seguradora emitiu exatamente o que foi enviado na proposta. Outro ponto que contribuiu para a adoção da plataforma foi o engajamento dos parceiros de negócios. “Mostramos que os processos ficariam mais eficientes em todas as etapas e resultaria em ganhos reais de ponta a ponta”, completa o vice-presidente de tecnologia da Sura.
A empresa estuda a adoção da tecnologia em outras áreas como a de averbação diária (comunicação de embarques) para seguros de transportes, onde os documentos tradicionais como apólice, endossos, propostas e documentos de cobrança de seguros necessitam de validações demoradas por serem feitas manualmente.
A insurtec 88i que atua no mercado de seguros de telefones celulares, acidentes pessoais, despesas médicas e hospitalares, adotou a tecnologia blockchain no início de sua operação em 2018. Por meio das redes NEM e RSK a informação do que foi contratado fica disponível em tempo real para o cliente e para a seguradora, sem a necessidade de recorrer a papéis para verificar contratos que podem ser acessados no telefone celular.
“A tendência será o uso de criptomoedas para o pagamento imediato de incidentes mais simples, como atrasos de voo ou quebra de vidro de um celular”, afirma Rodrigo Ventura, CEO da 88i.
O grupo Bradesco Seguros começou a testar a tecnologia na área de saúde e deve implantar a plataforma entre 2019 e 2020. Segundo Curt Zimmermann, diretor responsável pelas áreas de TI e operações do grupo, o objetivo é permitir a transferência de dados imutáveis entre as empresas aumentando a confiabilidade e simplificando os processos.
Para Pedro Birindelli, da Cosin Consulting, o uso do blockchain nos seguros vai além da redução de custos e aumento da eficiência dos processos, inaugurando um novo modelo de negócios.
A plataforma, quando parte de uma organização autônoma descentralizada, pode gerenciar e executar um esquema colaborativo de compartilhamento de risco com a formação de grupos de pessoas de interesse comum, como, por exemplo, o prejuízo causado pela inutilização de um aparelho celular, seja por roubo ou acidente.
Os membros do grupo depositam uma quantia em uma conta que fica sob a gestão da plataforma e, durante um determinado período, esse valor fica disponível para ser transferido para o membro que tiver seu aparelho inutilizado. Ao final do período, a quantia remanescente é dividida entre as pessoas do grupo.