BC quer que banco barateie crédito a quem fizer curso de educação financeira

O Banco Central (BC) trabalha na construção de um programa, em parceria com os bancos, para que os tomadores de crédito que realizem cursos e treinamentos em educação financeira sejam beneficiados com descontos nas taxas de seus financiamentos.

Em entrevista ao Valor, o diretor de relacionamento institucional e cidadania do BC, Maurício Moura, afirmou que a ideia, já em discussão com as instituições financeiras, é que as primeiras ações nesse sentido sejam implementadas pelos bancos até o início do próximo ano.

Os cursos serão oferecidos sempre por meio de soluções digitais, seja via aplicativos para celular ou sites na Internet. Os bancos poderão criar programas de educação próprios, mas a expectativa de Moura é que as instituições privilegiem parcerias com provedores de educação financeira especializados.

A educação financeira já faz parte da Agenda BC+ – que relaciona as ações prioritárias da autarquia voltadas para o barateamento do crédito e para o aumento da eficiência do sistema financeiro -, mas o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, tem frisado a decisão de fortalecer as iniciativas na área. Na sexta-feira, o banco anunciou que a nova versão da agenda será denominada “BC#”, com medidas nas dimensões inclusão financeira, competitividade, transparência e educação.

Campos mencionou pela primeira vez o projeto de atrelar a educação financeira a taxas de juros menores em audiência pública no Congresso na semana passada. Na ocasião, ele disse que a ideia era interessante para os bancos, uma vez que a educação financeira contribui para a queda da inadimplência, e também para as famílias, que passam a ter instrumentos para se planejar melhor.

“O nível baixo de educação financeira leva as pessoas a consumirem produtos financeiros errados e a um planejamento financeiro errado. Isso gera um problema enorme de consumo, de estabilidade e de alocação de recursos”, afirmou o presidente do BC.

Segundo Moura, o Banco Central não vai editar normas regulamentando o projeto. “Tem de ser alguma coisa feita em parceria com o sistema financeiro, que vai ter um amadurecimento a partir da motivação do Banco Central”, afirmou. A ideia é que a realização dos cursos favoreça o score (a classificação) de crédito dos tomadores. Ele também faz a comparação com os programas de milhagem. Os clientes poderão acumular pontos na medida em que realizem diferentes cursos, e isso se traduzirá em taxas de juros menores.

A ideia do projeto, segundo Moura, foi trazida por Campos Neto sob a inspiração de programas similares adotados na Malásia e em outros países do Sudeste Asiático. Mas o diretor frisa que os bancos que operam no país terão de construir um modelo próprio, adaptado às particularidades dos brasileiros e do sistema financeiro nacional. Procurada pela reportagem, a Febraban afirmou que, como o programa ainda está em discussão no Banco Central, não comentaria.

Em outras frentes, o Banco Central também quer estabelecer ações de educação financeira voltadas para os superendividados e para o público de baixa renda que já têm relacionamento com o sistema financeiro. No primeiro caso, o BC quer chegar, até o fim do ano, a uma definição mais estrita do que seja um “superendividado”. O objetivo é definir um conceito mensurável, que permita à autarquia depois medir a efetividade de ações tomadas para reduzir o problema.

Para o público de baixa renda que recebe benefícios e pagamentos em depósitos bancários, o BC estuda ações para estreitar o relacionamento dos correntistas com as instituições financeiras. “Se o sistema financeiro for capaz de desenvolver produtos focados nesse público – e o microcrédito é um dos grandes exemplos – eu posso dar a eles mais do que simplesmente um pagamento todo mês, eu posso dar a eles a possibilidade de avançar em ter produtividade em seus negócios próprios”, afirmou Moura.

 Na semana passada, o BC também lançou um programa de educação financeira nas escolas.

Fonte: Valor Econômico