Itaú alonga prazos e dá carência de 6 meses

Plano do banco para travessia da crise também prevê uso mais flexível de garantias por empresas

O Itaú Unibanco vai ampliar para até 120 dias a carência nas prestações de contratos de crédito de pessoas físicas e para até 180 dias no caso de pequenas e médias empresas. Os prazos de pagamento poderão ser alongados para seis anos ou cinco anos, respectivamente, sem alteração da taxa de juros. As medidas fazem parte de um plano anunciado na noite de ontem pelo banco e detalhado com exclusividade para o Valor.

A instituição também irá ofertar crédito novo para cerca de 8 milhões de pessoas físicas e companhias com faturamento anual inferior a R$ 30 milhões, dependendo do risco dos tomadores. Nesses casos, serão priorizadas linhas com garantia em ativos reais (como imóveis e veículos) e recebíveis, além do consignado.

Com as iniciativas, o banco reforça seu arsenal contra a crise do coronavírus. Conceder prazos mais longos ajuda a dar fôlego para os clientes e, ao mesmo tempo, é positivo para o balanço porque amortece a onda de calotes que o cenário recessivo trará.

“O que pensamos foi como estruturar condições que permitam aos clientes, daqui a alguns meses, fazer pagamentos de forma sustentável”, afirma André Rodrigues, diretor-executivo responsável pelo banco de varejo do Itaú. “Não adianta só empurrar o problema para a frente.”

As medidas têm alcance para um contingente de aproximadamente 20 milhões de clientes e uma carteira de R$ 140 bilhões. É preciso estar adimplente para ter acesso às novas condições, mas o banco também renegociará dívidas de quem estiver em atraso.

O Itaú já havia aderido à prorrogação por 60 dias, adotada pela Febraban em meados de março. “Desde o início, sabíamos que aquele prazo não seria suficiente”, diz Carlos Eduardo Peyser, diretor de franquias e estratégia de pequenas e médias empresas.

No segmento de pessoas físicas, a prorrogação vale para empréstimo pessoal, cheque especial, crédito imobiliário, cartões de crédito e financiamento de veículos. As empresas poderão alongar e obter carência em capital de giro, parcelar o cheque especial e conta garantida.

O trabalho foi desenvolvido nas últimas semanas em uma “sala de guerra” montada para atacar os impactos da pandemia de covid-19. A mesma equipe, formada por 200 funcionários, vinha se debruçando há nove meses sobre um plano de revisão de toda a área de varejo – que agora está em compasso de espera. “Redirecionamos as pessoas para a gestão da crise”, diz Rodrigues.

Os clientes foram agrupados conforme o setor econômico a que estão ligados e a situação de seus pagamentos. Entre as pessoas físicas, a classificação do menor para o maior risco vai de aposentados e pensionistas do INSS – que têm renda assegurada – até clientes que já tinham contratos com atrasos longos. Conforme a escala, as soluções vão da oferta de crédito novo ao reperfilamento de dívidas. No caso de empresas, as medidas foram elaboradas com base no grau de exposição à crise. Cerca de 230 mil companhias, em princípio, poderão obter acesso a empréstimos adicionais.

No início da pandemia, os bancos foram criticados por restringir o crédito e, em alguns casos, cobrar mais caro. As instituições alegaram que uma corrida de grandes empresas por recursos gerou um aperto na liquidez, já normalizado. De lá para cá, vêm adotando iniciativas para melhorar condições de pagamento e se comunicar melhor com os clientes.

A pandemia levou o Itaú a um esforço de proporções inéditas para desenhar o que Rodrigues chama de plano de travessia para o banco e seus clientes. Apesar de serem emergenciais, as medidas deixarão um legado importante na operação, afirma o executivo. Como exemplo, 38% das renegociações passaram a ser feitas por meio de canais digitais, contra 2% antes da pandemia.

O Itaú também destacou parte de sua equipe para pensar no pós-crise, com o desenvolvimento de produtos para quando o país começar a voltar à normalidade – o que inclui acelerar a digitalização. “Vamos manter um time permanente para transformação”, diz Rodrigue.

Fonte: Valor Econômico