Bancos e governo discutem prazo e escopo do crédito à folha

As propostas vêm sendo estudadas a partir da constatação de que houve baixa demanda por parte das pequenas companhias, alvo inicial da modalidade

Os bancos e o governo discutem a possibilidade de ampliar o escopo de companhias que podem solicitar o crédito à folha de pagamento, chegando àquelas que faturam até R$ 30 milhões, e de estender o prazo do programa de dois meses para quatro meses.

As propostas vêm sendo estudadas a partir da constatação de que houve baixa demanda por parte das pequenas companhias, alvo inicial da modalidade.

Caso se chegue a uma decisão, será necessário editar uma nova medida provisória com o novo público-alvo do programa. No formato atual, a linha só pode ser acessada por empresas com faturamento de R$ 360 mil a R$ 10 milhões.

“Já falamos com BNDES e Banco Central sobre estender linha da ‘fopag’ para companhias de até R$ 30 milhões e abaixo de R$ 360 mil. Se não usar tudo, ótimo. Transferimos esses recursos para outras linhas, como o fundo garantidor”, afirmou nesta sexta-feira o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr.

O fundo garantidor a que o executivo se referiu é o FGI, do BNDES. Conforme o Valor já noticiou, existem discussões no Ministério da Economia para usar o fundo para garantir operações de crédito a empresas de médio porte.

A expectativa de Lazari é que, da forma como o programa foi estruturado, serão utilizados entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões dos R$ 40 bilhões reservados para a linha de crédito à folha (que chega a esse valor quando somados os dois meses de financiamento). Na terça-feira, o presidente do Santander, Sérgio Rial, disse que a linha estava com demanda aquém do esperado e estava entre R$ 7 bilhões e R$ 10 bilhões.

Reportagem publicada pelo Valor na segunda-feira mostrou que a procura pela linha está abaixo de R$ 7 bilhões, o que surpreendeu os bancos. Na leitura das instituições financeiras, a medida deixou de fora empresas que precisavam dos recursos (é preciso estar adimplente e não ter pendências com o INSS) e compete com outras iniciativas adotadas pelo governo na crise.

De acordo com o Bradesco, das 54 mil empresas pré-aprovadas pelo banco para obter a linha, apenas 8 mil solicitaram o crédito.

Um executivo que atuou na elaboração do programa afirmou que um dos problemas é que o financiamento da folha é válido por apenas dois meses, prazo pequeno diante da extensão da crise. Ao mesmo tempo, requer do empresário o compromisso de não demitir nesse período.

“O que estamos percebendo é que o pequeno empresariado não está interessado em se comprometer a não demitir para financiar apenas dois meses de folha”, disse. “Na média, o financiamento tem sido de R$ 23 mil, o que parecer ser muito baixo para ter um compromisso da parte dele.”

Em muitos casos, segundo relatos de empresários ouvidos pelo Valor é mais vantajoso suspender os contratos ou reduzir a jornada de trabalho e os salários — já que as lojas estão fechadas.

Um pequeno empresário disse também que, no início da vigência da linha, os bancos privados estavam fazendo exigências maiores para conceder os recursos, enquanto os públicos apresentavam dificuldades operacionais para atender os clientes remotamente.

A linha prevê R$ 40 bilhões divididos em dois meses. O Tesouro entrou com 85% desses recursos e os bancos, com os 15% restantes. A inadimplência também será dividida dessa forma. A taxa de juros é de 3,75% ao ano (ou seja, não há spread) e o prazo de pagamento é de 36 meses, com carência de seis.

Fonte: Valor Econômico