Parcela de famílias endividadas atingiu 66,6% em abril e é a maior desde 2010, quando pesquisa teve início
A parcela de renda mensal das famílias comprometida com dívidas atingiu em abril maior fatia em quase dois anos e meio, em meio ao avanço do coronavírus pelo país. Já o volume de famílias endividadas registrou patamar recorde, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
No levantamento, a parcela de famílias endividadas atingiu 66,6%, maior que março (66,2%), abril de 2019 (62,7%) e recorde da série histórica da pesquisa, iniciada em 2010. A CNC detalhou ainda que em abril 30,1% do orçamento familiar mensal era usado para pagar dívidas. Esse porcentual foi o maior desde novembro de 2017 (30,6%), ante 30% no mês passado e 29,4% em abril de 2019.
Responsável pela pesquisa, a economista da CNC Izis Ferreira não descartou novos aumentos para os próximos meses, tanto no volume de endividados, quanto na parcela de orçamento comprometida com dívidas.
A pesquisadora lembrou do impacto na economia com o avanço da doença: menor ritmo de atividade em praticamente todas os setores da economia e suspensão de turnos de trabalho em algumas áreas, devido à recomendação de menor circulação de pessoas, como forma de prevenir contágio.
Ela observou que, com as ações do governo em prover liquidez na economia nesse período de pandemia, houve maior oferta de crédito para pessoa física – e que isso foi aproveitado pelas famílias. Mas esse movimento, segundo a técnica, não causou piora expressiva em indicadores de inadimplência.
Na pesquisa de abril, entre as famílias endividadas, 25,3% informaram atraso em pagamentos, mesmo percentual de março, mas acima do de abril de 2019 (23,9%). No caso das que não têm condição de pagar, 9,9% informaram estar nessa situação, ante 10,2% em março e 9,5% em abril do ano passado.
“Até o momento, as famílias têm mostrado resiliência em quitar dívidas”, disse Izis. Ao mesmo tempo, o cenário de inflação baixa confere maior folga no orçamento familiar, lembrou ela.
Mas o “bom comportamento” da inadimplência pode não prosseguir, segundo a pesquisadora.
Izis defendeu que o governo, entre as medidas de liquidez delineadas para o atual momento, insista em não somente disponibilizar recurso para crédito, como também em melhorar qualidade na captação desses recursos – estimular melhora em condições de rolagem e alongamento de perfil de pagamentos, por exemplo. Isso, segundo ela, elevaria capacidade das famílias em fazer frente a seus compromissos de empréstimo.
“Essas medidas de injeção de liquidez, do governo, de alguma maneira estão surtindo efeito, visto que não notamos uma explosão na inadimplência. Mas isso não significa que não vamos ver piora [em inadimplência] nos próximos meses”, resumiu.
Segundo a pesquisa, o cartão de crédito ainda é a modalidade de crédito mais citadas por endividados (77,6% do total).