Consumidor avalia que atrasar condomínio e mensalidade escolar é mais viável, se for por pouco tempo
Com o anúncio dos grandes bancos brasileiros de que prorrogariam por ao menos dois meses vencimentos de dívidas de seus clientes, os consumidores têm priorizado o pagamento de contas básicas do lar à quitação de dívidas contraídas ou mesmo boletos. É o que aponta pesquisa da Boa Vista, que ouviu cerca de 450 pessoas de todo o Brasil ao longo do mês de abril.
As contas da casa são mencionadas como prioridade por 43% dos entrevistados. Entre os que vão privilegiar essas contas de concessionárias, 72% citam a de luz, seguida por água (63%), TV a cabo/internet (42%) e gás (40%).
Em segundo lugar, com 30% de menção, estão os boletos, sendo que as prioridades são para aluguel e plano de saúde (33% cada). Vêm na sequência condomínio (25%) e educação (19%).
O pagamento do cartão de crédito ficou em terceiro lugar, com 13%. Financiamentos (8%), empréstimos (5%) e crediários (1%) são as contas menos priorizados pelo consumidor neste momento. Para quem dará preferência ao pagamento de financiamentos, as prioridades são as linhas imobiliárias (21%) e de veículos (18%), itens que, em última instância, podem ser tomados.
Flávio Calife, economista da Boa Vista, observa que, quando o birô de crédito faz pesquisas questionando o que o consumidor pretende pagar quando tiver condições, normalmente a primeira obrigação citada é a do cartão de crédito e, quando questionado o que deixaria de pagar primeiro se perdesse renda, as contas do dia a dia costumam ser as mais mencionadas.
Apesar de governos estaduais se articularem para impedir cortes de fornecimento para contas em atraso durante a crise da covid-19 e buscarem ampliar o rol de famílias isentas de certas obrigações, o receio de ficar sem esses serviços em meio à pandemia faz com que brasileiros priorizem esses pagamentos, diz Calife.
“Além disso, são utilidades que estão sendo muito demandadas neste momento e que muitas pessoas precisam para poder trabalhar em casa”, afirma.
No pagamento de boletos como de condomínio ou educação, o entendimento do consumidor costuma ser de que, se atrasar por um período curto, não será despejado ou os filhos expulsos da escola, explica Calife.
Para empréstimos e financiamentos, como grandes bancos se organizaram para oferecer a postergação de parcelas, o cliente tem a percepção de que existem alternativas, diz Calife. “Ele pode tirar essa despesa do caminho momentaneamente, esquecer por cerca de dois meses. Só precisa tomar cuidado para ver se o banco não vai promover mudanças, mexer nas taxas de juros, por exemplo”, afirma o economista.
Em um cenário de queda na renda familiar, os entrevistados indicaram que as prioridades de pagamento seriam mantidas.
No caso de uma eventual perda de emprego por causa da crise, a maioria dos consumidores (41%) diz que seguirá priorizando as contas de concessionárias, seguidas dos boletos (30%), mas, neste cenário, financiamentos (11%) superam ligeiramente o cartão de crédito (10%). “A análise do que pode ser cortado ou repensado é muito pessoal. Cada pessoa tem que olhar suas contas, ver onde pode cortar, o que pode ser estruturado para postergar pagamento”, diz Calife.