Estratégia é investir na parceria com fintechs e empresas de comércio eletrônico
Em meio a um cenário econômico bastante incerto, o Grupo Rendimento preferiu segurar a concessão de crédito, pisando fortemente no freio depois da expansão acelerada de 2019. Enquanto isso, o grupo – que além do banco homônimo tem a corretora de câmbio Cotação e a fintech Agillitas – aposta na prestação de serviços, investindo na parceria com fintechs e empresas de comércio eletrônico, além do bom desempenho de transferências internacionais.
Segundo o diretor-superintendente do grupo, Abramo Douek, o Rendimento tem feito parcerias com uma série de companhias para oferecer serviços de pagamento e transferência. Atualmente são cerca de 30 parcerias ativas e outras 20 em negociação. “Nós já estávamos nos preparando para esse novo modelo financeiro que vai surgir com o Pix [sistema de pagamento instantâneo do Banco Central] e o open banking. Estamos investindo bastante em tecnologia, para digitalizar processos, trazer maior eficiência. Existe um mundo de fintechs aí e muitas delas precisam de um banco parceiro para operar, então a gente se especializou nisso”, conta.
Alexandre Fialho, diretor da corretora de câmbio Cotação, que faz parte do Rendimento, diz que o grupo processa entre 250 mil e 300 mil pagamentos por dia. “Hoje nossa área de pagamentos se estruturou como uma plataforma importante de ‘banking as a service’, um braço financeiro de várias empresas”. Douek acrescenta que as três empresas do grupo têm uma base de clientes grande, mas que de certa forma não era tão explorada. “Agora estamos usando inteligência artificial, de mercado, adquirindo sistemas para impulsionar o cross-selling.”
Para fazer frente a esses investimentos e também a uma recuperação modesta no crédito esperada para o segundo semestre, o Rendimento promoveu um aumento de capital de R$ 70 milhões, mediante a capitalização de lucros, que foi aprovado pelo Banco Central.
O Grupo Rendimento teve lucro de R$ 32,786 milhões no primeiro semestre, com alta anual de 6,3%. O resultado bruto da intermediação financeira caiu 7,6%, a R$ 129,597 milhões. Por outro lado, as receitas de serviços tiveram salto de 102,8%, a R$ 66,533 milhões. O desempenho foi puxado por serviços de compensação, com crescimento de 764,4%, e câmbio, com expansão de 46,8%.
Após crescer sua carteira de crédito em 34,7% em 2019, no primeiro semestre deste ano houve queda de 19,4% sobre dezembro. Douek acredita que deve haver uma melhora, o que faria a carteira terminar o ano estável em relação a 2019. “Nós buscamos reduzir a carteira de crédito em função do momento atual [no primeiro semestre]. A gente acredita que com a melhora no cenário econômico, a tendência é o crédito voltar a subir. A retomada deve demorar um pouco mais que o previsto, deve ficar mais para o ano que vem. Este ano será de ajustes”, comenta.
Na Cotação, a forte queda das atividades de turismo em função da pandemia de coronavírus derrubou as operações de câmbio desse segmento. Nesse contexto, o grupo está investindo em tecnologia para melhorar o atendimento digital e revendo a estrutura física. O número de lojas de câmbio, que chegou a 65 no ano passado, caiu para 30 e ainda pode ter alguma redução residual.
“Apesar de o câmbio turismo ter caído muito, tivemos aumento em remessas, de famílias que têm que manter um estudante no exterior, ou enviam dinheiro para comprar um imóvel. Empresas também, com comércio externo, investimento em maquinário”, conta Fialho. Essa remessas estão crescendo em um ritmo de 15% a 20% este ano.
A Cotação também tem um produto chamado Remessa Cash, que permite enviar e receber dinheiro do exterior sem precisar abrir conta em banco. Fialho conta que muitos imigrantes, como bolivianos e haitianos, usam isso para enviar dinheiro para familiares. Neste ano, o crescimento está entre 20% a 25%.
Outra empresa do grupo, a Agillitas, recebeu autorização do BC para prestar serviços de pagamento relativos à modalidade de emissor de instrumento de pagamento pós-pago. Segundo Douek, a empresa passará a emitir cartão de crédito, com lançamento previsto para o fim do ano. O objetivo é atender clientes que queriam por exemplo parcelar a compra de câmbio no cartão. Assim, a operação deve ser mais focada na base atual de clientes. “Não vamos competir com o Nubank”, conta.