Gestão está otimista com economia e banco também deve recuperar rentabilidade de 2019
O Bradesco prevê voltar neste ano aos níveis de lucro e rentabilidade de antes da pandemia, apoiado na retomada da economia e em medidas de corte de custos. Uma recuperação em “V” parece estar se concretizando para o banco, afastando as incertezas que rondaram o setor em 2020.
O lucro líquido do quarto trimestre, de R$ 6,8 bilhões, superou as projeções de analistas e foi o melhor resultado trimestral da história do banco em termos nominais. O retorno sobre o patrimônio líquido ficou em 20%, aproximando-se dos níveis pré-crise.
No ano passado como um todo, o lucro caiu 24,8%, para R$ 19,458 bilhões. Porém, superou o resultado do Itaú pela primeira vez desde a fusão com o Unibanco, em 2008, o que foi motivo de comemoração na Cidade de Deus. O resultado do concorrente foi de R$ 18,536 bilhões. Há chances de o feito se repetir em 2021, segundo cálculos de analistas com base em estimativas divulgadas pelos bancos.
O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr, demonstrou otimismo com as perspectivas de crescimento econômico e afirmou que o banco está com mais apetite para o crédito. “O aumento de casos [de covid-19] tem trazido novas restrições, mas acredito que os aprendizados nos permitirão menores custos”, disse.
Para o executivo, a vacinação é crucial nesse cenário e, embora a velocidade da imunização ainda deixe a desejar, pelo menos a campanha foi iniciada. “É importante que se consiga andar, independentemente de onde venha a vacina”.
Lazari disse acreditar que, com a mudança de comando no Congresso, a pauta de reformas pode voltar a avançar, outro fator que considera importante para que a retomada da economia seja sustentável. “A gente tem no nosso radar que as novas lideranças vão destravar a agenda de reformas, sobretudo a administrativa, tributária e privatizações”, disse.
A alta da inadimplência esperada no início da crise ainda não veio – terminou o ano em 2,3% – e não deve vir com a intensidade prevista. Com um colchão de provisões reforçado no ano passado, o Bradesco prevê que, daqui para a frente, a constituição de reservas voltará a níveis normais. O banco já vislumbra reforçar linhas mais arriscadas, como crédito pessoal, e retomar empréstimos a grandes empresas, que ficaram em segundo plano em 2020.
O Bradesco também promete uma nova rodada de cortes de custos, depois de ter enxugado as despesas em 5,3% no último ano. Para 2021, a perspectiva é reduzir os gastos entre 1% e 5%, continuando processos de digitalização e racionalização de agências.
Segundo Lazari, serão revistas no mínimo 300 agências, com a conversão em unidades de negócios ou fechamentos. É um ritmo menos intenso que o do ano passado, que atingiu mais de 1 mil unidades. O executivo explicou que a rede foi revisada em grandes corredores, especialmente no Sudeste, e agora esse movimento deve ser concentrado nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. “Não faz mais sentido ter 14 agências na Faria Lima, como o Bradesco tinha.”
Com base no guidance divulgado pelo Bradesco, os analistas do Citi calculam que o lucro do banco este ano pode ficar entre R$ 22 bilhões e R$ 30,5 bilhões. O ponto médio desse intervalo, de R$ 26,25 bilhões, já é acima do registrado em 2019, de R$ 25,88 bilhões. Já os analistas do Safra estimam que o Bradesco pode ter um retorno sobre o patrimônio (ROE) de aproximadamente 18%, não muito distante dos patamares de 2019 (20,6%) e 2018 (19,0%). Como houve um aumento de imposto em relação a 2019, o ROE é afetado. Se não fosse isso, estaria na casa de 20% este ano.
Os analistas do BTG apontam justamente que o lucro do Bradesco vai voltar para os níveis pré-pandemia antes do esperado. “Dado os resultados melhores do que o esperado e o guidance positivo, temos de elevar nossa expectativa de lucro para o Bradesco este ano para a faixa entre R$ 26 bilhões e R$ 27 bilhões, 10% acima do que o nosso modelo indicava”.
Com previsões mais contidas para a margem com clientes (crescimento de 2% a 6%), a receita de tarifas (expansão de 1% a 5%) e o resultado de seguros (2% a 6%), o que vai puxar o resultado do Bradesco este ano será a redução de PDD – que deve cair 39,9%, considerando o ponto médio do guidance – e a queda nas despesas gerais.
Com indicadores confortáveis de capital (13,8% de nível 1) e a expectativa de melhora do lucro este ano, o Bradesco disse que a tendência é elevar o payout. “É bem possível que aumente o payout. Não tem um direcionamento definitivo, mas é o caminho que deve se seguir, óbvio que olhando a evolução da pandemia”, afirmou o diretor de relações com o mercado, Carlos Firetti. Perguntado pelos analistas se a distribuição de resultados poderia ser parecida com 2019, quando chegou a quase 50% do lucro, Lazari afirmou que, se não houver surpresas, o Bradesco vai continuar “pagando o dividendo que sempre pagou”.
O presidente do Bradesco também afirmou que o banco digital Next já tem 4 milhões de clientes e deve chegar ao fim do ano com pelo menos 7 milhões. Assim, dentro de um prazo de mais ou menos dois anos uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da subsidiária seria um caminho natural a ser seguido. Já sobre a Cielo – controlada em parceria com o Banco do Brasil – ele disse que a credenciadora começou a se recuperar e que é extremamente importante para o grupo. “A adquirência faz parte do nosso ‘core business’, é fundamental para termos uma oferta ampla de produtos e serviços.”