O brasileiro está mais endividado. Em 2021 o endividamento das famílias chegou a 70,9%, o que é considerado um recorde. Na comparação com 2020, o crescimento foi de 4,4 pontos porcentuais, o maior aumento registrado nos últimos 11 anos, quando teve início a série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) feita pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). Por traz desse aumento das dívidas está a elevação de mais de 10% na inflação e a consequente perda do poder aquisitivo da população. Todo esse cenário acelera os temores de um risco sistêmico do sistema bancário. Assim, a maior facilidade de acesso ao financiamento para o consumo das famílias se torna um dos principais vetores de aumento desse risco, devido ao aumento da inadimplência. Essa é a conclusão de um relatório elaborado pela XP.
Segundo os dados levantados pela corretora, como o Sistema financeiro Nacional (SFN) é fortemente concentrado em cinco bancos, que respondem por mais de 70% do crédito. Por isso, fica evidente o temor diante dos balanços destas instituições, que passam a fazer maiores provisões com possíveis prejuízos, caso haja problemas de falta de pagamento. O Bradesco, por exemplo, surpreendeu o mercado no início deste ano ao indicar um aumento de quase 30% na provisão para devedores duvidosos. Ou seja, ele já estima um risco mais alto de calote. Em conferência a investidores, o próprio presidente do banco, Octavio de Lazari, afirmou que é intuitivo imaginar que a inadimplência aumente diante do cenário de juros altos. Já o Itaú, outro grande banco, indicou em seu balanço de 2021 que a inadimplência subiu 2,8% no espaço de um ano, para R$ 6,2 bilhões. Dessa forma, as despesas com provisões somaram R$ 6,827 bilhões, com expansão de 21% em um ano.
Para a XP, desde o quarto trimestre de 2021 já se via um aumento nos indicadores de inadimplência da pessoa física em várias instituições. O comprometimento da renda das famílias e nível de endividamento subiram seguidamente e a tendência é continuar assim ainda este ano, em função da alta inflação. Para a corretora, a alta generalizada de preços marcou todo o ano de 2021 e, em 2022, não deve ser diferente, especialmente diante das incertezas em torno da economia em um cenário de ano eleitoral e de inflação global elevada, comprimindo a renda da população em geral.
“Projetamos Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,2% em 2022 e de 3,25% em 2023. Como resultado, esperamos taxa Selic em 12,75% no final do ciclo de ajuste monetário, em junho de 2022, reduzindo para 12,25% em dezembro e 8,0% em 2023”, indicou a XP em seu relatório. Em seu relatório, a XP conclui a situação exige atenção, mas que “o sistema financeiro está capitalizado e com boa liquidez. E as provisões realizadas pelos grandes bancos ao longo do ano devem ser suficientes para continuar acomodando um aumento de inadimplência”.
Fonte: Isto É dinheiro