Empresas estudam como ampliar presença de débito e crédito em áreas como educação e imobiliária
A indústria de cartões de crédito não enxerga como uma ameaça o avanço do Pix, que alcançou 478 milhões de chaves em julho. A visão da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) é que há espaço para o crescimento de todas as formas de pagamento em meios eletrônicos e digitais. Uma das novas apostas é o uso de cartões em segmentos pouco explorados, como educação e imobiliário.
“Como indústria, nosso grande inimigo é o pagamento em dinheiro, em espécie, por questões de segurança e rastreamento. Quanto mais meios eletrônicos a gente tiver, mais a gente acaba contribuindo para formalização da economia, para diminuir uma série de custos do manuseio e transporte do numerário”, afirma Rogério Panca, presidente da Abecs. Na comparação entre o primeiro semestre de 2022 e o mesmo período de 2021, o uso do cartão de crédito cresceu 42,2%. E pela primeira vez, segundo a Abecs, o país registrou cerca de R$ 1 trilhão em pagamentos com cartão de crédito em um período de seis meses.
Entre os serviços, o setor de educação apresentou crescimento de 54,2% no uso de cartões (incluindo crédito, débito e pré-pago), na comparação entre o primeiro semestre de 2022 e o primeiro semestre de 2021. Foi o quarto segmento com maior crescimento. Educação ficou atrás de turismo e entretenimento (106,4%), pedágios e estacionamentos (64,2%), bares e restaurantes (61,5%).
Panca diz que a Abecs está desenvolvendo um estudo para buscar oportunidades de expansão no uso de cartões, nas modalidades crédito e débito, em segmentos ainda pouco explorados na indústria, como educação e setor imobiliário. Segundo o presidente da Abecs, já está em curso a etapa do estudo destinada a ouvir consumidores e estabelecimentos comerciais, além da indústria de cartões, que reúne emissores, adquirentes e as bandeiras. A meta é desenvolver produtos que funcionem para os segmentos analisados.
“Uma das dores que aparece muito forte na educação é a questão dos limites. A maioria dos estudantes e consumidores gostaria de ter limites de crédito específicos para pagar escola e faculdade, despesas com educação”, diz Panca.
Luiz Coimbra, presidente e fundador da Shipay, observa que o Pix vai gerar um desconforto no cartão de crédito, e a indústria terá que buscar evoluções e novos nichos. Coimbra aponta os gamers como um segmento de usuários de cartões de crédito que vem crescendo. “Os jovens gamers representam um segmento pouco explorado ainda. O processo evolutivo é saudável, porque traz inovação e eficiência para bancos, varejo e clientes”, diz Coimbra.
Por suas dimensões continentais, o Brasil ainda oferece oportunidades de expansão para o uso de cartões fora das capitais. Segundo dados divulgados pela Abecs, a participação no valor transacionado por cartões de crédito apresentou um aumento maior no interior do país (44,6%) na comparação com as capitais (40,9%). No total transacionado com cartões, cidades do interior representam 60%.
Marlon Martins, gerente da área de cartões do Ailos, observa que o Brasil tem um contingente muito grande de desbancarizados, o que representa uma oportunidade para o crescimento do cartão de crédito. Com atuação no Sul do país, o Ailos, sistema de cooperativas de crédito com mais de 1,4 milhão de cooperados, tem registrado aumento no volume transacionado com cartões acima da média do mercado, segundo Martins.
Fator de atenção constante para a indústria de cartões, a taxa de inadimplência está em 6,3%. Panca considera um patamar ainda controlado, mas observa que emissores de cartão estão mais criteriosos para conceder crédito. “Vamos trabalhar para discriminar melhor o risco do cliente e não incentivar o superendividamento das pessoas, principalmente aquelas que já têm uma condição de dívida mais delicada”, diz Panca.
Com a combinação de taxas de juros em patamares mais altos e a escalada da inflação, Coimbra também observa que a concessão de crédito por emissores de cartões está bem mais criteriosa. Essa condição, diz, torna-se mais latente no caso de fintechs.
Para o gerente da área de cartões do Ailos, a inflação muito alta e taxa Selic recorde trazem um desafio para o controle da inadimplência. “É um ano mais desafiador para a concessão de crédito. Nossa carteira de cartão de crédito está nos níveis de riscos esperados, operação em linha com as expectativas de inadimplência, mas o mercado está desafiando”, afirma Martins.
Fonte: Consumidor Moderno