A Polícia Civil do DF investiga o golpe milionário que foi denunciado por um grupo de 50 pessoas, entre clientes e colaboradores da empresa
Um grupo de 50 pessoas denuncia ter sido vítima de um golpe aplicado por uma empresa de assessoria de crédito do Distrito Federal. Os envolvidos estimam que o prejuízo gire em torno dos R$ 16 milhões. A Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (Corf) investiga o golpe milionário.
A empresa, aberta em fevereiro de 2021, com escritório no Setor Comercial Sul, oferecia serviços de crédito consignado, portabilidade de dívida, refinanciamento de empréstimo, crédito novo e compra de dívida.
Porém, desde novembro, a Unique Assessoria de Crédito deixou de realizar atendimentos e de pagar as parcelas dos clientes, bem como o salário dos colaboradores. Na primeira semana de dezembro, a empresa fechou as portas do escritório sem comunicar a ninguém.
O servidor público Gabriel Domingues, 39 anos, foi um dos clientes prejudicados pelo sumiço repentino da empresa. No ano passado, ele fechou negócio com a Unique, após ser convencido a aceitar uma proposta de redução na parcela do empréstimo consignado que ele havia realizado em um banco.
“Eles me abordaram oferecendo um desconto de R$ 400 na minha parcela, em um contrato de 18 meses. Foram uns 40 dias de negociação. Quando dei por mim, estava assinando um contrato onde eu contraía um novo empréstimo, no valor de R$ 40 mil. Esse empréstimo ia gerar parcelas de R$ 2 mil, que eles iam pagar em 18 meses e acrescentar mais R$ 400 reais”, relata Gabriel.
Envolvido com os serviços da empresa e pela confiança que os funcionários passavam, o servidor fechou outros dois empréstimos neste ano por intermédio do escritório. “Como o primeiro deu certo, acreditei que não teria problema com os outros dois. Contudo, eles começaram a atrasar o pagamento até não pagarem mais nada”, conta.
Segundo o servidor, que teve um prejuízo de R$ 100 mil, ele tentou contato com a empresa diversas vezes, mas nunca era atendido. Até que, no final de novembro, a Unique Assessoria o comunicou de que haveria uma reunião com todos os clientes.
Quando todos os convocados chegaram ao encontro, depararam-se com o escritório de portas fechadas. “Foi aí que começamos a nos articular e descobrir casos mais trágicos. Pessoas que dependiam daquela parcela paga pela empresa que, como eu, aceitaram fechar negócio na promessa de aliviar as dívidas”, relata o servidor.
Por meio do site oficial, a empresa se apresenta como especializada no aconselhamento em decisões de financiamento e investimento.
“Trabalho com honestidade e transparência, com muita responsabilidade ética e confiabilidade para nossos clientes e colaboradores. Uma empresa atuante e reconhecida pelo mercado que fornece aos seus clientes as mais avançadas soluções financeiras, através de um ambiente excelente de trabalho e ótimo retorno financeiro para seus clientes, colaboradores e parceiros”, apresenta-se a Unique.
Porém, quem fechou negócio com a Unique Assessoria discorda que esse seja o tipo de atendimento prestado pelo escritório, como é o caso de outra servidora pública, de 37 anos, que prefere não se identificar.
“Os servidores públicos, no geral, são alvo de importunação dessas assessorias constantemente. Em janeiro deste ano, uma das colaboradoras da empresa, que já era conhecida minha, me ofereceu primeiramente uma proposta de investimento, mas eu não tinha interesse. Eu já estava quitando um empréstimo, mas resolvi fechar o negócio de redução da parcela”, relata a vítima.
A servidora conta que fez dois empréstimos consignados no valor total de R$ 108 mil, para serem pagos em 24 parcelas. “O cliente faz o empréstimo no banco e transfere o dinheiro para a empresa, assinando um contrato no qual a empresa irá pagar as parcelas com uma rentabilidade mensal”, explica.
No caso dela, os problemas com o pagamento começaram em setembro. “No começo, eles ainda pagavam as parcelas, mas começaram a atrasar com a justificativa de que o banco estava apresentando inconstâncias no sistema de pagamento”, relembra.
“É uma situação muito revoltante. A gente conta com o recebimento dessa parcela no fim do mês para pagar aluguel, plano de saúde e outras dívidas”, lamenta a mulher.
Ainda, segundo ela, a pessoa que responde pela empresa é laranja, o que dificulta ainda mais a responsabilização pelo golpe.
Ex-funcionários prejudicados
Uma das ex-colaboradoras alega que até mesmo os então funcionários da Unique foram lesados pela empresa. “Eles fecharam as portas e deixaram as pessoas na mão. Os funcionários não receberam os últimos salários e nem rescisão trabalhista. Desde de julho que eles não pagavam nosso FGTS”, detalha.
“Muitos funcionários eram enganados e realmente faziam investimentos e por isso prospectavam clientes. Esses mesmo estão prejudicados agora, sem salário, sem dinheiro e ajudando os clientes enganados”, lamenta a mulher que prefere não ser identificada.
De acordo com ela, para passar segurança aos clientes, a empresa colocava seguro nos contratos. “Se a empresa viesse a falir ou algo do tipo, o seguro ia assegurar os clientes. Mas esses seguros nunca existiram”, comenta.
O que diz a empresa acusada
Procurada pela reportagem do Metrópoles, por telefone, e-mail e redes sociais, a Unique Assessoria de Crédito informou que após identificar “inconsistências administrativas” iniciou uma reestruturação no quadro de funcionários.
“Tal medida fez-se necessário diante do atual cenário, em que alguns contratos se encontram em atraso. Entretanto, cumpre informar que não estamos diante de um cenário de inadimplemento geral”, explicaram.
A empresa informou ainda que “retornarão à regularidade tão logo seja finalizado o plano de reestruturação”, além de que compreendem “o anseio dos clientes”.
Fonte: Metrópoles