Inadimplência diminui, mas ainda preocupa distribuidoras

Tarifas para o consumidor final devem permanecer elevadas, o que, aliado ao ambiente macroeconômico pouco aquecido pode acender o sinal de atenção

A depender do cenário, as distribuidoras de energia devem ter uma leve melhora no caixa em 2023. A perspectiva de um contexto econômico fácil ainda segue longe no horizonte, mas a menor pressão nas tarifas associada a estratégias de redução da inadimplência e perdas pode tornar o ano menos nebuloso.

Para 2023, o mercado prevê crescimento de 2,7%, mas com tendência de revisão para baixo, frente ao tímido aumento de 1,1% em 2022. Soma-se que os preços da energia elétrica tendem a se manter comportados em 2023, com as hidrelétricas com alto nível de armazenamento, o que deve segurar a bandeira tarifária verde o ano inteiro.

Por outro lado, as empresas precisarão ficar atentas, já que até 2025 as concessionárias estarão com sobreoferta de energia contratada por conta da expansão da geração distribuída e da migração de consumidores para o mercado livre, segundo a Câmara de Comercialização de Energia (CCEE).

O equilíbrio da balança fez com que a agência de classificação de risco Fich Rating colocasse como neutra a perspectiva para o setor em 2023, já que as tarifas continuam elevadas, o que, aliado ao ambiente macroeconômico pouco aquecido pode acender o sinal de atenção em relação ao crescimento da inadimplência.

Ao Valor, o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia (Abradee), Marcos Madureira, diz que as empresas são responsáveis por equacionar 100% do valor das faturas de energia, ou seja, não só a parcela que fica com as empresa – em torno de 20% da conta de luz -, mas também os outros 80% que envolve a compra da energia, pagamento pelo uso do sistema de transmissão e recolhimento de encargos.

“É um desafio que onera as distribuidoras, mas são medidas que precisam ser tomadas principalmente em momentos em que a conta tem um valor mais elevado ou dificuldade de receber os valores, como foi o caso da pandemia de, em que foram impedidas as ações de corte”, explica Madureira.

De fato, o momento já foi pior. Em 2022, parte das empresas precisou de empréstimos para cobrir custos da crise hídrica. A CPFL Energia, por exemplo, teve impacto de R$ 336 milhões de inadimplência em 2021, reflexo direto da escalada de preços de energia e do despacho termelétrico.

Diante disso, a empresa acelerou ações de corte e negativações e protestos realizados, além de tecnologia anti-furtos. Recentemente, a diminuição de 20% na tarifa por conta da redução do ICMS, resultou em queda de 43% na inadimplência no último trimestre.

“Para combater as perdas de energia por fraudes e furtos, temos investido em novas tecnologias. Entre elas, a caixa blindada de medição com medidores inteligentes com gestão de informações, execução de cortes e alarmes à distância”, diz Gustavo Estrella, CEO. “Em uma segunda frente de investimento, temos a regularização de clientes clandestinos, com rede elétrica protegida e anti furto. E, por fim, temos a instalação de conjuntos de medição em grandes clientes.”

O responsável por Mercado da Enel Brasil, Luiz Flavio Xavier, diz que em função dos desafios impostos pela pandemia e pelo cenário econômico no orçamento das famílias, os esforços no relacionamento com os clientes foram concentrados em promover condições facilitadas de pagamento, como parcelamento ampliado, isenção de juros e outras vantagens.

“Entre as ações, realizamos campanhas para negociação de dívidas, feirões presenciais incluindo atendimentos nos fins de semana e o uso de unidades móveis. Como resultado das iniciativas com foco no cliente, registramos um crescimento de 31% no volume de renegociações em nossas distribuidoras (São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará) em comparação ao ano anterior, superando a marca de 2 milhões de acordos fechados”, disse.

Situação similar acontece com os clientes da Energisa. A empresa diz que as distribuidoras do grupo têm ampliado os prazos das campanhas com condições especiais, que tradicionalmente acontecem no meio e no fim de cada ano, e intensificou a busca ativa por famílias aptas a usufruir do benefício da Tarifa Social.

Para Cláudio Brandão Silveira, sócio da BeeCap, com aproximadamente 80% da população endividada, das quais quase 30% inadimplentes, as contas de serviços essenciais estão entre as últimas a serem sacrificadas. Entretanto, quando isso acontece, é preciso recuperar os clientes.

“Na visão da concessionária, há o esforço para a recuperação do crédito inadimplido, mas também a preocupação com a próxima conta a ser emitida, que provavelmente acumulará, a menos que uma solução para o estoque da dívida desse cliente seja implementada. Por mais eficiente que a concessionária seja no exercício da prerrogativa do corte na prestação do serviço não pago, a situação não resolvida traz adoção de mecanismos ilegais por parcela grande de consumidores, com consequências danosas para as empresas e para outros consumidores.”

Fonte: Valor Econômico