O Banco do Brasil pretende seguir com a venda de carteiras de crédito de atacado. Mas os próximos passos nessa direção só serão dados após a avaliação de operação feita com a Enforce (empresa do BTG Pactual) pelos órgãos de controle (TCU e Ministério Público), disse ao Valor o vice-presidente de controles internos e gestão de riscos do BB, Carlos Bonetti.
O executivo mostrou-se convicto de que a venda de carteira de crédito para a Enforce por R$ 371 milhões, montante equivalente a 12,8% do seu valor de face, hoje em R$ 2,9 bilhões, foi extremamente vantajosa para o BB. A operação, contudo, vem sendo contestada por diversos políticos de oposição e com forte movimento nas redes sociais. No sábado, o PSOL entrou com pedido de investigação no Ministério Público Federal.
Bonetti argumentou que o montante pago ficou acima do esperado pelo banco público, que trabalhava com uma projeção de 7,5% do valor de face, e acima também do preço de referência desse mercado, de 5,7%. “E teremos o rateio de 25% do que a empresa recuperar ao longo do tempo. Com isso, nossa expectativa é ter um retorno de 15,7%”, disse.
Segundo o vice-presidente, a carteira reunia ativos sem pagamento há mais de cinco anos e era quase toda composta por créditos que, dada a dificuldade de recuperação, já tinham sido “lançados a prejuízo”, ou seja, retirados do balanço. “Havia 2,9%, R$ 61 milhões ainda ativados no balanço e provisão de R$ 56 milhões. Todo o resto era de crédito podre.”
Bonetti destacou que o banco, com a venda, pode reverter essa provisão (reserva que fica parada para cobrir perdas), liberando mais recursos para operações novas. Além disso, os R$ 371 milhões recebidos também serão direcionados para novos financiamentos. Considerando que o capital pode ser alavancado, a operação representa um potencial de novos créditos de quase R$ 4 bilhões.
Ele lembrou ainda que o tempo de recuperação de parte desses créditos seria de 8 a 12 anos, e que os valores a serem retomados, mesmo com garantia, seriam bem inferiores ao preço da carteira — além do capital que fica parado banco, o que se reverteu agora.
O executivo garantiu que o Ministério da Economia não ficou sabendo da operação antes e a ação não teve qualquer interferência de Paulo Guedes, cujo passado no BTG tem sido levantado por aqueles que atacam a operação. “Não houve qualquer pedido e não demos conhecimento dessa operação.”
Bonetti, aliás, destacou que a venda sequer precisaria ser comunicada ao mercado, porém o banco o fez por ser a primeira vez que estava fazendo com carteira de atacado. Sobre a seleção dos concorrentes, ele explicou que o caminho adotado de convidar as empresas é permitido ao banco pelo TCU e que, dado o tamanho da operação e da necessidade de pagamento à vista, foram chamadas apenas as companhias que teriam a capacidade de pagar à vista o elevado montante previsto. “São poucas as empresas que têm esse potencial. E como tem o compartilhamento de resultado, preciso ter confiança que a empresa poderá honrar. Mandamos o convite para todas que tinham condição”, disse.
Ele informou que, das quatro participantes, não quiseram apresentar proposta a Ativos, do próprio BB, alegando que não trabalha com atacado, e a Canvas. Somente a Jive e a Enforce apresentaram proposta. “A proposta da Jive foi menor do que a Enforce”, disse, sem informar qual o valor.
Fonte: Valor Economico