Executivos do setor preveem que o volume de ativos cedidos por bancos e varejistas, que costuma ficar entre R$ 30 bilhões e R$ 35 bilhões, pode até dobrar
Empresas de recuperação de crédito preveem um salto no total de carteiras colocadas à venda no mercado em 2021, quando a inadimplência tende a subir. Executivos do setor preveem que o volume de ativos cedidos por bancos e varejistas, que costuma ficar entre R$ 30 bilhões e R$ 35 bilhões, pode até dobrar.
A perspectiva de mais negócios atrai novos competidores. A europeia Intrum, que já vinha atuando no Brasil na recuperação de créditos imobiliários, vai entrar na disputa por operações no mercado de consumo. A companhia lançou um piloto nessa área e reservou € 20 milhões para a compra de carteiras no país no próximo ano.
“O crédito imobiliário não deve sofrer tanto porque tem taxas mais baixas e é de longo prazo. Mas a inadimplência nas linhas mais ligadas a consumo, como cartão e cheque especial, vai aumentar”, diz Ulisses Rodrigues, contratado para comandar a Intrum Brasil. “É nisso que a gente vai focar.”
A unidade brasileira, que tem cerca de R$ 2 bilhões sob gestão, é a primeira da Intrum fora da Europa. Ainda que o mercado local de recuperação de crédito seja pequeno, a escala e os retornos oferecidos no país são atrativos, segundo o executivo. “A grande massa de devedores está na parte de baixo da pirâmide. Quando parar o pagamento do auxílio emergencial, [a inadimplência] vai explodir.”
Os bancos esperam um aumento das operações em atraso entre o fim deste ano e o começo do próximo – à medida que as prorrogações de contratos oferecidas aos clientes forem encerradas – e já constituíram provisões para se proteger. “O orçamento de 2021 vai ser mais difícil para os bancos”, afirma Alexandre Nobre, sócio da RCB.
De acordo com o executivo, as vendas de carteiras pelas instituições financeiras estão represadas por causa da crise e é possível que terminem este ano muito abaixo do patamar habitual. “Se chegarem a R$ 12 bilhões, é muito.”
Embora os bancos sejam os vendedores mais tradicionais de carteiras em atraso, a crise tem levado companhias de outros setores a cogitar essa possibilidade. “As empresas têm ativos para oferecer e precisam de caixa”, diz o presidente da Recovery, Wagner Sanches.
De acordo com o executivo, houve aumento de quatro vezes no número de companhias procurando a Recovery nos últimos meses para falar sobre vendas de carteiras. Entre elas, estão bancos digitais e varejistas, mas também nomes de segmentos menos tradicionais nesse mercado – como companhias de educação e de serviços.
Sanches estima em quase R$ 1 trilhão o volume de ativos em atraso nos bancos e em companhias não financeiras. No Brasil, apenas uma fração disso é oferecida ao mercado, mas o executivo avalia que a pandemia levará a uma mudança de comportamento, já que as empresas precisarão manter o foco em suas atividades principais para sair da crise.
No setor financeiro, a expectativa é que os bancos digitais comecem a negociar no mercado suas carteiras em atraso e que os bancos de médio porte coloquem à venda operações de pequenas empresas, atingidas pela crise.
Embora os grandes bancos sejam controladores das principais empresas de recuperação de crédito, algumas instituições financeiras também optaram por reforçar suas áreas internas de cobrança. O Itaú Unibanco, dono da Recovery, anunciou em junho a criação de uma diretoria-executiva de crédito e cobrança, comanda por Marcos Magalhães, ex-presidente da Rede.
Fonte: Valor Economico