Citi se posiciona em meio à pandemia e vê crescimento acima do mercado

Em um ano marcado pela crise trazida pela pandemia, o Citi Brasil viu seus negócios crescerem, após aparar as arestas de seu reposicionamento no País, com a venda de suas operações de varejo ao Itaú Unibanco. Os planos de crescimento traçados para a unidade não só foram mantidos com a pandemia, como acelerados. Com o cenário inédito dos juros reais próximos a zero, o Citi prevê contratações em algumas áreas, como a ligada ao mercado de capitais, diante do aumento exponencial do número de operações.

“Aceleramos nossa estratégia, com o crescimento maior do que o projetado. Estamos executando 10 IPOs (ofertas iniciais de ações) e há uma série de outras operações no ‘pipeline’”, disse o presidente do Citi no Brasil, Marcelo Marangon, em entrevista ao Broadcast. “Aceleramos o negócio de mercado de capitais, que está bem posicionado e estamos antecipando investimentos.”

A carteira de crédito expandida do Citi cresceu 45% em um ano, para R$ 30,885 bilhões no fim de junho. Já os ativos totais subiram 43% para R$ 112,888 bilhões no mesmo intervalo. Na pandemia, os bancos tiveram acesso ao “funding” com o chamado “flight to quality” – a migração de recursos de investidores para ativos que consideram mais seguros. Os depósitos na primeira metade do ano subiram 70% na relação anual para R$ 29,4 bilhões.

O crescimento vem acontecendo nas três áreas de negócios do banco norte-americano no Brasil: o comercial, o corporate e o private banking, única área para pessoas físicas por aqui, mas voltada aos endinheirados. Filão de mercado bastante disputado no Brasil, o segmento private tem crescido no ambiente de juros baixos, que vem empurrando os investidores na busca por mais diversificação, incluindo regional. Segundo Marangon, o Citi tem como diferencial para avançar e ganhar participação de mercado plataforma global, que coloca na prateleira aos clientes produtos mais sofisticados para essa diversificação.

Marangon afirma que o fato do banco ter presença global, em 98 países, ajudou a estar preparada para enfrentar os desafios da pandemia. Antes mesmo da Organização Mundial da Saúde declarar o surto como pandemia, o Citi já tinha se preparado para o home office e colocou 98% de seu quadro para trabalhar à distância. Nesse período, apenas 40 pessoas foram ao escritório, sendo Marangon uma delas.

Além de colocar da segurança dos funcionários, o Citi estabeleceu como pilares o suporte aos clientes e o impulso à concessão de crédito. No início da pandemia, as companhias promoveram uma verdadeira corrida em busca de liquidez, dada a falta de visibilidade em relação à crise. Passados seis meses, os clientes estão antecipando o pagamento e devolvendo as linhas de crédito rotativa, sacadas como precaução. Outro pilar, ainda no ambiente de crise, foi o de intensificar doações.

“Fizemos uma política conservadora de crédito e as provisões são mais do que suficientes. Nossa carteira de crédito se mostrou bastante resiliente”, diz Marangon. As provisões para perdas associadas ao risco de crédito subiram 145% em um ano para R$ 619 milhões no fim do primeiro semestre. Por conta desse maior colchão contra perdas por conta da pandemia, o ganho no período foi menor: o lucro líquido recorrente somou R$ 757 milhões na primeira metade do ano, queda de 5% em relação ao mesmo período do ano passado.

O índice de Basileia do Citi Brasil fechou o primeiro semestre em 17,3%, leve aumento de 0,1 ponto porcentual ante mesmo período de 2019. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROAE) caiu de 17,5% em junho do ano passado para 15,4% no fim do segundo trimestre. O patrimônio líquido do banco no fim de junho estava em R$ 10,059 bilhões, aumento de 10% em 12 meses.

Marangon credita à critérios robustos de análise ligada à temática ASG – ambiental, social e de governança – o fato da carteira do crédito do Citi ser resiliente. “Temos uma metodologia bastante severa. Esses princípios já fazem parte do dia a dia do banco e da gestão do negócio há muito tempo”, afirma.

Para pavimentar o caminho do crescimento com retomada, o País precisará voltar à trajetória de disciplina fiscal, diz ele. “É preciso um reequilíbrio das contas e manutenção do teto de gastos”, afirma Marangon. Segundo ele, são esses pontos que os investidores estrangeiros estão olhando com lupa, e que devem ser o gatilho para o fluxo de capital estrangeiro retornar ao País. “Essa confiança trará ao Brasil investimento de longo prazo”, diz.

Fonte: Estadão