Banco fez novo reforço em provisões no terceiro trimestre
O Bradesco voltou a adotar postura conservadora diante das incertezas sobre a evolução da crise. O segundo banco privado do país fez, no terceiro trimestre, mais um reforço em suas provisões contra perdas no crédito, apontando um “cenário de aumento da inadimplência em 2021”.
A nova rodada de provisões foi de R$ 2,6 bilhões – inferior ao patamar do primeiro e do segundo trimestres, quando foram constituídos, respectivamente, R$ 2,7 bilhões e R$ 3,8 bilhões. Ainda assim, contribuiu para elevar o índice de cobertura para 398,2%, o maior da história do Bradesco. O indicador mede a relação entre as reservas contra devedores duvidosos e o saldo da carteira com atraso superior a 90 dias.
Na véspera, o presidente do Santander, Sérgio Rial, afirmou não haver necessidade de seu banco fazer novas provisões por enquanto, e manifestou otimismo com a recuperação da atividade econômica no país.
O tom do Bradesco também não é pessimista. No entanto, o presidente do banco, Octavio de Lazari Jr., recorreu a uma nova letra para descrever o que vê adiante. Para ele, a retomada terá formato de “K”, com a maioria dos setores se recuperando rapidamente, em “V”, e outros com mais dificuldades. “Isso pode mudar para melhor caso as reformas ganhem tração depois das eleições municipais”, afirmou, por meio de nota.
Segundo Lazari, o balanço do terceiro trimestre trouxe “os primeiros sinais de reencontro com a normalidade”. O Bradesco reportou lucro líquido recorrente de R$ 5,031 bilhões entre julho e setembro, com queda de 23,1% em relação ao mesmo período do ano passado. Na comparação com o segundo trimestre, houve aumento de 29,9%.
A margem financeira total ficou em R$ 15,288 bilhões, o que representa alta de 3,5% em relação ao terceiro trimestre do ano passado e um recuo de 8,4% frente aos três meses imediatamente anteriores. Prorrogações de pagamentos, redução de spreads e a queda da Selic contribuíram para pressionar o resultado na comparação trimestral.
O Bradesco fechou setembro com R$ 664,414 bilhões na carteira de crédito, o que representa alta de 0,5% em três meses e de 11,7% em um ano. Cartões e financiamento imobiliário foram os destaques do segmento de pessoas físicas. Nas linhas de empresas, o maior impulso veio de capital de giro.
A inadimplência caiu de 3% em junho para 2,3% em setembro. O indicador ficou abaixo também dos 3,6% apontados no fim do terceiro trimestre de 2019. A redução nos atrasos acima de 90 dias reflete, em parte, as prorrogações de pagamentos oferecidas aos clientes durante a crise. A inadimplência de curto prazo, que capta atrasos de 15 a 90 dias, caiu de 2,4% para 2,3% em três meses.
O banco informou que, em 23 de outubro, a carteira de créditos prorrogados somava R$ 73,5 bilhões. Desse volume, R$ 60,4 bilhões estão com pagamentos em dia e R$ 11,7 bilhões se referem às parcelas em carência. Uma fatia de R$ 1,4 bilhão – ou 1,9% do saldo – apresenta atraso acima de 30 dias. Do total prorrogado, 70% são operações com garantia real.
Enquanto tenta se proteger do aumento da inadimplência, o Bradesco prepara medidas para reduzir custos. O banco fechou 372 agências no terceiro trimestre, depois de já ter encerrado 311 unidades na primeira metade do ano. A instituição provisionou R$ 483 milhões, entre julho e setembro, relativos a uma reestruturação na rede de atendimento. O banco também começou a fazer demissões. Foram 853 cortes no terceiro trimestre.
As despesas operacionais totalizaram R$ 11,724 bilhões entre julho e setembro, com alta de 2,3% em relação ao segundo trimestre e queda de 5,7% na comparação com o terceiro trimestre de 2019. As receitas de serviços somaram R$ 8,121 bilhões, com alta de 6,5% no trimestre, refletindo a reabertura gradual da economia. Houve queda de 3,6% frente ao mesmo período do ano passado.
O resultado das operações de seguros, previdência e capitalização ficou em R$ 3,131 bilhões no terceiro trimestre, com queda de 17,1% em relação ao segundo trimestre e de 9,8% na comparação com o mesmo período de 2019.