Novo presidente do BB tira foco da venda de ativos

Brandão reforçou a necessidade de buscar parcerias e melhorar a experiência do cliente, assim como deixou claro que não quer mais perder participação de mercado no agronegócio

Com menos de dois meses no cargo, o novo presidente do Banco do Brasil, André Brandão, adotou uma postura bastante diferente do seu antecessor, Rubem Novaes. Em vez indicar a possibilidade de acelerar o plano de venda de ativos do banco, considerado prioritário pela equipe econômica desde o início deste governo, Brandão reforçou a necessidade de buscar parcerias e melhorar a experiência do cliente. Também deixou claro que não quer mais perder participação de mercado no agronegócio, em que vê oportunidades de expansão para além do crédito tradicional.

Em sua primeira coletiva de imprensa, para comentar os resultados do terceiro trimestre, Brandão foi questionado sobre as vendas de ativos, mas tergiversou e disse que o foco é melhorar a experiência do cliente. Três meses antes, Novaes, que já estava de saída do cargo, havia surpreendido na coletiva de resultados do segundo trimestre, ao falar em “destrinchar” as operações de cartões, inclusive com a possibilidade de “separar alguns negócios”. Já Brandão assumiu outro tom. “A gente vai olhar parcerias, mas vai tirar essa dinâmica de que é só venda de ativos.”

O executivo disse que 2020 é um ano atípico, com impactos que precisam ser absorvidos e lições, aprendidas. Segundo ele, na pandemia o BB ganho 3,8 milhões de clientes digitais e uma das principais preocupações é como atender o cliente melhor. “Não são palavras ao vento, é como podemos competir num mundo novo, não só com bancos, mas fintechs. É o centro de tudo o que discutimos aqui, como vamos lidar com isso. Estamos imbuídos, mas envolve o digital e também cultura, olhar os problemas.”

O BB anunciou uma reorganização institucional, que vincula a ouvidoria externa diretamente à presidência, ampliando seu escopo para aprimorar o acompanhamento do nível de satisfação e fidelidade dos clientes. Além disso, as diretorias de soluções empresariais, meios de pagamento e de produtos pessoa física serão convertidas em duas diretorias, focadas em crédito e serviços, enquanto que a unidade de operações será transformada em diretoria.

No terceiro trimestre, o banco obteve lucro líquido ajustado de R$ 3,482 bilhões, queda de 23,3% em relação ao mesmo período do ano anterior e alta de 5,2% ante o segundo trimestre. A margem financeira bruta cresceu 3,4% na comparação anual, para R$ 14,017 bilhões. Em relação ao segundo trimestre, recuou 3,6%.

A carteira de crédito teve expansão de 1,2% em três meses e de 6,4% em 12 meses, chegando a R$ 730,945 bilhões. A inadimplência ficou em 2,43% em setembro, abaixo dos 2,84% em junho. Enquanto isso, as despesas com provisões para créditos de liquidação duvidosa atingiram R$ 5,508 bilhões, com alta de 40,5% em relação ao terceiro trimestre do ano passado e queda de 6,8% na comparação com o trimestre imediatamente anterior.

Brandão afirmou que o balanço do BB é conservador, o que é bom porque dá resiliência aos resultados, mas também tem um efeito colateral, que é uma rentabilidade menor do que os pares privados. Nesse sentido, disse que há diversas áreas onde o banco pode crescer, inclusive no chamado “mar aberto”, ou seja, com a oferta de produtos e serviços para não correntistas. Isso vale também para as dezenas de milhões de pessoas que foram incluídas financeiramente em função dos programas emergenciais do governo.

Está nos planos do banco oferecer crédito pessoal, consignado e seguros a pessoas físicas sem que seja necessário o cliente abrir uma conta. De acordo com Brandão, “há apetite e capital para tomar um pouco mais de risco”. E uma das formas de fazer isso sem elevar substancialmente o risco é oferecer crédito consignado em parceria com grandes clientes da área de atacado. “Existe a intenção de aumentar a rentabilidade por essa linha de aumento de receitas em áreas em que a gente é um pouco inferior aos competidores”, disse.

O vice-presidente de negócios de varejo, Carlos Motta, acrescentou que o banco pretende capturar novos clientes também por meio de sua carteira digital. Um projeto piloto deve ser lançado para os mesários agora na eleição municipal.

No agronegócio, Brandão elencou como possíveis novas áreas de atuação a de seguros para cooperativas e consórcio de grandes máquinas. “Não quero mais ver a gente perder market share em agro”, disse.

Ele também ressaltou a importância de parcerias. A joint venture com o UBS em banco de investimento, que já está em vigor, deve ajudar o BB a ganhar participação maior nos mercados de capitais, em que essa parcela ainda é pequena. Já na BB DTVM, ele comentou que uma eventual parceria nos mesmos moldes poderia ajudar a acelerar a construção de uma estrutura mais adequada para melhor servir os clientes.

O BB ainda não tem um guidance formal para 2021, mas a tendência, segundo Carlos Hamilton Araújo, vice-presidente de gestão financeira, é crescimento do lucro ajustado; expansão do crédito com foco em linhas mais rentáveis; redução de provisões para devedores duvidosos; diminuição das despesas; e receita com prestação de serviços ainda pressionada.

Hamilton explicou que as despesas estão sob controle e devem ter recuo nominal em 2020. “Lançamos ações em três frentes: pessoal, imóvel e energia. Isto deve gerar uma economia R$ 3,3 bilhões em cinco anos. Estamos colhendo pequenos frutos agora, mas ainda há bastante por vir nos próximos anos”, disse.

Para analistas, o balanço do BB veio em linha com o esperado. O BTG só ressalta que, diferentemente dos pares privados, as despesas com provisões foram maiores do que previam. Outra diferença foi o forte crescimento da carteira renegociada no trimestre, segundo o Safra. A casa aponta que ela passou de R$ 71 bilhões para R$ 109 bilhões, ou quase 17% da carteira total, uma alta significativa, considerando a recuperação econômica.

Fonte: Valor Economico