Parte da rede convencional será trocada por unidades de negócios
O Bradesco mergulhou num processo de redução de custos em meio ao aumento dos riscos e ao projeto de digitalização acelerado pela pandemia. As medidas vão de reformulação da rede de agências até a terceirização de algumas funções. Com as mudanças, o banco espera apresentar uma redução nominal “significativa” das despesas operacionais em 2021, refletindo iniciativas adotadas neste ano. “Cortamos o mato alto e agora vamos entrar no detalhe de cada área”, afirmou ontem o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr.
A instituição já vinha num processo de revisão de despesas, mas os meses de isolamento social reforçaram o comportamento digital dos clientes, permitindo que o banco se concentrasse num de seus principais custos: a rede física. O Bradesco informou que reduzirá sua rede de agências em 1,1 mil unidades neste ano, num movimento já em curso. Desse total, 400 baixarão as portas efetivamente e 700 serão convertidas em unidades de negócio. Nelas, não há caixa nem são realizadas transações, e por isso o custo de operação é cerca de 30% inferior ao de uma agência – onde é preciso, por exemplo, manter vigilantes o tempo todo.
Outras instituições, como Banco do Brasil e Santander, também vêm apostando no modelo de lojas para reduzir os custos associados à rede física. O Bradesco encerrou setembro com 3.795 agências e 5.384 postos de atendimento.
Esse não é o único passo dado. O banco também está revendo sua base de prédios administrativos, impulsionado pelos resultados obtidos com o home office. Nos últimos meses, o banco liberou 9 dos 11 prédios que ocupava em Curitiba, vindos com o HSBC. Ao mesmo tempo, algumas áreas podem passar por uma terceirização maior, caso das centrais de atendimento. Parte dos funcionários também continuará trabalhando remotamente após a pandemia. “Você deixa de precisar de um prédio que comporte 2 mil pessoas. Imagine quanto tem de redução de água, energia e impostos”, disse Lazari.
Por conta dos ajustes, o Bradesco fez uma provisão não recorrente de R$ 879 milhões no terceiro trimestre para abrigar gastos que terá com rescisões de contratos de aluguel, mudanças na infraestrutura e outros. Líquido de impostos, esse montante teve um impacto de R$ 483 milhões no resultado societário.
O banco também enxugou o quadro de funcionários, que no fim de setembro somava 95.934 pessoas. Os desligamentos envolveram 1.395 colaboradores do início do ano até o fim de setembro. Lazari atribuiu o movimento à rotatividade natural e disse que, nesse processo, parte das vagas não tem sido reposta. No entanto, o Bradesco também fez demissões, conforme já noticiou o Valor.
Segundo Lazari, a redução de despesas é necessária para adequar o tamanho do banco à nova realidade de competição e ao ambiente econômico ainda difícil. Mas, o executivo disse vislumbrar uma melhora na atividade em 2021 e, embora a tendência seja de alta da inadimplência, espera que ela fique aquém do patamar visto na última crise.
O presidente do Bradesco acredita que não serão necessárias mais provisões contra perdas no crédito, depois de o banco ter feito novo reforço de R$ 2,6 bilhões no terceiro trimestre. “Obviamente, que uma segunda onda [da pandemia] pode afetar o Brasil, o problema fiscal afeta o Brasil e estamos inseridos nesse cenário”, ponderou, deixando a porta aberta para ajustes se necessário.
No cenário traçado pelo banco, a inadimplência começará a subir no primeiro trimestre de 2021, podendo escalar gradualmente até setembro. A amplitude vai depender de diversos fatores, como uma vacina contra o coronavírus. “Quem não reforçou provisões vai ter de fazer. Com 14 milhões de desempregados, há perda natural.”
Por enquanto, os indicadores são bons. Lazari afirmou que a procura por prorrogações de contratos de crédito praticamente não existe mais – foi de apenas R$ 1 bilhão em setembro. A carteira prorrogada atualmente soma R$ 73,5 bilhões. Segundo ele, as pessoas consumiram menos e pouparam mais durante a pandemia, ajudando a honrar os compromissos.
A expectativa do Bradesco é que, no próximo ano, o banco consiga voltar a apresentar resultados mais parecidos com os de 2019. Segundo Lazari, a carteira deve crescer um pouco acima da média do mercado, enquanto a margem financeira ficará um pouco aquém do crescimento da carteira. A receita de tarifas deve continuar pressionada, mas com a redução nas provisões e os cortes de gastos, a rentabilidade deve melhorar.
No terceiro trimestre, o banco reportou lucro líquido de R$ 5,031 bilhões, queda anual de 23,1%.