Bradesco entra em 2021 com maior apetite de risco para crédito, diz Lazari

Segundo o executivo, alta da inadimplência não veio nem deve vir com a intensidade prevista

Otimista com as perspectivas para o crescimento econômico e o controle da pandemia, o Bradesco entrou em 2021 com maior apetite de risco para o crédito, o que significa disposição de conceder recursos a clientes que antes não seriam atendidos. A mudança também reflete o aprimoramento dos modelos de cálculo de risco do banco.

A alta da inadimplência esperada no início da crise ainda não veio e não deve vir com a intensidade prevista, avalia presidente executivo do Bradesco, Octavio de Lazari Jr.

“Quando começou a pandemia, não havia muita visibilidade, então adotamos modelos de crédito mais restritos. Voltamos no quarto trimestre com um modelo aperfeiçoado”, disse nesta quinta-feira, em teleconferência com jornalistas.

Apesar disso, o banco continuará a se concentrar em linhas menos arriscadas, como consignado e financiamento imobiliário e de veículos. Crédito pessoal também está entre as prioridades. No segmento de micro, pequenas e médias empresas, o repasse de linhas oficiais deve permanecer importante para neste ano.

“Começamos a trazer mais gente para as operações, mas priorizando a qualidade dessas linhas”, ponderou o executivo.

O Bradesco também voltará a apostar mais fortemente no crédito a grandes empresas, segmento em que ficou aquém dos concorrentes no ano passado. “Foi proposital. Achamos melhor preservar margem do que crescer muito em grandes companhias. Mas, para 2021, a gente deve retomar um crescimento maior.”

A projeção para este ano é crescer entre 9% e 13% na carteira de crédito. O ponto médio do guidance, de 11%, sugere um desempenho um pouco mais forte que o de 2020, quando a alta foi de 10,3%.

De acordo com Lazari, a inadimplência começa a dar alguns sinais de alta, que devem ficar mais visíveis a partir do segundo ou terceiro trimestres. Ainda assim, “não em níveis muito maiores que antes da pandemia”, destacou. O cenário, segundo o presidente do banco, leva em conta a continuidade da vacinação e a realização de reformas econômicas.

Ele observa que, em relação ao provisionamento para mitigar os efeitos causados pela pandemia, e que afeta a rentabilidade dos bancos, não há previsão de reversão, de modo que acredita que a posição atual será consumida à medida que é esperado um crescimento da inadimplência nos próximos trimestres. “Fizemos uma provisão bastante acentuada no primeiro trimestre de 2020, porque não tínhamos visibilidade sobre o que ia acontecer. Agora, estamos bem provisionados, voltando à provisão normal [anterior à pandemia]. A expectativa é que não ocorra reversão de provisão”, afirmou.

Em 2020 como um todo, o banco destinou R$ 25,754 bilhões para reforçar suas provisões. Agora, projeta entre R$ 14 bilhões e R$ 17 bilhões em despesas com Provisão de Devedores Duvidosos (PDD) em 2021 – patamar bem mais próximo de níveis históricos.

“A gente tem no radar que as novas lideranças [no Congresso] vão destravar a agenda de reformas, sobretudo administrativa, tributária e privatizações”, disse Lazari. Pare ele, essas reformas “são necessárias”, “vão andar” e trazer “bons presságios”.

Por outro lado, ele avalia que é importante avançar na vacinação da população. “A velocidade da vacinação não é a que gostaríamos, mas começou”, afirmou.

O executivo também ressaltou que, embora o número de casos de covid-19 tenha aumentado neste início de ano, o impacto não deve ser tão grande desta vez graças aos aprendizados que a primeira onda deixou.

Questionado sobre o processo de vacinação dos funcionários do banco, ele afirmou que é de “livre arbítrio” cada um decidir se vacinar ou não, mas que haverá incentivo interno para isso. Ainda assim, o bancos não vai obrigar seus funcionários a tomar a vacina.

Lazari disse também que não há previsão para os funcionários voltarem ao trabalho presencial – 94% da equipe que não faz atendimento está em trabalho remoto.

Ele indicou ainda que o guidance divulgado pelo banco para este ano sugere um retorno (ROE) entre 17% e 18%, levando em conta um crescimento de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB). No quarto trimestre de 2020, a rentabilidade atingiu 20%, voltando aos mesmos patamares observados no ano de 2019 (quando terminou em 20,6%), período que antecedeu a pandemia de covid-19. Em 2020, porém, fechou em 14,8%. “Tivemos um resultado muito bom no quarto trimestre. No nosso guidance em 2021, devemos voltar a patamares [mais próximos] a 2018 e 2019”, apontou.

Despesas operacionais

O presidente do Bradesco apontou como um dos destaques no balanço do quarto trimestre, divulgado na quarta-feira, a redução das despesas operacionais em 2020. “Vamos continuar aproveitando oportunidades de redução de despesas em 2021”, afirmou.

As despesas operacionais totalizam R$ 11,483 bilhões, queda trimestral de 2,1% e anual de 9,3%. Segundo ele, a mudança de estrutura ao longo de 2020 foi mais concentrada no terceiro trimestre e há uma continuidade “natural” ao longo de 2021.

“O trabalho não termina. Fizemos trabalho profundo de estudo. Transformamos agências em unidades de negócios. O backoffice desmaterializou. Também não faz sentido ter agências próximas uma da outra. Na Avenida Faria Lima [na capital paulista] tinha 14 agências, por exemplo”, explica.

Especificamente sobre agências, Lazari afirmou que já fizeram uma revisão da rede em grandes corredores como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiânia, e agora deve ir para Centro Oeste, Nordeste e Norte.

Além disso, o banco irá intensificar a conversão de agências em unidades de negócio. O estudo é que pelo menos 300 podem ser modificadas. “Mas este número pode ser maior”, acrescentou.

Remuneração variável

Segundo o presidente do banco, o Bradesco vai incorporar a satisfação do cliente nas métricas de remuneração variável a partir deste ano, O NPS – indicador usado para mensurar a satisfação – passará a fazer parte das avaliações qualitativas dos funcionários, disse Lazari.

A medida faz parte de um novo modelo de atendimento que será apresentado à rede de gerentes neste mês, batizado de “100%”. O banco também criará o cargo de chief consumer officer para cuidar do relacionamento com clientes.

O programa estabelece que o atendimento passe a ser mais personalizado, com operações mais customizadas e uso de tecnologia.

Fonte: Valor Economico