RIO – Após meses consecutivos de redução no emprego e aumento na busca por uma vaga, o País chegou a um grave cenário no segundo trimestre de 2016: está faltando trabalho para 22,7 milhões de brasileiros. Esse é o total de pessoas desempregadas, subocupadas ou inativas com potencial para trabalhar, segundo os dados da Pesquisa por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
“Os dados confirmam o cenário de um mercado de trabalho deteriorado. Com a piora na atividade econômica, é normal que alguns dos que permanecem empregados fiquem em condições de subocupação mesmo”, avaliou Tiago Barreira, pesquisador em Economia do Trabalho no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Essa população com apetite por maior quantidade e melhor qualidade de trabalho é formada por 11,6 milhões que estão à procura de emprego, mais 4,8 milhões que trabalham menos horas do que gostariam (menos de 40 horas semanais) e outros 6,2 milhões que procuraram emprego e gostariam de trabalhar, mas não poderiam assumir uma vaga, e aqueles que gostariam de trabalhar e estavam disponíveis, mas que não procuraram trabalho.
“Inclui grávidas, gente que está cuidando da mãe, que está estudando para concurso”, explicou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. “As pessoas querem trabalhar. ”
Esse montante alcança 13,6% dos 166,3 milhões de brasileiros em idade de trabalhar (com 14 anos ou mais), como a administradora Andreia Grillo, de 38 anos. Ela parou de trabalhar após o nascimento do primeiro filho, Pietro, hoje com cinco anos. Gerente do setor de almoxarifado de uma loja de moda feminina carioca, ela foi demitida no retorno da licença maternidade e acabou ficando em casa de vez quando engravidou novamente.
Hoje, Andreia ajuda o marido no estabelecimento comercial da família, onde trabalha em torno de 12 horas por semana. Segundo ela, voltar a trabalhar em tempo integral é um objetivo, mas só valeria a pena se encontrasse um emprego com salário de pelo menos R$ 4 mil. “Com menos do que isso vou pagar para trabalhar, porque teria que bancar escola integral para os dois (filhos). Sempre tive vontade de voltar, mas com a crise está mais difícil. ”
Na ponta do lápis. A ex-bancária Patricia Gonzaga, de 45 anos, gostaria de voltar a ter um emprego, mas não procura uma vaga porque dedica seu tempo a cuidar da mãe doente e não acredita que conseguiria uma remuneração que viabilizasse seu retorno ao mercado de trabalho formal. Desde que dona Zilda teve uma lesão no sistema nervoso central, há dez anos, a filha abandonou suas atividades profissionais. No ano passado, ela voltou a estudar e deve ser formar como técnica de enfermagem em 2017. A ideia é procurar uma vaga na área, mas Patricia admite que a questão financeira pesa. “O que um técnico ganha é quase o que eu teria de pagar para um cuidador. ”
A taxa da subutilização da força de trabalho cresceu a 20,9% no segundo trimestre de 2016, mesmo patamar do primeiro trimestre de 2012. O resultado vinha mostrando tendência de queda até o terceiro trimestre de 2014. No entanto, houve elevação no total de desempregados, de subocupados e também de inativos com potencial para o trabalho, o que indica aumento no desalento.
Os novos indicadores, que têm como base os dados da Pnad Contínua, foram divulgados pelo IBGE.
Fonte: Estadão