Cresce busca por crédito para negócio próprio

Empreendedorismo por necessidade explica aumento de 11% em pedidos de empréstimo

Solução para muitos em um cenário de desemprego e inflação alta no pós-pandemia, o empreendedorismo tem movimentado também o mercado de crédito. Segundo a plataforma “Bom Pra Crédito”, houve um aumento de 11% nos pedidos de empréstimo para investir no próprio negócio no terceiro trimestre de 2021, em relação ao mesmo período de 2020.

“Há um crescimento na busca de recursos para investir ou iniciar o próprio negócio. Há aspectos macroeconômicos nisso”, avalia Marco Afonso, diretor de marketing e vendas do Bom Pra Crédito.

Durante a pandemia, o número de empreendedores no Brasil subiu drasticamente. Números do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostram que no primeiro semestre de 2021 foram criados 2,1 milhões de pequenos negócios, dado 35% superior ao do mesmo período do ano passado e praticamente o dobro da criação de empresas ao longo de todo o ano de 2015.

Wilson Poit, diretor-superintendente do Sebrae-SP, diz que, apesar da popularização de serviços como Uber, iFood e Rappi, que se tornaram fonte de renda a autônomos em todo o país, a verdadeira “tábua de salvação” para quem fica desempregado acaba sendo a abertura de um negócio.

“Grande parte do nosso público é empreendedor por necessidade. Estamos atendendo a mais de 15 mil pessoas por dia este ano, o que é um recorde histórico”, destaca Poit.

O diretor do Sebrae conta que o caminho mais comum para esse tipo de micro e pequeno empresário é começar o negócio com capital próprio, muitas vezes proveniente de indenizações trabalhistas do emprego anterior, e depois buscar crédito para impulsionar a empresa.

“Nossos campeões de pedidos de orientação aqui são como vender pelo canal digital e como conseguir um microcrédito. O Sebrae não é um banco, mas ajudamos a pessoa a fazer um plano e a ser perseverante quando recebe uma negativa do gerente do banco.”

De acordo com dados do Banco Central, a concessão de crédito a microempresas entrou em uma crescente em 2019 e atingiu seu auge no quarto trimestre do ano passado. Foi quando a concessão de crédito à pessoa jurídica com rendimento bruto anual de até R$ 360 mil atingiu R$ 18,029 bilhões.

Ao longo de todo o ano passado, a concessão de crédito a microempresas totalizou R$ 64,795 bilhões, um crescimento de 12,2% ante 2019.

Já para 2021, a série do BC se limita aos dois primeiros trimestres, que somaram R$ 24,16 bilhões em crédito para microempreendedores, número 19,8% menor que o do mesmo período do ano anterior e mais próximo dos patamares pré-pandemia (3,5% abaixo dos dois primeiros trimestres de 2019).

Marco Afonso acredita que muitas pessoas estão buscando alternativas para complementar a renda em função da redução do poder de compra causada pelo crescimento da inflação.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro mostrou que a inflação acumulada de 2021 está em 6,9% e nos últimos 12 meses chega a 10,25%, maior taxa desde fevereiro de 2016, quando o acumulado em 12 meses bateu 10,36%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Ao mesmo tempo em que os preços sobem, o mercado de trabalho continua desafiador. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua) registrou uma queda do desemprego no trimestre encerrado em agosto de 13,7% para 13,2%, o que, apesar de ser uma boa notícia, ainda representa um contingente de 13,7 milhões de brasileiros desocupados.

Para Marco Afonso, os prognósticos para a obtenção de crédito por microempreendedores em 2022 não são mais fáceis, uma vez que as condições macroeconômicas devem ser piores.

“Esse ciclo de aperto na taxa de juros promovido pelo BC torna o cenário momentaneamente pior”, admite.

Poit, por sua vez, diz que inflação e juros em alta em 2022 formam um cenário que preocupa muito, de modo que o pequeno empresário deve ter atenção redobrada no planejamento do negócio.

“A margem de erro tem que ser reduzida para a menor possível. Mesmo o fim do ano sendo corrido, deve ser uma época de muita atenção às perspectivas para orçamento e receitas das empresas para o ano que vem”, defende.

Fonte: Valor Economico