Segundo o Banco Central, situação deve-se ao maior apetite dos bancos para oferecer linhas com maior risco, combinado com maiores dificuldades das pessoas físicas em pagar as suas faturas
As famílias passaram a tomar linhas de empréstimos mais caras nos bancos nos últimos meses, como cheque especial e cartão de crédito. Enquanto isso, as modalidades mais baratas, como crédito consignado e financiamento de veículos, perderam fôlego.
Essa mudança na composição do crédito, segundo o Banco Central, deve-se ao maior apetite dos bancos para oferecer linhas com maior risco, combinado com maiores dificuldades das pessoas físicas em pagar as suas faturas do cartão de crédito e acessar linhas mais baratas.
Dados divulgados nesta terça-feira (28) pelo Banco Central mostram um avanço em novembro de 13,5% nas concessões acumuladas em 12 meses nas linhas de empréstimos mais caras, incluindo o rotativo e parcelado do cartão de crédito, o cheque especial e o crédito sem consignação em folha de pagamento. Houve uma aceleração importante nessas linhas, que até agosto vinham encolhendo.
Já as modalidades de empréstimos mais baratas tiveram um incremento em novembro de 7,5% nas concessões acumuladas em 12 meses, incluindo o crédito consignado, financiamento de veículos, financiamentos de outros bens e arrendamento mercantil. Em agosto, elas cresciam numa velocidade bem mais forte, de 15,6%.
A inadimplência ficou estável em 2,3% em novembro, pelo sétimo mês seguido. Antes da pandemia, oscilava ao redor de 3%.
O impulso às linhas de maior custo já havia sido destacado pelo Banco Central no seu relatório de inflação deste mês. Dados das concessões dessazonalizadas até outubro mostram que os clientes estavam tomando mais empréstimos em linhas de alto custo, enquanto que as linhas com encargos menores estavam se desacelerando.
O diagnóstico da autoridade monetária é que, em decorrência dos baixos níveis de inadimplência e maiores níveis de provisão contra perdas, as instituições financeiras estão mais dispostas a assumir riscos nas linhas rotativas e sem garantias.
O Relatório de Inflação de dezembro, divulgado há duas semanas, diz que a ampliação dessas linhas mais caras também pode estar refletindo “alguma dificuldade das famílias para pagar as compras com cartão de crédito”.
“Do lado da demanda por crédito, o aumento no uso dessas linhas, em ambiente de taxas de juros crescentes, pode refletir, entre outros fatores, dificuldade de acesso a modalidades de custo mais reduzido”, diz o documento.
No ano passado, houve uma certa estagnação na contratação de operações de cheque especial, coincidindo com a vigência de uma norma do Conselho Monetário Nacional (CMN) que impôs um teto nessas operações. Mais recentemente, a modalidade ganhou impulso. Em novembro, as concessões no cheque especial somaram R$ 34,2 bilhões, ante R$ 25,8 bilhões em novembro de 2020.
O relatório também diz que o alto custo dessas operações mais caras contribui para a “elevação dos níveis de comprometimento de renda das famílias ao longo de 2021, que atingiram níveis próximos aos máximos históricos”.
Segundo o BC, o comprometimento de renda das famílias com o pagamento de dívidas subiu de 22,6% em setembro de 2020 para 26,2% em setembro de 2021. O BC mudou a metodologia de cálculo do indicador, que não incluía a renda dos auxílios pagos pelo governo e retiradas esporádicas, como saques do FGTS. Pela metodologia antiga, o comprometimento de renda estava em 30,15% em agosto.
A busca por linhas mais caras ocorre num ambiente de aumento nas taxas de juros do crédito bancário, que, por sua vez, é causado pelo aperto monetário feito pelo Banco Central para combater a inflação.
Em novembro, os juros médios das operações de crédito com pessoas físicas subiram para 28,2% ao ano, ante 27,2% em outubro, no quarto mês seguido de incremento. Em novembro de 2020, estava em 23,7% ao ano, num período em que o Banco Central mantinha os juros básicos no nível historicamente baixo de 2% ao ano.
O custo das empresas também ficou mais alto, passando de 16,5% ao ano para 17,8% ao ano entre outubro e novembro.
O estoque de crédito na economia subiu 1,8% em novembro ante outubro, para R$ 4,575 trilhões. Também aumentou em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB), de 52,8% para 53,2%. Em 12 meses, o avanço é de 15,6%, mas a projeção do Banco Central é que desacelere em 2022, para 9,4%.
Fonte: Valor Econômico